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Roma, mouros e colonização: entenda as origens da língua portuguesa

Descubra como nasceu a língua que deu vazão aos poemas de Drummond e contos de Clarice Lispector

Por Karolina Monte
Atualizado em 5 Maio 2023, 14h32 - Publicado em 10 jun 2022, 18h18

Era uma vez dois irmãos gêmeos: Rômulo e Remo. Filhos do rei Marte, também conhecido como Ares, foram jogados em um rio para morrerem afogados. Acabaram encontrados por uma loba, Luperca, que os amamentou. Anos depois, Rômulo viria a ser o fundador da cidade de Roma e seu primeiro rei. É assim que a mitologia romana explica o surgimento da capital deste império, que foi maior civilização da história ocidental e existiu por longos cinco séculos.

 

pintura retrata a lenda de romulo e remo, mostrando duas crianças mamando em uma loba
Obra de Peter Paul Rubens ilustra o mito de Romulo e Remo (Peter Paul Rubens/Wikimedia Commons)

Entre os diversos territórios conquistados por Roma e incorporados ao Império Romano está a Península Ibérica, hoje formada principalmente pelos territórios de Portugal e Espanha. Ela foi foi invadida, conquistada e reconquistada diversas vezes ao longo da história. É lá, na Península Ibérica, que nasce a língua portuguesa.

O português, que dá vazão para os relatos de Luís de Camões, poemas de Carlos Drummond de Andrade, contos de Mia Couto e romances de Machado de Assis, tem em sua história lendas, invasões, conquistas grandiosas e mesclas de povos distintos. Em resumo, a língua portuguesa é tão rica na escrita e na fala quanto em sua história. 

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Latim, árabe e as origens do português

Em 218 a.C. teve início a Segunda Guerra Púnica, batalha entre os Impérios Romano e Cartaginense. Foi neste contexto de guerras de conquista que os romanos chegaram à Península Ibérica e, em 209 a.C., expulsaram os cartagineses da região de Cartagena, atual Espanha, conquistando, assim, todo o território.

Os povos que viviam na península foram obrigados pelo Império Romano a adotarem o latim como língua oficial. Apenas o povo basco, que habitava o nordeste da Espanha e o sudoeste da França, não incorporaram o idioma.

 

Mapa Peninsula Ibérica
Região da Península Ibérica conquistada pelo Império Romano e sua divisão nos antigos conventus.
. [Reprodução/Wikimedia Commons] (Wikimedia Commons/Reprodução)

Entre os anos 7 e 2 a.C., o território que hoje pertence à Portugal é dividido em pedaços, os chamados conventus, que eram circunscrições judiciárias das províncias Lusitânia (Portugal) e Bética (Espanha). A área de Portugal nos dias atuais corresponde a quatro desses conventus: Lucus Augustus (hoje Lugo), Bracara (hoje Braga), Scalabis (hoje Santarém) e Pax Augusta (hoje Beja).

No ano de 711, os muçulmanos, chamados pelos povos da Península Ibérica de “mouros”, invadem e conquistam toda a região da península, influenciando a região com sua língua, o árabe e com sua religião e cultura, o islã. Houve, então, uma miscigenação da língua latina com a língua árabe.

Três séculos depois, no século 11, remos cristãos, um povo que vivia no que atualmente corresponde ao norte da França, retomam a região ocidental da península, mais especificamente Coimbra, Santarém, Lisboa, Évora e Faro. Depois de Faro, o último dos territórios a ser reconquistado, em 1249, o território que hoje é Portugal se formou.

Esse período da história, desde a invasão dos mouros até a reconquista pelos remos, foi essencial para o surgimento de três línguas: o galego-português, à oeste da Península Ibérica, o castelhano, no centro da península, e o catalão, a leste da península. O galego-português foi a língua que deu origem ao nosso português moderno. Por isso, é importante conhecer um pouco mais sobre ele

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O galego-português

O reino de Portugal tornou-se independente dos reinos de Leão e Castela no século 12, quando Afonso I se distancia de seu primo, Afonso VII, que era rei de Castela e Leão, e clama pela independência. 

