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Como o K-Pop transformou o poder econômico e cultural da Coreia do Sul

O K-pop se tornou o principal produto cultural da Coreia do Sul e grupos como BLACKPINK e BTS levam a cultura do país para o mundo

Por Luccas Diaz
Atualizado em 25 Maio 2022, 10h45 - Publicado em 11 dez 2020, 17h10

O grupo de K-Pop BTS foi escolhido como o artista do ano de 2020, pela revista norte-americana Time. A escolha confirma o momento de avanço do estilo sul-coreano nos Estados Unidos. Mas afinal, por que o K-Pop é cada vez mais querido por diferentes jovens pelo mundo? E o que ele representa para o poder econômico e cultural da Coreia do Sul?

Grupos com mais de dez integrantes, videoclipes que mais parecem filmes, figurinos de encher os olhos, coreografias milimetricamente ensaiadas, títulos e expressões próprias… O Korean Pop, ou K-Pop realmente parece um mundo à parte. Mas a música pop da Coreia do Sul se tornou a principal expressão do país para o mundo.

Por lá, o sucesso é tão expressivo que até fez o governo federal mudar as regras de alistamento militar para os artistas do sexo masculino poderem se dedicar inteiramente à carreira. A onda do K-Pop se estabelece no Ocidente com novos fãs a cada dia e uma corrida de artistas como Lady Gaga e Selena Gomez para lançaram parcerias.

O GUIA conversou com o Felipe Caires, que tem um canal no YouTube com mais de 100 mil inscritos em que comenta os lançamentos da semana e reflete sobre as polêmicas dos bastidores desse universo. Ele explica que o K-Pop, por mais que pareça algo distante em um primeiro momento, compartilha muitas semelhanças com o pop ocidental. A maior diferença diz respeito ao formato, não ao conteúdo.

“Aqui, estamos acostumados com artistas lançando seus álbuns em um intervalo de 1, 2 ou 3 anos, com direito a diversos singles de trabalho, vídeoclipes e, se dermos sorte, alguma performance na TV americana”, diz Caires.

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No entanto, na Coreia, as coisas mudam de figura. “O mais comum é que grupos e solistas façam o seu retorno (chamado de comeback) algumas vezes ao longo do mesmo ano, normalmente acompanhado de um mini álbum ou single álbum – tornando os álbuns completos quase uma exceção”, conta.

A galinha dos ovos de ouro da Coreia

A forma mais rígida e planejada de trabalhar com música na Coreia se distancia da maneira “romântica” ou “levada pela inspiração do artista” mais comum no Ocidente. Por lá, a carreira de cantor é altamente incentivada, e jovens no início da adolescência deixam a casa dos pais rumo a escolas especializadas em treinar jovens para se tornarem um K-Idol – um ídolo de K-Pop, .

Nessas instituições, que são ligadas às principais empresas e gravadoras da indústria, os trainees, título dado ao artista nesse período, passam por aulas de canto, dança, atuação, presença de palco etc. O período pode variar de dois anos a quase uma década e é o caminho pelo qual 99% dos artistas de K-Pop passam antes do sonhado debut, ou seja, a estreia como parte de um grupo ou solista. As aulas, entretanto, não se limitam aos dotes artísticos e englobam também etiqueta, educação sexual, nutrição e até mesmo treinamento de como se portar na mídia.

Grupo de jovens treinando para a indústria do K-Pop.
Grupo de jovens trainees ensaiam durante aula de dança, em Seul. (Kim Hong-Ji via Reuters/Reprodução)

Não é raro ver em entrevistas e vídeos de bastidores, K-Idols falando que esperam que o público goste de suas músicas, e que trabalharam muito duro para que tudo ficasse o melhor possível. O comportamento pode soar engraçado para quem acompanha os artistas ocidentais, que, por vezes, agem de forma blasé ou impessoal. Entretanto, essa atitude faz parte da visão de que o K-Pop é como qualquer outro trabalho vital para a economia coreana.

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“A Coreia do Sul investiu muito na sua cultura nacional nas últimas duas décadas e o K-Pop se tornou uma das amplas frentes sul coreanas no mundo”, diz Caires. Segundo ele, ao lado de outros produtos culturais, como as novelas e seriados de TV, o gênero é o principal representante do país pelo globo. “A prática de ‘treinar’ pessoas para aprenderem a ser cantores, dançarinos e intérpretes não é em vão: esses indivíduos são a imagem sul coreana que será veiculada no resto do mundo.”

