Geopolítica: entenda as relações entre Estados Unidos, Vietnã e China
No dia 23 de maio, o presidente dos Estados Unidos (EUA), Barack Obama, anunciou o fim do embargo à venda de armas ao Vietnã. A decisão foi tornada pública durante o encontro de Obama com o presidente vietnamita, Tran Dai Quang, em visita a Hanói, capital do Vietnã. A medida é mais um importante passo para a normalização nas relações entre os dois países, que estiveram em guerra entre 1955 e 1975, em um dos mais importantes capítulos da Guerra Fria.
Mas a retomada das exportações de armas dos EUA para o Vietnã também traz outras implicações. É cada vez maior a tensão entre China e Vietnã, principalmente devido à disputa entre os dois países sobre o controle de áreas no Mar do Sul da China. Dessa forma, o gesto de Obama é visto como mais uma forma de tentar contrabalançar o poder da China, que nos últimos anos tem desafiado a hegemonia norte-americana.
A seguir, explicamos melhor como funciona esta dinâmica geopolítica nas relações entre os três países.
Relações entre EUA e Vietnã
A Guerra do Vietnã foi um dos episódios mais emblemáticos da Guerra Fria, período em que grande parte do planeta ficou dividida em dois blocos: o capitalista era liderado pelos EUA, enquanto os socialistas estavam sob o comando da União Soviética.
Ao vencer a guerra contra os Estados Unidos em 1975, o Vietnã foi unificado sob a bandeira do socialismo. Apesar da vitória contra a potência militar, a guerra deixou o país devastado e isolado no Sudeste Asiático. A partir de 1986, o Partido Comunista adotou uma política econômica mais liberal, introduzindo gradativamente elementos do capitalismo, como a abertura a empresas estrangeiras e propriedade privada.
As relações com os EUA começaram a melhorar a partir de 1994, quando os norte-americanos suspenderam o embargo comercial ao Vietnã. Em 2001, os dois países assinaram um acordo comercial que estreitou de vez os laços entre os dois países. Com a suspensão do embargo à venda de armas ao país, agora em 2016, os dois antigos rivais aprofundam uma aliança contra um rival comum: a China e suas pretensões expansionistas no Sudeste Asiático, em especial no Mar do Sul da China.
Relações entre China e Vietnã
As relações entre o Vietnã e a China cada vez se deterioram mais devido a uma disputa territorial no Mar do Sul da China. A área de 410 mil quilômetros quadrados compreende os arquipélagos de Paracel e Spratly e é reivindicada pela China, que alega ter precedência histórica com base em um pedido feito em 1947. No entanto, países como Vietnã, Filipinas, Brunei, Malásia e Taiwan também disputam a soberania sobre a região e querem negociar com base na convenção da ONU sobre o Direito do Mar, que define zonas de 200 milhas para cada país. O problema é que, devido à proximidade entre essas nações, as fronteiras marítimas não são bem definidas.
Além de ser uma área de interesse para a indústria pesqueira, o Mar do Sul da China é uma importante rota por onde circulam 5 trilhões de dólares em comércio anual. Mas o fator de maior atrito são as potenciais reservas de petróleo, estimadas em até 125 bilhões de barris de petróleo. Mesmo com a indefinição das fronteiras, a China amplia ofensiva para consolidar a ocupação da área em 2014, ao construir ilhas artificiais em Spratly e instalar plataformas para a exploração de petróleo na região. Para tentar conter o avanço chinês, as Filipinas e o Vietnã ameaçam recorrer a tribunais internacionais de arbitragem.
O caso gera importantes desdobramentos geopolíticos. As ambições expansionistas da China são vistas como uma forma de impor sua hegemonia no Sudeste Asiático. Por sua vez, os EUA têm interesse em manter a rota comercial estável e tentam conter a China para sustentar o equilíbrio de forças nessa disputa.
Relações entre EUA e China
A ascensão da economia chinesa nas últimas três décadas elevou o status político da nação a ponto de reacender a rivalidade com os EUA. O reconhecimento da importância geopolítica da China pelos EUA ficou evidente com as novas diretrizes da política externa norte-americana, apresentadas em 2011. Com a estratégia chamada de “pivô”, o governo Obama busca redirecionar seu foco internacional do Oriente Médio para o sudeste asiático e a região do Pacífico, numa tentativa de contrabalancear a influência chinesa.
No campo econômico, a disputa entre os dois pesos-pesados é cada vez mais acirrada. Em 2015, os EUA assinaram a Parceria Transpacífico (TPP), um tratado comercial que inclui Malásia, Cingapura, Vietnã e outros países banhados pelo Pacífico, mas exclui a nação chinesa. A China, por sua vez, busca ampliar acordos comerciais amplos com os países asiáticos e da Oceania. O país também lançou o Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura, instituição com capital inicial de 50 bilhões de dólares que pretende financiar obras que promovam o crescimento do continente e aumentem a influência chinesa na região.
No plano da defesa, incomoda à China as bases militares dos EUA na Coreia do Sul e no Japão, além das vendas de armamentos dos norte-americanos para a rival Taiwan. Por outro lado, as reivindicações territoriais da China no Mar do Sul da China e a disputa pelas ilhas Senkaku/Diaoyu com o Japão colocam os EUA em alerta na defesa de seus aliados na região.
Apesar de vários pontos de desconfiança na relação, China e EUA mantêm uma forte interdependência econômica. A China é responsável pelo financiamento de boa parte da dívida norte-americana. A parceria comercial entre as duas potências também é intensa: a China é o terceiro principal destino das exportações norte-americanas, enquanto os EUA são o maior importador de produtos chineses.