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Desenhista da Marvel conta como é o trabalho em grandes editoras de histórias em quadrinhos

Por Malú Damázio
Atualizado em 24 fev 2017, 15h39 - Publicado em 29 jan 2015, 19h50

Se você é fã de quadrinhos e de super-heróis deve acompanhar as aventuras dos personagens das duas maiores editoras norte-americanas: a Marvel e a DC Comics. X-Men, Os Vingadores, O Incrível Hulk, Homem-Aranha, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Lanterna Verde são alguns dos protagonistas das revistas em quadrinhos publicadas pelas companhias estadunidenses – muitos deles, inclusive, ganharam seu próprio filme ou desenho animado.

Para criar uma boa história em quadrinhos é preciso, além de um roteiro interessante, desenvolver os personagens. Você já parou para pensar quem desenha os super-heróis que nós conhecemos? O paraibano Mike Deodato Jr. é um desses artistas. O quadrinista já foi responsável por dar forma à Mulher Maravilha (DC) e ao Incrível Hulk (Marvel). Atualmente, é o desenhista oficial dos quadrinhos “Os Vingadores” e “Os Novos Vingadores”, para a Marvel.

(Imagem: Mike Deodato Jr./Arquivo pessoal)

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Mike contou para o Guia do Estudante sua história com os quadrinhos, que se iniciou ainda cedo, quando o desenhista tinha apenas 13 anos e poucos recursos. Ele explica que o mercado atual – tanto o brasileiro, quanto o do exterior – é favorável para os aspirantes a quadrinista. Com a internet, os caça-talentos de companhias grandes já procuram por novos nomes em sites de portfólio. “Hoje há escolas de quadrinhos aos montes e de muito boa qualidade no Brasil. Aprender não é problema. E para publicar há a internet. Basta fazer seu quadrinho online, em seu blog ou em sites como o Tumblr e o deviantART.”

O quadrinista ainda destaca que o surgimento dos sites de financiamento coletivo (crowdfunding) impulsionou a publicação impressa dos trabalhos de desenhistas brasileiros. “Em vez de você ir lá bater na porta das editoras e pedir para ser publicado, você posta o seu projeto no site e deixa uma mensagem direta para o público sobre o seu trabalho. Você consegue aprovar e financiar seu projeto se o público gostar”, explica. E acrescenta: “Acredito que os quadrinhos estão deixando de ser marginais. Eles já tiveram seu momento de glória nos anos 1960 e foram caindo com o surgimento da internet e dos videogames. Mas hoje estão se popularizando novamente. É muita coisa boa acontecendo no Brasil, estamos em um momento muito bom de turbulência criativa”. Então, se você se interessa pelo assunto ou sonha em seguir carreira com desenho, seja fazendo sua própria webcomic ou desenhando grandes super-heróis, vai gostar de saber um pouco mais sobre o processo criativo dos quadrinistas e como Mike fez para ter seu trabalho reconhecido pelas gigantes do mundo dos quadrinhos – mesmo sem sair do país.

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O interesse pelos quadrinhos

O interesse pelas HQs começou cedo, graças à influência de seu pai, o jornalista Deodato Taumaturgo Borges, criador do super-herói Flama. “Com 13 anos eu decidi que ia ser desenhista de quadrinhos”, lembra. “Normalmente, o filho acha que o pai é o herói. No caso do meu pai, ele era quase um herói de verdade! Ele criou o Flama para as novelas de rádio e também produzia e interpretava o personagem – então ele era o Flama, era a voz dele.”

Acostumado com as histórias de super-heróis, Mike começou a produzir seus próprios gibis, roteirizados por seu pai e desenhados por ele. O incentivo da família foi importante para que o quadrinista pudesse, inclusive, imprimir as publicações e distribui-las aos seus amigos e nas bancas da capital paraibana. “Minha história foi diferente da maioria dos quadrinistas: eles geralmente enfrentam a resistência da família, que acha que a profissão não vai dar dinheiro. Meus pais não. Eles me apoiaram desde o começo”, diz.

