O que pode acontecer com quem tenta inovar demais na redação?
Saiba o que acontece e veja um exemplo de redação suicida
Conta a lenda que um estudante absolutamente genial tirou nota máxima na redação do vestibular, surpreendendo os avaliadores. Diante de um tema aparentemente ingênuo, como A amizade nos dias de hoje, ele chutou o pau da barraca expondo sua visão de mundo de forma audaciosa, engajada politicamente, transcendente. Enumerou problemas sociais graves e finalizou afirmando que, diante de questões humanas tão cruciais, estava se lixando para o tema quase pueril da amizade. Você já ouviu falar disso? Ou de outro candidato que, em vez de dissertar, como solicitado, poetizou o tema social com muito cuidado, construindo algo tão bom, tão Carlos Drummond de Andrade, que surpreendeu os avaliadores?
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Caro internauta, aceite o conselho de todos os professores e avaliadores: não faça isso! Não faça na prova do Enem, e em nenhum vestibular. Esse tipo de desastre já foi chamado de “redação suicida”. Não fuja do tema, não fuja do gênero solicitado. Veja boas razões para não fazer isso:
– Esse candidato estará se mostrando despreparado.
– Esse candidato estará se revelando um futuro universitário problemático, que não consegue, ou não quer, seguir uma orientação simples, algo fundamental no aprendizado.
– A prova inteira do Enem e dos vestibulares é feita com as mesmas questões e a mesma proposta textual para todos; não há exceção.
– O candidato passará a impressão de estar tentando se diferenciar dos demais vestibulandos do pior modo, como se achasse que é superior por alguma inconfessável razão.
– No caso do gênero trocado, o candidato provará, no máximo, que tem domínio desse outro gênero ou tipo textual, mas os avaliadores não saberão qual o seu domínio do que foi proposto e seu texto ficará fora do universo comparativo com os demais.
– Por fim, provavelmente apenas a banca avaliadora de uma ou outra instituição privada poderia se permitir tal liberdade e dar a nota máxima em um caso assim. Em uma instituição pública, isso pode até gerar até processo judicial de candidatos que não conseguiram uma vaga.
Veja agora exemplo de uma redação suicida do vestibular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), selecionado pelo professor Rogério Chociay no livro Redação no vestibular da Unesp: a dissertação, de 2004. O autor quis inovar, mas só mostrou despreparo.