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Catar e direitos humanos: o debate sobre a causa LGBTI+ na Copa do Mundo

Entenda por que a escolha pelo Catar como sede do Mundial foi criticada e como isso se reflete dentro e fora de campo

Por Juliana Morales
Atualizado em 28 nov 2022, 18h26 - Publicado em 28 nov 2022, 11h05
braçadeira causa LGBT
A braçadeira "One Love", proibida pela FIFA na Copa do Mundo do Catar. (NurPhoto/Getty Images)
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A Copa do Mundo 2022 começou  e, de lá para cá, muita coisa já aconteceu – tanto dentro como fora de campo. A FIFA (Federação Internacional de Futebol) proibiu seleções de utilizarem braçadeiras de capitão em apoio à causa LGBTI+ e uma bandeira de Pernambuco foi confiscada na entrada de um estádio ao ser confundida com a do orgulho gay. Só na última sexta-feira (25) o Catar decidiu liberar os torcedores para levarem bandeiras e outros elementos que remetam à causa para os estádios.

Todos estes episódios tão recentes refletem, no entanto, um cenário que já era consolidado muito antes do início da competição.

O Catar, sede do Mundial, localiza-se na península arábica na Ásia Continental, no Oriente Médio. Uma das nações mais ricas do mundo, o país árabe é dono da terceira maior reserva de gás natural, o que equivale a 13% de todas as reservas do mundo. O produto interno bruto (PIB) per capita é de mais de US$ 85 mil, sendo o sexto melhor do planeta.

Trata-se de um emirado absolutista e hereditário comandado pela Casa de Thani desde meados do século 19. As posições mais importantes no país são ocupadas por membros ou grupos próximos da família al-Thani. A Freedom House considera o país “não livre” e a Anistia Internacional indica várias violações de direitos humanos.

Por que a escolha pelo Catar como sede da Copa foi tão criticada

Desde 2010, quando foi anunciado oficialmente que o Catar sediaria a Copa de 2022, a situação dos direitos humanos no país, principalmente em relação à comunidade LGBTI+, mulheres, imigrantes e jornalistas, gerou preocupação e uma série de críticas. A escolha ainda foi acompanha por acusações de que o Catar, que não tem tradições futebolísticas, havia desembolsado muito dinheiro para que pudesse sediar o campeonato. A FIFA investigou o caso e absolveu o país das denúncias.

Ao longo dos 12 anos, na preparação para receber o evento, organizações de direitos humanos fizeram diversas denúncias em relação às condições precárias a que trabalhadores imigrantes eram submetidos no Catar.

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Um novo relatório divulgado pelo grupo de direitos humanos Equidem, neste mês, apontou que trabalhadores migrantes que construíram os estádios da Copa sofreram “violações persistentes e generalizadas dos direitos trabalhistas”. Como mostra reportagem da Revista VEJA, as alegações incluem discriminação baseada na nacionalidade, práticas ilegais de recrutamento e até trabalho escravo.

A questão dos direitos humanos no Catar

No Catar, a homossexualidade é crime previsto em lei. Um relatório publicado pela Human Rights Watch denunciou 11 casos de desrespeito aos direitos das pessoas da comunidade LGBTI+ ocorridos no país entre 2019 e 2022.

O ex-jogador de futebol e embaixador da Copa Khalid Salman disse em entrevista a um canal de TV no início de novembro que a homossexualidade é um “dano mental”. Salman afirmou ainda que a população LGBTI+ seria tolerada, mas que “teriam que aceitar as regras” locais durante a Copa.

Esse embate já ficou visível na primeira semana de jogos oficiais. Na última terça-feira (23), a seleção alemã aproveitou sua estreia, no jogo com o Japão, para protestar contra a decisão da Fifa de proibir o uso da braçadeira de capitão “One Love” durante as partidas, em apoio à causa LGBT+. Na hora da foto oficial, os jogadores alemães colocaram a mão na boca ao posar, simbolizando a censura que, segundo eles, foi imposta pela Fifa.

jogadores alemanha
Seleção da Alemanha protesta contra decisão da FIFA de proibir manifestações contra LGBTfobia durante a Copa do Mundo do Qatar. (Marvin Ibo Guengoer/Getty Images)

Em coluna publicada no Jornal da USP, Pedro Dallari, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e membro da Comissão dos Direitos Humanos da Universidade, ressaltou que, mesmo sendo um evento esportivo, mais ligado ao campo do entretenimento, a Copa do Mundo do Catar está imersa em um contexto político muito acentuado, que diz respeito ao questionamento generalizado sobre violações de direitos humanos associadas à sua realização.

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“Como se pode perceber pelas polêmicas já suscitadas, as próximas semanas serão marcadas pela tensão entre, de um lado, a ideia de globalização, que tem nos direitos humanos um elemento fundamental, e é inerente a um evento global como a Copa do Mundo, e, de outro lado, a situação de desrespeito aos direitos humanos que caracteriza o Catar, país que, por total equívoco, foi escolhido para abrigar a Copa do Mundo”, analisou o professor.

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