O nervosismo diante de uma prova ou lista de exercícios repleta de números pode não ser tão corriqueiro quanto se pensa. Em muitas pessoas, trata-se da manifestação de um distúrbio: a ansiedade matemática. Embora seja pouco discutida cotidianamente, já existe um vasto universo de estudos sobre o assunto que pode ajudar a combater esse tipo de ansiedade e, principalmente, impedir seu desenvolvimento.
É aí que entra a importância da pesquisa publicada ano passado pelo Centro de Neurociência em Educação da Universidade de Cambridge (Reino Unido). Em entrevista com 2.700 estudantes italianos e britânicos, os pesquisadores conseguiram elencar alguns desencadeadores comuns de ansiedade.
A pesquisa foi feita com estudantes do ensino básico primário e secundário, e a transição para o Ensino Médio e a proximidade de provas como o SATS (correspondente ao nosso Enem) eram importantes fatores desencadeadores da ansiedade matemática no segundo grupo. A competitividade, nesses casos, acaba sendo uma das responsáveis pelo distúrbio.
Em outros casos, no entanto, ele apenas se intensifica nessa fase, mas suas origens estão nas operações de soma e subtração do primário. Muitos alunos entrevistados apontaram que a relação dos pais e professores com a matemática influenciou a forma como eles próprios viam a disciplina.
Pais que têm medo de matemática e o demonstram abertamente aos filhos ajudam a desenvolver esse medo, assim como professores que criam uma atmosfera de castigo ou então de superioridade em torno dela, como se fosse mais difícil que o restante das matérias.
Uma questão de gênero
A pesquisa também levantou um importante recorte de gênero: a maioria dos alunos entrevistados que sofria de ansiedade matemática era menina. O dado não é bem uma novidade, mas ajuda a consolidar outras pesquisas, como a realizada pela professora Susan Levine, da Universidade de Chicago (EUA).
O título de sua pesquisa era “A Ansiedade Matemática de Professoras Afeta o Desempenho Matemático das Meninas”. Uma vez que a ansiedade matemática afeta diretamente o desempenho do estudante nessa disciplina, reforçar estereótipos de gênero — como de que meninos são melhores em matemática — pode, de fato, afetar o desenvolvimento das meninas nessa área. O resultado a longo prazo se manifesta no menor número de mulheres na área de exatas em comparação aos homens.
Entre outras recomendações, a pesquisa da Universidade de Cambridge ressalta a importância de que pais e professores lidem com suas próprias ansiedades e não as transmitam para as crianças. Antes de tudo, no entanto, é preciso reconhecer a existência da ansiedade matemática e entender que ela pode, de fato, afetar o desempenho de um aluno — e que ele possivelmente precisará de ajuda para combatê-la.