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Nos anos 80, não havia escola de desenhos voltada para os quadrinhos em João Pessoa. Então, o desenhista decidiu ingressar na faculdade de Comunicação Social da UFPB para estudar Jornalismo. “Eu já trabalhava no setor de arte de um jornal desde os 17 anos, então pensei que poderia me interessar”, conta. Mas estudar Comunicação não era exatamente o que Mike procurava e ele deixou a faculdade quando ganhou um edital do governo do estado para desenhar a história da Paraíba. Ainda assim, trabalhou por um tempo em jornais locais e agências de publicidade e ressalta que a formação superior foi importante para que conseguisse se sustentar antes dos desenhos. “Você precisa ter um plano B. Eu só fui conseguir viver de quadrinhos aos 30 anos. Como é que você sabe se vai ser um desenhista de sucesso? Eu acredito que você tem que ter um emprego, uma formação, para continuar fazendo, nem que seja como hobby, o que você gosta”, afirma.

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Início da carreira

Logo após deixar a faculdade, Mike começou a publicar seus quadrinhos independentes em pequenas editoras da época e, em um momento de coragem, decidiu enviar uma das revistas feitas por ele para o desenhista-pai do Menino Maluquinho, Ziraldo, presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em 1986. A tentativa rendeu bons frutos. O quadrinista foi convidado pelo órgão a representar o Brasil na Bienal de Angoulême, na França, voltada para a exposição de produções em desenho e em quadrinhos. Maurício de Sousa, Laerte, Angeli, Luís Gê e o próprio Ziraldo eram nomes que faziam parte da delegação de desenhistas brasileiros. “Eu era o único desconhecido no meio de todo mundo! Eles ficaram cuidando de mim pra eu não fazer besteira lá!”, diverte-se.

Durante a viagem, o desenhista conseguiu publicar alguns de seus trabalhos na Alemanha e voltou da Europa já certo de que finalmente conseguiria viver de quadrinhos no Brasil, mas não foi bem isso que ocorreu. “Não dava. Mesmo com tudo isso, o trabalho ainda era muito mal pago”, explica Mike. Então, ele deixou a prancheta de lado por um ano – fazendo quadrinhos só aos finais de semana – e voltou a trabalhar como jornalista e publicitário, até o dia em que recebeu uma ligação de uma agência paulistana de quadrinistas brasileiros, a Arte&Comics, voltada a publicar trabalhos no exterior. “Como eles já tinham visto meu nome e trabalhos que eu tinha feito, perguntaram se eu não tinha interesse em fazer uma historinha para o exterior. Aí eu fiz, torcendo para não ser mais uma roubada (rs). Já aconteceu muito de eu fazer um trabalho e ser mal pago – ou não receber pagamento nenhum. Mas nesse me pagaram. E aí não parou mais. Eles continuaram mandando outras histórias e fui largando aos poucos meus empregos normais”, conta.

(Imagens: Mike Deodato Jr./Arquivo pessoal)

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Mike também começou a ilustrar para pequenas editoras nos Estados Unidos quando, em 1994, surgiu uma oportunidade para desenhar para a DC Comics. “Eu fiquei sabendo que um colega da mesma agência estava fazendo uma revista para eles, aí liguei para os agentes e disse que queria também”, diz. Havia uma vaga para desenhar o gibi da Mulher Maravilha. “Eu odiava a Mulher Maravilha, mas era uma editora grande, né, aí falei ‘não, adoro! Eu amo a Mulher Maravilha, pode me passar!’”, diverte-se. Sem a ajuda de um computador, o quadrinista fez duas páginas grandes de ilustração, semelhantes a páginas impressas. “Elas eram bem caprichadas, coloridas. Fiz um aerógrafo, as letrinhas imitando o colorido computadorizado da época… Aí quando a DC Comics viu me contratou na hora! Depois de três números o grande público nos Estados Unidos descobriu a Mulher Maravilha.”

O contrato com a Marvel veio logo depois. A editora – que havia recusado um trabalho de Mike anteriormente – se interessou pelos traços do quadrinista ao vê-los nas bancas com sua maior concorrente. Ele trabalhou por um tempo para as duas editoras, até que, após um ano, a Marvel exigiu exclusividade e o brasileiro passou a ilustrar só para eles.

As etapas de trabalho

Para que a revista em quadrinhos chegue até você, ela passa por diversas outras mãos que fazem parte do processo criativo. Nas grandes editoras de quadrinhos norte-americanas, como a Marvel, para onde Mike trabalha hoje, a produção é segmentada. A história é feita por um roteirista e entregue ao quadrinista, que irá fazer os desenhos a lápis, o letreiramento – aqueles balõezinhos com as falas dos personagens – e pode também ser responsável pela arte final, com tinta, quando outro desenhista não é contratado para isso. Depois de finalizadas, as ilustrações seguem para o colorista e para o editor da revista, que irá autorizar a publicação.

