Por Eduardo Marini, Maê Montagno, Matheus Fernandes e Pedro Figueiredo/Esquinas
“Eles têm medo de serem confundidos com mulheres”. Foi assim que Fábio Mariano, professor do curso de Masculinidade Contemporânea na PUC-SP, explicou como o status quo da masculinidade reflete no inconsciente das pessoas.
A partir do machismo, o homem é visto como livre para ser e fazer o que quiser. Para embasar essa premissa, cria-se a ideia de um “sexo frágil”, o feminino, que está sujeito a julgamentos. Entretanto, não existem códigos escritos sobre como ser homem. Mas no início dos anos 1980, o termo “man box”, “caixa do homem” em tradução livre, foi criado por Paul Kivel e o Projeto de Homens de Oakland, com o desafio de definir os aspectos que determinariam esse ser – como não demonstrar emoções, apenas raiva. Apesar de existirem regras não ditas, o homem tenta transmitir um ar de independência e emancipação. Mas será mesmo que os homens são livres de padrões?
É preciso uma visão crítica para enxergar as amarras que os prendem. Estar na caixa do homem pode causar uma sensação de aprisionamento, revelando uma masculinidade frágil, contrária à noção de virilidade e liberdade. O processo de desconstrução é um dos focos do site PrazerEle. Claudio Serva, criador da página, ressalta que os movimentos feministas são as principais causas que levam o homem a refletir sobre questões que antes não faziam parte do seu repertório sociocultural. “Quando a mulher encontra seu lugar de potência, o homem fica perdido e descobre que as características que o definiam como masculino eram limitantes”, esclarece Serva.
Para Fábio Mariano, quem critica e desconstrói padrões é o homem contemporâneo. Se o diálogo não for provocado, a aceitação desses códigos se torna natural. “Os homens têm que se educar para serem livres de tudo aquilo que seja condicionante”, afirma. No momento em que os padrões se tornam naturais, estes podem ser levados de geração a geração. “Não se nasce homem, torna-se homem”, diz Mariano, reformulando a famosa frase da filósofa feminista Simone de Beauvoir.
++ Conheça as ideias de Simone de Beauvoir
Segundo a psicóloga Bárbara da Cunha, a infância é uma fase importante para a construção do indivíduo. “A criança nasce sem nenhum registro e aprende observando o meio em que vive. A capacidade de demonstrar sentimento, por exemplo, é uma construção social”, explica. Se as características não vêm de nascença e é possível construir uma “masculinidade saudável”, como defende Serva, o que impede os homens de mudarem?
O jornalista Nathan Fernandes responde que a chave para abrir a caixa do homem é o questionamento. “Você não precisa inventar a roda todo dia, mas tem que questionar e não aceitar os conceitos como verdades absolutas, porque talvez elas nem existam”.