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Agropecuária: Um setor robusto e dinâmico

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BOAS PERSPECTIVAS. Produção de soja em Campo Mourão, no Paraná. A safra nacional do produto em 2017 deve superar a do ano anterior

UM SETOR ROBUSTO E DINÂMICO

Ainda que o agronegócio tenha apresentado retração em 2016, ele é um dos motores da economia do país. E promete recordes em 2017

Em 2016, a economia brasileira seguiu em queda. O Produto Interno Bruto (PIB) – a soma do valor de todos os bens e serviços produzidos no país – recuou 3,6% em relação ao ano anterior, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografa e Estatística (IBGE). O setor agropecuário, que até então resistia à crise, apresentou retração de 6,6%. Entre os três setores econômicos, foi o mais afetado – a indústria caiu 3,8% e serviços, 2,7%. Uma das razões para isso é que as três principais culturas do país, a soja, a cana-de-açúcar e o milho, tiveram quebra de safra. Isso significa que registraram diminuição na produção anual e perda da produtividade devido, sobretudo, a fatores climáticos.

Entretanto, ainda que esse quadro mais recente da situação da agropecuária mostre uma queda, é importante não perder de vista que o agronegócio representa um setor fundamental para a economia brasileira: ele responde por mais de 20% do PIB, 35% dos empregos gerados no país e tem papel fundamental no conjunto das exportações. E as projeções para 2017 mostram mais do que uma recuperação do segmento – aguarda-se um recorde no setor agrícola.

Destaque internacional

O Brasil é um dos gigantes da agropecuária no mundo. Ocupa a segunda posição entre os maiores fornecedores mundiais de produtos agrícolas, atrás apenas dos Estados Unidos. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o país deve alcançar a liderança desse ranking nos próximos dez anos. O aumento da população mundial e o crescimento das economias emergentes ampliam a demanda por alimentos e matérias-primas.

De fato, nas últimas três décadas, a agricultura brasileira alcançou um forte crescimento: a produção agrícola mais do que dobrou em volume e a produção pecuária praticamente triplicou, principalmente com base nas melhorias da produtividade.

De acordo com a organização, o Brasil desponta como o maior fornecedor de açúcar, suco de laranja e café para os mercados mundiais. Em 2013, ultrapassou os EUA no fornecimento de soja. É, ainda, um grande produtor de milho, arroz e carne bovina, sendo a maior parte da produção consumida pela própria população. As perspectivas da FAO mostram também que a produção de grãos do Brasil deverá ultrapassar as 222 milhões de toneladas por ano até 2022. Além disso, espera-se que a participação do país nas exportações mundiais de carnes cresça 26%, contribuindo para quase metade do aumento global previsto para os próximos dez anos.

Elementos favoráveis

A vocação agrícola do Brasil e sua fama de “celeiro” do mundo devem-se, claro, a alguns fatores. Um deles é o clima tropical, que prevalece na maior parte do país e permite uma produção bastante diversificada. Outro fator é o solo: terras férteis como massapê e terra roxa predominam em grande parte do território. Além dessas características físicas, também contaram para a expansão da agropecuária brasileira o desenvolvimento tecnológico e o avanço das fronteiras agrícolas.

Ao longo das últimas décadas, o Brasil consolidou uma das maiores redes de pesquisa agropecuária do mundo. Um marco importante para o investimento no setor foi a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 1973.

Com o trabalho da Embrapa, de universidades e de vários institutos de pesquisa, o Brasil rural deu um salto em termos de produtividade. Foram desenvolvidas técnicas, por exemplo, para transformar solos ácidos em solos aráveis e para adaptar sementes de soja ao nosso clima. No caso dos grãos, nas últimas quatro décadas, a área plantada passou de 27 milhões para 57 milhões de hectares, e o volume total produzido saltou de 29 milhões para 200 milhões de toneladas, um aumento de quase sete vezes.

Outra mudança importante para nossa agricultura foi a mecanização. Nos anos 1960, o Brasil tinha apenas 61 mil tratores em atividade. Hoje, cerca de 1 milhão dessas máquinas de todos os tipos e tamanhos estão rodando pelo país.