O galego-português foi falado durante o período da Idade Média nos territórios do reino de Portugal, já independente, e Galícia, que hoje faz parte do território espanhol. Os primeiros textos em galego-português datam do começo do século 13.

Segundo Paulo Teyssier, no livro “História da Língua Portuguesa”, o galego-português “é a língua da primitiva poesia lírica peninsular, que foi conservada fundamentalmente em três compilações, das quais só uma foi organizada ao tempo dos trovadores: o Cancioneiro da Ajuda”. Estes cancioneiros, como você provavelmente viu nas aulas de literatura, eram compilações de cantigas trovadorescas produzidas a partir do século 11. Elas reuniam cantigas d’amor, cantigas de amigo, de escárnio e maldizer, todas escritas em galego-português.

Depois da retomada de Faro, em 1249, as fronteiras de Portugal pouco mudaram, assim como sua capital, que desde 1255 é localizada em Lisboa – em grande parte porque Afonso III, sucessor de Afonso I, permaneceu na cidade. Durante todo o período de reconquista e reocupação, o galego-português, nascido na região norte do território, se infiltra por toda Portugal e se mistura com o dialeto moçárabe, trazida pelos mouros e falada em abundância por aquela região, inclusive em Lisboa. Desta mistura, o galego-português foi, aos poucos, se enraizando, fazendo surgir, por fim, o nosso português.

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Enfim, a língua portuguesa

A partir do século 14, por conta da influência dos mouros, a língua portuguesa se separa do galego-português. A partir de 1350, o galego-português passa a ser praticado apenas na região da Galícia, não mais por todo o território de Portugal. No mesmo ano, com a escola literária galego-portuguesa sendo extinta, a língua portuguesa torna-se o idioma oficial de um território: Portugal.

Lisboa, capital de Portugal, foi o local escolhido para a construção do primeiro porto do país, e também se tornou a cidade mais habitada. E é no eixo Lisboa-Coimbra que o português moderno vai tomar força e auxiliar na construção do português como o conhecemos hoje.

Segundo Paulo Teyssier, “alguns estudiosos distinguem na evolução do português dois grandes períodos: o “arcaico”, que vai até Camões (século 16), e o “moderno”, que começa com ele”. Destaca que existem, no entanto, outras divisões como a histórica – que considera Idade Média, Renascimento e os Tempos Modernos – e até a separação por escolas literárias.

No século 15, com as expansões marítimas portuguesas, o idioma português expandiu-se para a África (a partir de 1415), para as Índias (em 1498) e, finalmente, em 1500, para o Brasil, com a chegada de Pedro Álvares Cabral. Mesmo depois do descobrimento do Brasil, Portugal também chegou em territórios mais ao oriente, como a China.

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Todos esses lugares sofreram influência da chegada dos portugueses, que traziam consigo seu idioma. Mas essa foi uma via de mão dupla. Estes territórios, povos, culturas e seus dialetos também influenciaram a língua levada pelos portuguêses, fundando, enfim, a língua portuguesa como se conhece hoje.

O português brasileiro

Em 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral desembarca no que hoje é o litoral sul do estado da Bahia. Em 1532, inicia-se oficialmente a colonização do território brasileiro, com a criação das capitanias hereditárias. A região, que até então era povoada apenas por povos indígenas, passa a receber portugueses e mais tarde povos africanos, trazidos ao Brasil para serem escravizados. Sendo os portugueses colonizadores, sua língua foi a que prevaleceu – mesmo que passível de influências.

“Os ‘colonos’ de origem portuguesa falam o português europeu, mas evidentemente com traços específicos que se acentuam no decorrer do tempo. As populações de origem indígena, africana ou mestiça aprendem o português, mas manejam-no de uma forma imperfeita.” explica o autor de “A História da Língua Portuguesa”. Segundo ele, em paralelo existia o tupi, principal língua indígena das regiões costeiras do país, que também acabou simplificado pelos jesuítas.

Com a independência de Portugal em 1822, o Brasil, e com ele o português, passa a receber ainda outras influências estrangeiras, como a de italianos, franceses e até mesmo de japoneses e alemães, décadas depois. Aos poucos nasce a língua portuguesa praticada hoje, uma rica mistura em constante transformação.

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