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Além disso, cada personagem das gigantes do mundo dos quadrinhos costuma ser desenhado somente por uma pessoa. Assim, as revistas do Homem-Aranha são feitas só por um quadrinista que é diferente, por exemplo, do que desenha o Homem de Ferro. “Eu já faço Os Vingadores há muito tempo e devo ser o desenhista que mais os ilustrou para a Marvel”, diz Mike.

O quadrinista lembra, porém, que também existem desenhistas que roteirizam, ilustram, colorem, e fazem o letreiramento das próprias histórias. Ele mesmo também tem trabalhos individuais, feitos nas horas de lazer e publicados em seu blog. “Nele eu estou colocando histórias curtas onde dou opinião sobre vários assuntos da vida. Estou bem orgulhoso!”, celebra.

O trabalho de Mike é feito de sua própria casa, em João Pessoa. O desenhista nunca precisou se mudar para trabalhar para editoras do exterior e conta que só sai de casa para ir a convenções de quadrinhos. “É o trabalho dos sonhos!”, brinca. “Os quadrinistas brasileiros que ilustram para a Marvel, por exemplo, já fazem tudo pela internet. Eu trabalho com um colorista que mora no interior de São Paulo, então a gente se comunica por Skype. O roteiro vem da Marvel, eu faço os layouts, mando para a aprovação do editor, eles aprovam e eu começo a finalizar e envio para o colorista”, explica.

(Imagem: Mike Deodato Jr./Arquivo pessoal)

Criação e publicação

Uma página por dia. Esse é o ritmo de trabalho do paraibano, que compara sua função à de um diretor de cinema quando recebe o roteiro: ajustará os detalhes e dará vida aos personagens a seu modo. “Vou determinar o ritmo, se aquela história fica melhor com uma luz de baixo ou de cima, os detalhes que terão no quarto do herói, qual tipo de roupa ele vai usar. Posso tornar uma cena mais lenta ou mais rápida aumentando ou diminuindo a quantidade de quadrinhos, por exemplo.”

Hoje, Mike já faz a arte diretamente no computador através de uma Cintiq – uma mesa digital da fabricante japonesa Wacom – e explica que, dessa forma, o tempo de trabalho é reduzido e ele pode fazer os contornos mais detalhados através do zoom. Entretanto, as capas das revistas continuam sendo feitas a mão, já que a venda dos originais também é uma fonte de renda para o desenhista. “Eu gosto de desenhar as capas no papel para não perder o jeito”, diz. Ele ainda ressalta que qualquer pessoa que tenha interesse em desenhar histórias em quadrinhos e publicá-las na internet pode começar: “é só ter um lápis, um papel e um tablet para digitalizar os desenhos”.

Ao contrário do que geralmente pensamos, o quadrinista afirma que não é necessário “dom” algum para desenhar e que podemos desenvolver nossa habilidade criativa com treino e esforço. “A minha carreira foi baseada em muito esforço, foco, análise dos erros… foi muito mais uma carreira de suor do que de talento mesmo. Tem muita gente no mundo muito mais talentosa que eu, mas eu tenho determinação para ir atrás do que eu quero e para analisar o mercado”, conta. E para os que ainda não se sentem seguros, um curso de desenho pode ajudar. “Na minha época não tinha escola e senti muita falta de ter uma aula formal de anatomia. Se pudesse, teria feito um curso porque até hoje eu meio que engano a anatomia do personagem, vou como eu acho que é e acabou (rs)”.

Aprender com a opinião dos amigos e com a resposta de seguidores nas redes sociais também é uma boa dica para quem está começando. “Se você quer ser quadrinista, faça quadrinhos. Só de fazer quadrinhos você já é um quadrinista”, observa Mike. Sobre o sonho de se tornar um desenhista famoso, o artista é categórico: não esquente! Concentre-se nos seus traços e no seu público. “Se acontecer de você ficar realmente bom, você vai acabar sendo notado, ou quando você se sentir pronto, entre em contato com as editoras”. Ele ressalta ainda que hoje não há mais necessidade de um agente que intermedeie o contato entre as empresas e os artistas como na época em que começou a ilustrar para fora.

“Eu descobri que eu preciso desenhar, me sinto feliz na hora que eu estou desenhando. Não é quando eu recebo dinheiro, não é quando vejo a revista publicada, é na hora que eu estou aqui na minha mesa desenhando. Eu acredito que se a pessoa descobre sua profissão dessa maneira, não há como parar, porque ela ama mesmo o que faz”, completa.

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