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Entenda o que é ‘banzo’, palavra usada por Odete Roitman de forma racista

A frase da primeira versão de Vale Tudo volta à tona com o remake da novela

Por Redação
15 Maio 2025, 10h00
odete roitman primeira versão vale tudo
 (Rede Globo/Reprodução)
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Vale Tudo está de volta aos holofotes com o remake de sucesso, trazendo à tona questões que já haviam sido levantadas na versão original de 1988. A novela, famosa por abordar temas como corrupção, ética e ambição, também é um ponto de reflexão sobre as representações de raça e identidade. Exemplo disso é uma cena da primeira versão que voltou a chamar a atenção nas redes sociais, quando a vilã Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall, faz uma declaração abertamente racista.

No auge da trama original, Odete usa o termo “banzo” de uma forma que descontextualiza o seu significado, além de associá-lo de maneira pejorativa aos indígenas e negros, duas identidades que, ao longo da história brasileira, foram alvo de estigmas raciais.

A frase “isso é banzo, coisa de índio e negro” não é apenas uma fala de uma personagem vilã, mas uma manifestação de preconceito que toca em uma ferida histórica profunda.

+ Como era o Brasil no ano em que Vale Tudo estreou pela primeira vez

O que significa “banzo”?

O termo “banzo” tem uma origem diretamente ligada às experiências traumáticas dos povos africanos e indígenas no Brasil. Ele vem da palavra bantu “mbanzo“, que se refere ao estado de melancolia, tristeza profunda ou sofrimento emocional. O banzo era o nome dado ao sentimento de angústia experimentado pelos africanos escravizados, que, ao serem forçados a deixar suas terras, suas famílias e suas culturas para trás, passavam a sentir uma saudade insuportável, uma desconexão dolorosa com a vida que haviam conhecido.

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Esse estado de melancolia e desesperança era, muitas vezes, fatal. Não era raro que os escravizados, ao serem levados para o Brasil, sucumbissem a esse sofrimento extremo, e em muitos casos, o “banzo” era associado à morte precoce, como uma forma de resistência silenciosa ao sistema brutal da escravidão. “Banzo se encaixa muito bem em depressão ou em um estado depressivo”, explica o psiquiatra e psicanalista Lucas Mendes, pesquisador em saúde mental da população negra, em entrevista ao portal Mundo Negro.

É importante destacar que o “banzo” não é, em si, um termo racista. Na sua origem, é um conceito ligado à dor e ao luto, um reflexo da experiência humana de perda e exílio forçado. Ele tem uma carga histórica significativa, representando a resistência psíquica e física dos escravizados e, de certa forma, sua adaptação forçada a um novo mundo que desmantelava suas culturas, crenças e famílias.

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Como Odete Roitman banaliza o significado de “banzo”

Agora vamos para o ano de 1988, quando a primeira versão de Vale Tudo era exibida. Em determinada cena, Odete Roitman conversa com Maria de Fátima, que havia acabado de retornar de Paris e afirmava não entender por que brasileiros sentem saudades do Brasil quando estão no exterior. No momento em que Odete responde “isso é banzo, coisa de índio e negro”, ela não só descontextualiza a palavra, mas a associa diretamente a estereótipos raciais e sociais.

A vilã, ao fazer essa relação entre o termo e as populações indígenas e negras, banaliza o sofrimento histórico dessas populações e coloca um estigma racial negativo sobre elas, ao reduzir um conceito de dor e resistência a um traço de fraqueza ou inferioridade.

O uso de “banzo” de forma pejorativa é um reflexo claro de uma cultura de invisibilidade e estigmatização das populações negras e indígenas, que ainda hoje enfrentam o legado da escravidão e da colonização. A fala de Odete revela um racismo estrutural que se manifesta em pequenas atitudes e falas cotidianas – seja em 1988 ou nos dias de hoje. E é aqui que a novela Vale Tudo, ao revisitar esses momentos, nos obriga a refletir sobre as representações de raça na mídia e o quanto ainda precisamos avançar nesse debate.

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