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A importância das exportações para o Brasil

Afinal, por que é tão importante enviar nossos produtos para o exterior? Entenda a relevância das exportações

Por Bruno André Blume, do Politize!
Atualizado em 8 out 2019, 14h57 - Publicado em 4 jan 2018, 15h38
politize
(Politize!/Politize!)

Você deve se lembrar da Operação Carne Fraca, lá do começo de 2017, realizada pela Polícia Federal, que desvendou um esquema em que funcionários de empresas do setor de frigoríficos pagavam propina a funcionários públicos responsáveis pela fiscalização da qualidade dos produtos, para que permitissem a sua venda mesmo fora da validade ou em condições impróprias para consumo.

A notícia, claro, foi muito mal recebida tanto por consumidores brasileiros, quanto por parceiros comerciais mundo afora, que não tardaram em anunciar a suspensão da importação de produtos das empresas envolvidas no escândalo – como as gigantes JBS e BRF. O caso derrubou o valor das ações dessas empresas na Bolsa de Valores de São Paulo e veio em momento delicado, no meio de uma das mais severas crises econômicas que o país já viveu. Além de tudo, manchou – mesmo que temporariamente – a imagem de um relevante produto da pauta exportadora brasileira.

Mas afinal, por que é tão importante enviar nossos produtos para o exterior? Não seria melhor consumir tudo aquilo que produzimos (exceto, é claro, a carne estragada)? Vamos explicar a relevância das exportações para o Brasil – e, via de regra, para qualquer país.

Negócios internacionais
(scyther5/iStock)

A importância do comércio internacional

Para entender a importância das exportações, é preciso entender a relevância do comércio internacional como um todo. A teoria econômica clássica, desenvolvida a partir do século XVIII, já apresentava argumentos a favor da participação dos países no comércio internacional. As parcerias comerciais, de acordo com essa teoria, sempre seriam benéficas a todos os envolvidos por causa de uma coisa chamada vantagem comparativa. Segundo esse conceito, criado pelo intelectual inglês David Ricardo, cada país seria mais produtivo do que outro em alguma área específica da economia. E essa diferença de produtividade tornaria o comércio algo positivo para todos os seus envolvidos.

Vamos exemplificar. Digamos que dois países, A e B, consomem e produzem frango e automóveis. Se ambos só produzissem frango, o país A conseguiria produzir 100 toneladas de frango, enquanto o país B produziria 80 toneladas. Por outro lado, se a produção dos dois países fosse toda voltada para automóveis, o país A teria capacidade de produzir 50 automóveis, enquanto o país B faria 100.

Tabela 1: Capacidade absoluta de produção de carros e frango – países A e B

Produção Carro Frango
País A 50 200
País B 100 100

Ocorre que o país A não conseguiria consumir todo o frango que poderia produzir, nem o país B teria condições de utilizar todos os seus automóveis. O que fazer nesse caso? Simples: promover o comércio. Enquanto o país A produz frango, produto que consegue produzir com mais eficiência, o país B produz automóveis. Os excedentes que não são consumidos pelas respectivas populações nacionais são exportados e importados.

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Mas a vantagem comparativa vai além do que mostramos no exemplo acima. O que vimos é que o país A produz mais frango do que o país B, em termos absolutos – e da mesma forma o país B produz mais carros do que A. Digamos agora que o país A, na verdade, produz apenas 50 toneladas de frango por hora e a mesma quantidade de tempo rende 100 carros. Ou seja, o quadro ficou desfavorável para A, observe:

Tabela 2: Capacidade absoluta de produção de carros e frango – países A e B

Produção Carro Frango
País A 50 75
País B 100 100

Agora, o país B possui vantagem absoluta na produção de ambos os produtos, frango e carros. Nesse caso, o comércio entre os dois países perde sentido, certo? A resposta é: não! Ainda assim, afirma a teoria econômica, será vantajoso para os dois países manter comércio entre si, mesmo que B seja mais eficiente que A em tudo. Quer ver por quê?

O custo de oportunidade

Tudo se explica por uma coisa chamada custo de oportunidade. O país B possui uma capacidade de produção limitada, portanto precisa escolher como usar sua mão de obra para conseguir os produtos que precisa. Por isso, precisa ter em mente que uma hora de um trabalhador preparando frango significa uma hora a menos produzindo carros. Ou seja, é preciso descobrir quanto cada país perde se focar sua produção em apenas um produto.

No caso do país B, com os números da tabela anterior, o custo de oportunidade de produzir uma tonelada de frango é de 100 ÷ 100 = 1 unidade de automóveis. Por outro lado, o custo de oportunidade para o país A produzir a mesma tonelada de frango é igual a 50 ÷ 75 = 0,66 veículos. Ou seja, a perda que o país A tem ao escolher se focar na produção de frango é comparativamente menor do que a perda que B teria se produzisse apenas frango.

Do mesmo modo, o custo de produção de um veículo para A é 75 ÷ 50 = 1,5 tonelada de frango. Para B, esse custo é de 100 ÷ 100 = 1 tonelada de frango. Ou seja, B perde menos frango que A ao se focar apenas na produção automotiva. Assim, temos:

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Tabela 3: Custo de oportunidade – países A e B

Produção Carros (unidade) Frango (t)
País A 1,5 0,66
País B 1 1

A tabela de custo de oportunidade evidencia que:

  • Para A, 1 carro custa 1,5 tonelada de frango;
  • Para B, 1 carro custa 1 tonelada de frango.
  • Para A, 1 tonelada de frango custa 0,66 unidade de automóvel;
  • Para B, 1 tonelada de frango custa 1 unidade de automóvel.

Logo, A é mais eficiente que B em produzir frango e B é mais eficiente que A em produzir automóveis.

