5 questões para entender China e Taiwan – e o que Trump tem a ver com isso
Na semana passada, uma aparentemente inofensiva ligação telefônica provocou um incidente diplomático entre as duas maiores potências econômicas do planeta. No dia 2 de dezembro, o presidente eleito dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, conversou por telefone com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. Segundo a assessoria de Trump, o diálogo foi meramente protocolar – uma troca de cumprimentos pela vitória que ambos obtiveram em eleições recentes. Mas o simples fato desta conversa ter se concretizado foi o suficiente para enfurecer a China.
Existem muitas dúvidas sobre a relação entre China e Taiwan. E o envolvimento do Trump nessa história complica um pouco mais as coisas. Confira a seguir, cinco perguntas e respostas para você entender toda essa confusão.
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1. É verdade que Taiwan faz parte da China?
Depende. Se você perguntar para o governo chinês, a resposta será: “claro!”. Agora se a questão for direcionada aos taiwaneses, eles dirão: “de jeito nenhum!”.
A confusão remete ao final da II Guerra Mundial, em 1945, quando comunistas e nacionalistas entraram em guerra na China. Após serem derrotados pelas forças comunistas de Mao Tsé-tung, em 1949, os líderes do Partido Nacionalista (Kuomintang) fugiram para a ilha de Taiwan, onde fundaram uma república. A China, contudo, considera Taiwan uma província integrada ao seu território, ainda que rebelde.
Nos últimos anos, China e Taiwan estreitaram as relações comerciais, mas a tensão ainda é grande: o governo chinês mantém mais de mil mísseis posicionados em direção a Taiwan e ameaça entrar guerra se a ilha declarar a independência oficial.
2. Qual a relação de Taiwan com o mundo?
Quando a Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada, em 1945, a China foi um de seus membros fundadores. Mas após o fim da guerra civil, em 1949, foi Taiwan que passou a ocupar o assento destinado à China na ONU.
Essa situação durou até 1971, quando a China continental ingressou na ONU, obrigando Taiwan a deixar a instituição. Desde então, o poder político e econômico da China se impõe, obrigando todos os países com quem mantém relações diplomáticas a cortarem os laços oficiais com Taiwan.
Mas esse isolamento político não significa isolamento econômico. Taiwan possui uma economia dinâmica e se tornou um dos principais exportadores da Ásia, mantendo relações comerciais com todo o mundo e participando de blocos econômicos regionais.
Na prática, Taiwan tem todas as condições que o definem como um país: um governo próprio eleito democraticamente, instituições sólidas uma moeda nacional, forças armadas e um território delimitado.
3. Qual a relação de Taiwan com os EUA?
É uma relação um tanto ambígua. Após o fim da guerra civil na China, em 1949, os EUA não reconheceram o governo comunista de Mao Tsé-tung. Já com Taiwan, os norte-americanos estabeleceram uma parceria estratégica em 1954, que garantiu à ilha a proteção militar dos EUA, além de vultuosos financiamentos para desenvolver sua indústria.
A situação mudou em 1979, quando os EUA restabeleceram relações diplomáticas com a China Comunista, reconhecendo-a perante a comunidade internacional como a “verdadeira China”. No entanto, os norte-americanos fizeram questão de manter as relações econômicas e militares com Taiwan.
5. Por que a conversa entre Trump e a presidente taiwanesa irritou a China?
A diplomacia também é feita de pequenos gestos e palavras. Quando o presidente eleito dos EUA e a presidente de Taiwan informam ao mundo que conversaram por telefone, isso soa como um contato oficial entre dois chefes de Estado – ainda que Trump não tenha assumido a presidência e que Tsai Ing-wen não seja vista pela comunidade internacional como presidente de Taiwan.
Para a China, isso é inaceitável. É como se os EUA reconhecessem que Taiwan é uma nação independente e não faz parte da China. Na visão do governo chinês, trata-se de uma violação ao acordo que China e EUA firmaram quando restabeleceram as relações diplomáticas.
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5. Por que Trump conversou com a presidente de Taiwan?
Com toda uma equipe de assessores internacionais ao seu redor, é impossível que Trump não soubesse que a conversa com Taiwan iria provocar uma reação da China. Segundo o jornal “The Washington Post”, Trump planejou a conversa com meses de antecedência. E o objetivo seria justamente sinalizar que seu governo pretende adotar uma posição mais dura contra a China.
Dias depois ao anúncio da conversa, Trump postou a seguinte mensagem no Twitter: “A China nos perguntou se podia desvalorizar sua moeda para evitar competição ou sobretaxar produtos americanos, ou se podia construir uma enorme base militar no Pacífico? Eu acho que não!”.
A mensagem é coerente com o discurso de Trump durante sua campanha presidencial. O então candidato fez duros ataques à China devido à forma como os asiáticos manipulam o seu câmbio artificialmente para que as suas exportações fiquem mais baratas, o que seria uma concorrência desleal. O presidente eleito dos EUA também acusa a China de sobretaxar os produtos norte-americanos, prejudicando suas exportações. Por fim, a base militar no Pacífico a que Trump se refere diz respeito à ocupação que o governo chinês vem realizando no Mar do Sul da China, área em que disputa com Taiwan, Vietnã, Filipinas e outros países do sudeste asiático.
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