Fuvest anuncia lista de obras obrigatórias escritas apenas por mulheres
A partir da prova realizada em 2025, todos os livros cobrados pela USP serão escritos por autoras. A ideia é discutir o silenciamento das mulheres
A Fuvest, vestibular que dá acesso à melhor universidade do Brasil, a USP, anunciou ontem que resolveu alterar a sua lista de leituras obrigatórias a partir da edição realizada em 2025. Pela primeira vez na história, todos os livros que serão cobrados no exame serão de autoria feminina. Essa é uma mudança significativa no maior vestibular do país, que costuma exigir obras quase que exclusivamente masculinas.
A notícia foi divulgada ontem pelo jornal Folha de São Paulo e traz as listas pra a Fuvest 2026 (que é aplicada no fim de 2025), 2027, 2028 e 2029.
+ Fuvest 2024: veja lista de obras literárias obrigatórias com análises
Veja as obras escritas por mulheres selecionadas pela Fuvest
Fuvest 2026
“Opúsculo Humanitário” (1853) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha” (1899) – Julia Lopes de Almeida
“Caminho de Pedras” (1937) – Rachel de Queiroz
“O Cristo Cigano” (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“As Meninas” (1973) – Lygia Fagundes Telles
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Fuvest 2027
“Opúsculo Humanitário” (1853) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha” (1899) – Julia Lopes de Almeida
“Caminho de pedras” (1937) – Rachel de Queiroz
“A Paixão Segundo G.H.” (1964) – Clarice Lispector
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Fuvest 2028
“Conselhos à Minha Filha” (1842) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Memórias de Martha” (1899) – Julia Lopes de Almeida
“João Miguel” (1932) – Rachel de Queiroz
“A Paixão Segundo G.H.” (1964) – Clarice Lispector
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Balada de Amor ao Vento” (1990) – Paulina Chiziane
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A Visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Fuvest 2029
“Conselhos à Minha Filha” (1842) – Nísia Floresta
“Nebulosas” (1872) – Narcisa Amália
“Dom Casmurro” (1899) – Machado de Assis
“João Miguel” (1932) – Rachel de Queiroz
“Nós Matamos o Cão Tinhoso!” (1964) – Luís Bernardo Honwana
“Geografia” (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Incidente em Antares” (1970) – Érico Veríssimo
“Canção para Ninar Menino Grande” (2018) – Conceição Evaristo
“A visão das Plantas” (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Entre 2026 e 2028, todos livros cobrados serão de mulheres. Apenas na prova de 2028, três homem voltarão a dar as caras entre as obras obrigatórias: são eles “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, “Nós Matamos o Cão Tinhoso!”, de Luís Bernardo Honwana, e Incidente em Antares, de Érico Veríssimo.
A invisibilidade das autoras mulheres
A lista foi elaborada para seguir contemplando livros das mais diversas épocas e movimentos literários. Ou seja, a Fuvest seguirá cobrando conceitos do Romantismo, do Modernismo, do Realismo e por aí vai – só que, dessa vez, usando como base narrativas escritas por mulheres. “Com essa lista, os professores do ensino médio poderão trabalhar com os alunos as características das escolas literárias da mesma forma que faziam com Machado de Assis, José de Alencar, com todos os cânones”, disse Gustavo Monaco, diretor-executivo da Fuvest à Folha.
Outra preocupação da Fuvest foi incluir autoras negras na lista, entre elas, Paulina Chiziane, Conceição Evaristo e a Djaimilia Pereira de Almeida.
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O objetivo principal dessa mudança é usar os livros como ponto de partido para discutir a invisibilidade histórica das escritoras femininas. “Obviamente ninguém discute que os autores das listas anteriores sejam grandes nomes, mas a pergunta que se deve fazer é: até que medida essa consagração tem relação com o fato de tantas autoras terem sido silenciadas na história da literatura?”, disse Monaco.
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Ou seja, o fato de que alunos de Ensino Médio não costumam entrar em contato com esses livros diz menos sobre a qualidade das obras do que sobre a estrutura social que silencia a criação artística de mulheres.”Quando decidimos por essa lista só de mulheres, tivemos que fazer uma pesquisa, buscar obras que mantivessem a qualidade literária que a lista sempre teve. E ficou claro que esses livros têm qualidade e foram excluídos por terem sido escritos por mulheres”, disse o diretor-executivo da Fuvest à Folha.
Essa é a primeira vez que um vestibular adotará uma lista 100% feminina.
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