Não é coincidência que, quando Donald Trump foi visitar a Coreia, tenha sido recebido pelo boygroup EXO. Da mesma forma, quando representantes do governo sul-coreano participaram de um (tenso) evento na vizinha Coreia do Norte, o girlgroup Red Velvet foi escolhido para se apresentar e posar, inclusive, com o líder Kim Jong-un.

Grupo coreano EXO recebendo o presidente dos EUA, Donald Trump.
Grupo coreano EXO recebendo o presidente dos EUA, Donald Trump. (CNN/Reprodução)
O grupo feminino Red Velvet foi escolhido para acompanhar a visita das autoridades sul-coreanas à Coréia do Norte, em 2018. Na foto, cumprimentam o líder Kim Jong-um.
O grupo feminino Red Velvet foi escolhido para acompanhar a visita das autoridades sul-coreanas à Coreia do Norte, em 2018. Na foto, cumprimentam o líder Kim Jong-um. (KCNA via KNS/AFP/Getty Images/Reprodução)

O céu é o limite 

Comparado a gêneros musicais do Ocidente, o K-Pop é recente – tem cerca de 30 anos. Os primeiros registros do gênero como se conhece hoje datam dos anos 90, e é comum entre os fãs fazer uma divisão dos artistas por gerações. A primeira, pioneira nos anos 90, contava com uma influência do hip hop e do R&B, ritmos em alta nos EUA na época. Uma segunda geração é considerada a partir do fortalecimento dos artistas coreanos pelos anos 2000, com o gênero se tornando um fenômeno doméstico. Já a terceira geração, na década de 2010, marca a popularização além do continente asiático, com a internet trazendo a possibilidade de modernizar, ampliar e aprimorar o conteúdo.

O estouro para o início da quebra de fronteiras do K-Pop foi o hit Gangnam Style, do artista PSY. A música, uma das primeiras a viralizar na web e atingir números astronômicos de visualizações, se tornou um fenômeno e a coreografia era imitada nos quatro cantos do planeta. A canção marca não apenas a ascensão do K-Pop no ocidente, mas também a prova de que a internet poderia ser uma forma de ampliação do soft power de um país. “Lembro-me das músicas do 2NE1 fazendo sucesso nas baladas paulistas em 2011, Gangnam Style conquistando o mundo pouco tempo depois, outros hits virais circulando pela internet e desmitificando cada vez mais o tabu de ‘música coreana’”, comenta o youtuber.

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De acordo com Caires, que é fã de K-Pop desde a adolescência, o momento atual corresponde ao nascimento de uma quarta geração, “mais feroz, com altas expectativas, domínio de plataformas virtuais e um conteúdo mais global que nunca.” O jovem acredita que as diferenças entre cada geração possibilitaram que fosse sendo construída a jornada para o fenômeno chegar ao ponto atual – com as músicas coreanas figurando entre as mais tocadas nos EUA e na Europa. No Brasil, inclusive, há um aumento na procura por cursos de coreano e por viagens ao país.

A tecnologia se coloca como a grande aliada da quarta geração do gênero. Grupos como BTS e BLACKPINK, ambos facilmente batendo números acima de 1 bilhão de reproduções, quebraram todos os recordes para artistas coreanos e devem boa parte de seu sucesso às interações com os fãs nas redes sociais. O BLACKPINK foi o primeiro grupo musical da Coreia a se apresentar no festival americano Coachella, que acontece anualmente na Califórnia.

BLACKPINK se apresentando no festival Coachella, nos EUA, em 2019.
BLACKPINK se apresentando no festival Coachella, nos EUA, em 2019. (Rich Fury via Getty Images/Reprodução)

A aliança com a tecnologia, porém, vai ainda mais longe. O jogo online League of Legends tem o seu próprio grupo de K-Pop composto por personagens da narrativa. Os avatares Ahri, Akali, Evelynn e Kai’as eram, inicialmente, apenas um projeto promocional, mas acabaram caindo no gosto do público e formaram o grupo K/DA. As músicas são dubladas por artistas coreanas e ocidentais e fazem sucesso nas plataformas de streaming. O vídeo para a canção POP/STARS tem mais de 400 milhões de visualizações no YouTube. Mais recentemente, o grupo feminino aespa ‘debutou’ com a proposta de ser um grupo híbrido – composto pelos integrantes humanos e suas versões avatares.

