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Sobre o que fala “O Avesso da Pele”, livro censurado em escolas

Secretarias de Educação de três estados dizem que obra de Jeferson Tenório foi recolhida por usar "vocabulário inadequado". Saiba os temas do livro

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 8 mar 2024, 12h27 - Publicado em 6 mar 2024, 17h14

Vencedor do prêmio Jabuti em 2021, a maior premiação literária do Brasil, “O Avesso da Pele” foi indicado para compor o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e, com isso, distribuído em escolas públicas do país que aderem ao programa. Parte dos alunos do Paraná, no entanto, não terão a chance de ler o livro em sala de aula. Um ofício da Secretaria de Educação do estado mandou recolher todos os exemplares para “análise”, já que determinados trechos seriam inadequados para estudantes do Ensino Médio. Os estados do Mato Grosso do Sul e Goiás seguiram pelo mesmo caminho. Mas, afinal, o que há de tão incômodo no livro censurado? Qual é a história de “O Avesso da Pele”?

+ O livro censurado no vestibular e a perseguição de professores

As acusações

A campanha contra o romance de Jeferson Tenório começou com a publicação de um vídeo nas redes sociais. A diretora de uma escola do Rio Grande do Sul questionou o Governo Federal pela distribuição de um livro com “vocabulário de baixo nível”. O PNLD, vale lembrar, é de adesão voluntária, e as escolas podem escolher quais obras indicadas pelo programa serão recebidas.

Na esteira do vídeo, a Secretaria de Educação do Paraná mandou recolher os livros para avaliação, alegando que “determinados trechos, algumas expressões, jargões e descrição de cenas de sexo utilizados podem ser considerados inadequados para exposição a menores de dezoito anos”.

+ PNLD: conheça o programa que distribui livros didáticos no Brasil

No centro, o racismo

Ambientado em Porto Alegre (RS), “O Avesso da Pele” tem como narrador o jovem Pedro, que acaba de perder o pai, Henrique, assassinado em uma abordagem policial. Logo nas primeiras páginas, Pedro visita pela primeira vez o apartamento do pai e afirma que a partir dos objetos encontrados ali tentará reconstituir sua vida. “Olho para tudo isso e percebo que serão esses objetos que vão me ajudar a narrar o que você era antes de partir. Os mesmos utensílios que te derrotaram e que agora me contam sobre você. Os objetos serão o teu fantasma a me visitar”, sentencia.

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E é exatamente essa história interrompida de Henrique que o livro conta em suas quase 200 páginas. Por coincidência, o personagem central do romance é justamente um professor de Literatura que leciona em escolas públicas. Por isso, o sucateamento da educação, as precárias condições de ensino e a desigualdade enfrentada por alunos e professores é uma das temáticas mais fortes da obra. Mas a principal, de longe, é o preconceito racial.

Pai e filho são homens negros que enfrentam diariamente o racismo, seja no ambiente de trabalho, em suas relações pessoais, ou quando são vítimas de violência policial. Quando foi assassinado a tiros, Henrique voltava para casa distraído e maravilhado com a aula daquele dia – a primeira em que os alunos ouviram atentos.

“[…] Você nem percebeu quando os reflexos vermelhos de uma sirene bateram na parede de um prédio próximo a você. Nem percebeu a aproximação de uma viatura da polícia, e também não percebeu quando eles param o carro ao seu lado. Você só se deu conta do que estava acontecendo quando um deles falou mais alto e disse para você parar. Era uma abordagem. Sua cabeça ainda estava na sala de aula, ainda estava em Dostoiévski. Ele gritou para você parar. Gritou para você ir para a parede. Mas você não escutou ou não quis escutar. Ele e os outros policiais estavam nervosos, era só para ser mais uma abordagem de rotina. Só isso, vamos, porra, colabora. Mas você não estava se importando mais com a rotina deles. Ele gritou novamente para você ir a parede, ele já estava apontando a arma. Mas para você já não fazia diferença, porque daquela vez eles não iam estragar tudo.”

+ A longa história da violência policial no Brasil

Lista dos vestibulares

A diretora do Rio Grande do Sul que iniciou as denúncias e a Secretaria de Educação do Paraná alegam que o vocabulário utilizado em “O Avesso da Pele” é inadequado para estudantes do Ensino Médio. A banca do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) discorda. O livro faz parte das leituras obrigatórias cobradas no vestibular, que é considerado um dos mais difíceis do país.

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Além disso, outras universidades adotam em seus vestibulares textos importantes da literatura brasileira e que certamente não passariam pelo crivo dos que denunciam o livro de Tenório – a própria UFPR (Universidade Federal do Paraná) cobra o “Poema sujo”, de Ferreira Gullar, que trata sem meias palavras de temas como a morte, a fome e a sexualidade.

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