Hipótese 1: produção SEM comércio

Suponha que A dedica metade de sua produção para carros e a outra para frangos. Nessa situação, produziria 37,5 toneladas de frango e 25 unidades de carro. Já B produziria 50 toneladas de frango e 50 carros, conforme mostramos na tabela abaixo.

Produção Carros (unidade) Frango (t)
País A 25 37,5
País B 50 50
Total 75 87,5

Hipótese 2: produção COM comércio

Nessa situação, A volta-se 100% à produção de frango, por isso consegue produzir 75 toneladas. Já B diminui sua produção de frango para que possa produzir mais carros. Ambos realizam comércio, A exportando frango e B exportando carros. Veja como a produção de ambos os produtos aumenta.

Produção Carros (unidade) Frango (t)
País A 85 75
País B 85 15
Total 95

Portanto, se A se especializar em produzir frango e B se especializar em automóveis e ambos realizarem comércio, a produção global de ambos será maior e mais eficiente. Com o comércio entre eles, A poderá adquirir carros a um custo menor e B terá à disposição frangos a um menor custo.

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É por isso que se sustenta que o comércio internacional sempre beneficiará a todos os envolvidos, pois ao explorarem suas vantagens comparativas, os países conseguem obter ganhos de produtividade – fica mais barato produzir e adquirir produtos. Além disso, fazer comércio significa obter produtos que nós não temos condições de produzir internamente. Para pagar pelas importações, é necessário fazer exportações – se não oferecemos nada em troca do que importamos, geramos deficit na nossa balança comercial, pois mais dinheiro sair do país do que entrar. Deu pra entender?

Contêiner em porto
(ake1150sb/iStock)

Na prática, como é a dinâmica das exportações?

É preciso fazer a ressalva de que esse é apenas um exemplo simplificado da teoria das vantagens comparativas, que continuou a ser aprimorada nos séculos seguintes. Esse modelo teórico também ganhou críticas, como a teoria da deterioração dos termos de troca, da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), segundo a qual o comércio internacional pode ser mau negócio para países em desenvolvimento, normalmente com vantagens comparativas em produtos agrícolas, de baixo valor agregado.

De maneira simplificada, essa teoria afirma que o valor dos produtos agrícolas tendem a diminuir, enquanto os produtos de países desenvolvidos (industrializados, de alto valor agregado) tendem a aumentar. Isso tornaria o comércio internacional mais injusto para países subdesenvolvidos, que para solucionar o problema, de acordo com a Cepal, precisariam desenvolver uma indústria própria para de fato experimentar o crescimento econômico.

De todo modo, com a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a liberalização econômica vivida nas últimas décadas, a tendência é que haja cada vez mais abertura comercial no planeta. Tem prevalecido a ideia de que o comércio internacional tende a gerar mais benefícios do que perdas e que abrir os mercados para produtos estrangeiros é melhor do que se fechar para eles.

Ok, e o que isso tudo tem a ver com as exportações brasileiras?

Ora, é para pagar por produtos de nossa necessidade ou desejo feitos por outros países que o Brasil também dedica parte de sua produção para a exportação. Em 2016, por exemplo, nossas exportações geraram divisas (dólares e outras moedas conversíveis usadas em transações internacionais) de US$ 185 bilhões, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e ServiçosParte desses recursos serviu para compensar as importações, que atingiram US$ 137 bilhões. O restante foi incorporado de diversas formas à nossa economia. Ou seja, no final das contas, tivemos uma entrada de divisas no nosso país, agregando ao nosso Produto Interno Bruto (PIB).

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Mas nem tudo é positivo. Esse resultado, que foi o maior superavit alcançado desde os anos 1980 no país, teve a ver com a forte queda das importações (cerca de 20% no ano), causada principalmente pela crise econômica brasileira. O valor das exportações, aliás, também caiu, mas a um ritmo bem menor do que as importações (3,5%). Tudo isso tornou esse resultado, aparentemente positivo, um pouco mais amargo.

A importância da carne nas exportações?

Mesmo sendo um país considerado industrializado, o agronegócio continua a ser um dos setores mais fortes da economia brasileira. Isso pode ser verificado na relação de produtos mais exportados por empresas brasileiras.

Em 2016, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, a carne de frango congelada, fresca ou refrigerada correspondeu a 2,92% das exportações brasileiras. Já a categoria “Carne de bovino congelada, fresca ou refrigerada” correspondeu a 2,35% das exportações. Ou seja, apenas esses dois produtos, de baixo valor agregado, foram responsáveis por trazer cerca de 1 em cada 20 dólares vindos de exportações do nosso país.

Com a deflagração da Operação Carne Fraca, vários importadores da carne brasileira anunciaram suspensões do comércio desse produto, entre eles a União Europeia, formada por 27 países, que suspendeu a compra de carnes dos 21 frigoríficos envolvidos. A China, principal parceira comercial do Brasil, suspendeu as importações da carne brasileira, mas logo as retirou, mantendo medidas restritivas apenas aos frigoríficos sob suspeita. Decisão semelhante foi tomada pelo Vietnã. O Japão suspendeu especificamente a importação do frango – o país asiático é nosso terceiro maior importador desse produto. Muitos desses países também determinaram o aumento da fiscalização dos produtos.

Essas medidas, mesmo que temporárias, geraram grandes perdas: as empresas JBS e BRF – duas gigantes do setor alimentício brasileiro – chegaram a R$ 5,5 bilhões apenas um mês após o início da Carne Fraca. Pode-se dizer que o caso reafirmou a importância do comércio internacional para o Brasil – e também a lição de que negligenciar a qualidade de nossos produtos terá sempre um preço alto para o país.

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