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A China e os Estados Unidos são os dois principais destinos dos produtos agropecuários brasileiros


A AGROPECUÁRIA E O AGRONEGÓCIO

O cultivo agrícola (agricultura) e a criação de animais para abate (pecuária) compõem a agropecuária. Já o agronegócio abrange toda a cadeia produtiva da agricultura e da pecuária. Essa cadeia começa na indústria e nas empresas que fornecem equipamentos como sementes, tratores, colheitadeiras, adubos, rações e defensivos agrícolas. Outra etapa é das indústrias de transformação, como os frigoríficos e as empresas de torrefação e moagem do café, de processamento de cana para produzir açúcar e álcool, de suco de laranja, de óleo de soja e de couros, por exemplo. Ele abrange ainda os setores de embalagens, conservação, transporte e empresas de comércio exterior.

Em relação à participação no PIB nacional, se considerada apenas a agropecuária, ela diz respeito a uma parcela pequena do PIB: 6%. Mas essa proporção alcança a casa dos 20% quando se considera toda a cadeia do agronegócio.

Novas fronteiras e desafios

O desenvolvimento de novas tecnologias fez, também, com que a agricultura se expandisse para além das terras aráveis do Sul e Sudeste para os solos menos férteis, principalmente no Cerrado. A partir de 1990, a agricultura e a agropecuária se instalaram intensivamente no Centro-Oeste, transformando essa região no maior celeiro do país, responsável por 40% de toda a produção agrícola brasileira. Apenas o estado do Mato Grosso responde por quase um quarto do total.

Hoje, as fronteiras agrícolas avançam pelas regiões Norte e Nordeste, entrando na área chamada Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) – principalmente a produção de soja. Esse avanço, todavia, causa fortes impactos ambientais. Estudos indicam que quase metade do desmatamento na Amazônia é provocado para abrir pastos e lavouras de soja.

Além de contribuir para o desmatamento, as grandes propriedades agropecuárias também aumentam a concentração de terra e são um entrave para a realização da reforma agrária no país.

Outros desafios a superar, atualmente, dizem respeito a problemas de infraestrutura e logística, que dificultam e encarecem a exportação e a distribuição dos produtos no mercado interno. Faltam silos para armazenar grãos, os portos não têm condições de dar vazão ao volume exportado e o custo do transporte – prioritariamente rodoviário – é alto.

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Commodities e exportação

A importância da agropecuária na economia brasileira pode ser verificada também em relação às exportações. Os produtos agropecuários e outras commodities (produtos básicos com baixo valor agregado, que não passam por nenhum processo industrial) representam cerca de 60% de tudo o que o país exporta.

As commodities, no entanto, têm seus preços estabelecidos de acordo com a oferta e a procura no mercado internacional. Quando há excesso de oferta de um produto, o preço cai. Na escassez, o valor sobe. Nos últimos anos, com a desaceleração do crescimento global, ocorreu um enfraquecimento das economias, sobretudo dos mercados emergentes, que constituem os maiores consumidores desses produtos. Ao diminuírem suas demandas, provocaram também uma queda nos preços das commodities.

Isso explica, em parte, a diminuição de 3,7% nas exportações brasileiras do agronegócio, em 2016, quando comparado ao ano anterior. Ainda assim, o saldo da balança comercial do agronegócio teve superávit (saldo positivo) de 71,3 bilhões de dólares, segundo a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O superávit acontece quando o valor das exportações supera o das importações

A China é o principal destino dos produtos agropecuários brasileiros, sobretudo de soja em grãos, celulose, carne de frango, açúcar da cana e carne bovina. Sua participação – que representou 24,5% em 2016 –, no entanto, vem oscilando para baixo nos últimos anos, como consequência da desaceleração do crescimento de sua economia.

Os EUA constituem o segundo principal destino das exportações agropecuárias brasileiras, com 7,4% do total. Mas a abertura do mercado norte-americano para a carne bovina in natura brasileira, em agosto de 2016, após uma negociação que durou 17 anos, deve incrementar as exportações brasileiras em 900 milhões de dólares.

 

A BANCADA RURALISTA

Não é só na economia que a força do agronegócio se mostra presente. No congresso Nacional, a bancada ruralista, ou Frente parlamentar da agropecuária (FPA), é uma das maiores e mais atuantes bancadas da câmara dos deputados, formada por mais de 200 deputados federais (do total de 513). Eles representam os interesses dos grandes produtores rurais e latifundiários. defendem medidas como a ampliação do financiamento rural e, de modo geral, criticam as legislações ambientais (pois consistiriam entraves para a ampliação das áreas de cultivo e criação) e a reforma agrária. costumam articular-se para pautar assuntos da agenda política a ser discutida na câmara e votar em peso temas de seu interesse.