Grupo estreante Aespa mistura integrantes humanos com suas versões digitais.
Grupo estreante aespa mistura integrantes humanos com suas versões digitais. (SM Entertainment/Divulgação)

Papel de fã

Fãs como Letícia Ferro, que acompanham o gênero desde o começo da popularidade fora da Coreia, afirmam que as músicas permitiram um maior contato com esse país tão distante. Hoje aos 24 anos, a estudante de Relações Públicas, que é apaixonada pelo grupo BTS, conta que em 2017 começou a se interessar não só pelas canções, mas também pelo país.

“Uma coisa meio que levou a outra. Quando me dei conta estava assistindo K-Drama [produções dramáticas coreanas], pesquisando sobre a culinária, me interessando em aprender a língua… Hoje, gosto da Coreia como um país que quero conhecer e onde que eu viveria tranquilamente.”

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O impacto cultural do K-Pop parece contribuir para a disseminação da cultura coreana pelo mundo. O sucesso pega carona na “aldeia global” das redes sociais e influencia a busca por uma maior representatividade asiática em áreas onde o predominante era o ocidental. O estudante Murilo Gobbi, de 13 anos, diz que começou a aprender chinês por causa do K-Pop. Por mais que os grupos sejam majoritariamente coreanos, não é raro encontrar integrantes de outros países asiáticos ou até mesmo ocidentais.

“Esse estilo musical também conta com vários artistas chineses, aí fui pesquisar e tive muita curiosidade em relação ao mandarim, achei muito legal, gostei de como funciona, da cultura, dos ideogramas”, conta. “O k-pop acabou me levando a aprender mandarim.”

Sua professora, Si Lao, ou apenas Sisi, garante que as músicas ajudam no aprendizado da língua e da cultura: “Até chamo os alunos para cantarem comigo! Quanto mais cedo você descobrir uma cultura nova, diferente da que você está inserido, mais cedo poderá abrir sua visão do mundo”. Ela ainda compartilha que, entre os alunos, a vontade de ir para fora não é incomum. “Temos alguns alunos muito jovens, adolescentes, que estão entrando ou cursando a faculdade, e eles já estão pensando em fazer intercâmbios e cursos na China.”

Para quem quer começar…

Grupo BTS
(Big Hit Entertainment/Divulgação)

Pela riqueza de detalhes, termos e grupos, adentrar no mundo do K-Pop pode parecer até uma iniciação. Mas, aparentemente, isso não é um problema para os brasileiros. Dos países ocidentais, o Brasil é um dos mais expressivos nas redes sociais quando o assunto são os grupos e artistas coreanos. O estranhamento com a língua e a cultura tão diferente não foram motivos de afastamento – pelo contrário.

Uma série documental busca analisar o sucesso mundial do K-Pop. Em K-Pop Evolution, a história e os bastidores do gênero são contados através dos olhos de quem trabalha nele. Os sete episódios estão disponíveis no serviço de streaming do YouTube.

Busca de Cursos

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Para quem nunca ouviu falar do gênero (e chegou até aqui!) e quer escutar alguns exemplos, o Felipe Caires indica além dos grupos que estão bombando – BTS, BLACKPINK, Twice, Red Velvet, NCT e Mamamoo –, os girlgroups Everglow, (G)I-DLE e Itzy. Estes são uma boa porta de entrada por não terem tantos anos de carreira e dão a possibilidade de começar a acompanhar. O youtuber ainda compartilhou um miniglossário com os principais termos para entender o universo do K-pop.

  1. Debut – a estreia de um grupo ou artista; seu primeiro lançamento.
  2. Comeback – o retorno de um grupo ou artista, geralmente com uma música inédita de trabalho.
  3. Disband – quando um grupo se dissolve ou termina.
  4. Bias – o grupo, cantor ou integrante favorito de cada um. Exemplo: a integrante Yuna é minha bias no grupo Itzy.
  5. Trainee – posição em que os idols de K-POP se encontram antes de debutar a fim de treinar e praticar.
  6. Fighting! – demonstrar apoio a algo ou alguém.
  7. First Win – primeira vitória de um grupo, artista ou música dentro de um programa musical semanal da Coreia.
  8. Maknae – o integrante mais jovem de determinado grupo.
  9. Fanchant – uma espécie de “grito de guerra” dos fãs, que cantam em coro palavras de apoio durante as apresentações musicais dos seus ídolos.
  10. MV – music video, vídeo da música.

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