Foi o caso, por exemplo, do código Florestal Brasileiro, em 2012, quando 410 deputados votaram pela aprovação do projeto. Entre outros pontos, a nova legislação deu anistia aos produtores que desmataram, até julho de 2008, acima do permitido e determinou que eles não sejam punidos, desde que recuperem as áreas desmatadas conforme as leis estaduais. segundo ambientalistas, a volta do crescimento do desmatamento da amazônia, 29% em 2016, com perda de 7.989 km², está relacionada às mudanças trazidas pela nova lei, já que ela impôs fracas ações contra aqueles que desmatam.

Nova ruralidade

Uma vez que a agropecuária representa uma área estratégica para o desenvolvimento do país, é necessário refletir sobre as transformações que acontecem no campo e as perspectivas para o mundo rural.

“Nova ruralidade” é o termo que se estabeleceu no meio acadêmico para redefinir o mundo rural atual. O conceito busca desvendar como se configura esse espaço e seus novos usos e quais as novas atividades econômicas e serviços prestados, incluindo as relações de trabalho, fundiárias e ambientais. A relação entre o campo e a cidade é um dos temas importantes a ser destacado, uma vez que o debate envolve a noção de que o campo não se caracteriza somente pelas atividades agrícolas, mas também pelas relações sociais, comerciais, econômicas e culturais estabelecidas com a cidade.

Em relação às questões ambientais, discute-se o desafio de manter ou aumentar a produtividade, mas sem abrir mão da preservação dos recursos naturais existentes. No que se refere às relações de trabalho, a discussão foca nos processos de modernização da agricultura e na globalização dos mercados, que provocaram transformações como a aceleração do tempo de produção, a mecanização e a terceirização.

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Agropecuária

CONCEITOS Agropecuária compreende o cultivo agrícola (agricultura) e a produção de animais para abate (pecuária). Já o agronegócio envolve toda a cadeia produtiva da agropecuária, como a pesquisa, a indústria de máquinas e equipamentos agrícolas, os insumos (como adubos e defensivos), o beneficiamento e industrialização dos produtos (na indústria alimentícia, por exemplo), além dos setores de transporte e distribuição.

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA Apesar da retração da atividade agropecuária em 2016, o agronegócio é um dos motores da economia brasileira. Tem peso decisivo nas exportações e representa mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e 35% dos empregos gerados no país. Em 2017, as perspectivas são de safra recorde.

PRODUÇÃO O Brasil é o segundo maior fornecedor mundial de produtos agropecuários, atrás apenas dos Estados Unidos. Destaca-se na produção de açúcar, suco de laranja, café, milho, arroz e carne bovina. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o país deve alcançar a liderança desse ranking nos próximos dez anos, puxado pelo contínuo aumento da demanda mundial por alimentos e matérias-primas, principalmente dos países em desenvolvimento, como a China.

FATORES DE CRESCIMENTO Nos últimos 30 anos, a produção agrícola mais do que dobrou em volume e a produção pecuária praticamente triplicou. Contribuíram para isso as características físicas (como o clima tropical e os solos férteis) do território brasileiro, o desenvolvimento tecnológico e o avanço das fronteiras rumo à Região Centro-Oeste. Nos anos 1990, a agropecuária começou a avançar também pelo sul da Amazônia e pelo Nordeste.

RISCOS E DESAFIOS O avanço das plantações de soja e de milho e da pecuária contribuem para o desmatamento. A existência de grandes propriedades agropecuárias aumenta a concentração de terra e dificulta a realização de uma reforma agrária.

Agropecuária: Um setor robusto e dinâmico
Agropecuária: Um setor robusto e dinâmico
BOAS PERSPECTIVAS. Produção de soja em Campo Mourão, no Paraná. A safra nacional do produto em 2017 deve superar a do ano anterior UM SETOR ROBUSTO E DINÂMICO Ainda que o agronegócio tenha apresentado retração em 2016, ele é um dos motores da economia do país. E promete recordes em 2017 Em 2016, a economia brasileira seguiu […]

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