Massacre na Nigéria: entenda os ataques do Boko Haram
Em um ataque que durou cerca de cinco dias, na primeira semana de janeiro, o grupo islâmico Boko Haram matou cerca de duas mil pessoas, segundo estimativas, e destruiu 16 povoados na Nigéria. O atentado, que já é considerado o maior e mais brutal da história do grupo, teve pouca repercussão na mídia internacional.
Veja abaixo os fatos mais importantes sobre o assunto que você deve saber.
Cartaz mostra apoio à revista francesa ”Charlie Hebdo” e pede para que as pessoas também não se esqueçam das vítimas dos ataques do Boko Haram, na Nigéria (Foto: Getty Images)
O ataque
Desde o dia 3 de janeiro, continuando pela semana seguinte, o grupo extremista Boko Haram realizou um massacre que vitimou mais de 2 mil pessoas, de acordo com as estimativas da Anistia Internacional. No total, 16 vilarejos foram totalmente metralhados e incendiados, incluindo a cidade de Baga, centro comercial importante da região noroeste da Nigéria.
De acordo com os sobreviventes, “havia mais corpos do que era possível contar”. Além disso, o grupo também sequestrou centenas de mulheres e meninas provenientes dos vilarejos. De acordo com uma das reféns que foi libertada, Kaltuma Wari, mais de 500 moças estavam com ela sob a vigilância dos radicais. O grupo é o responsável pelo sequestro de 276 estudantes nigerianas, em abril de 2014, que motivou a campanha “bring back our girls”.
História do grupo
Assim como grande parte dos países africanos, a Nigéria enfrenta uma série de problemas políticos e territoriais, causados principalmente pela colonização europeia nos séculos 19 e 20. O norte do país é composto majoritariamente por população muçulmana, enquanto o sul tem maioria cristã. Algumas tentativas frágeis de harmonizar os dois pólos vêm sendo feitas, como a alternância de presidentes muçulmanos e cristãos, mas os conflitos ainda acontecem. O Boko Haram é um dos atuantes nesses conflitos e, hoje, uma das maiores preocupações do governo nigeriano e dos países vizinhos.
O grupo foi fundado em 2002 pelo líder religioso Mohammed Yusuf, com a intenção de formar um Estado muçulmano próprio. Sua origem tem como base uma interpretação radical da fé islâmica, que indica total rejeição ao modo de vida ocidental e a preservação à risca das tradições do Islã. Traduzido, o nome do grupo significa algo como “a educação ocidental é um pecado”. De acordo com a visão de repúdio total à cultura ocidental, todos os civis regidos por essa cultura também passam a ser vistos como inimigos.
(Foto: Getty Images)
Seus militantes atuam no nordeste da Nigéria, o que preocupa os países vizinhos por uma possível invasão. O ataque do início de janeiro é considerado o mais violento do Boko Haram, mas suas ações contra a população civil e contra entidades filantrópicas vêm sendo constantes há vários anos. Geralmente, envolvem ataques suicidas, sequestros (como o das 276 meninas em abril de 2014) e bombardeios em prédios do governo e da Organização das Nações Unidas (ONU).
Por que é importante
Assim como o atentado à revista francesa Charlie Hebdo, em que dois radicais islâmicos assassinaram 12 pessoas no dia 7 de janeiro, o massacre do Boko Haram leva a uma reflexão importante sobre o fundamentalismo islâmico, suas origens e seu vínculo a atentados terroristas nos últimos anos. Além disso, vale um estudo mais aprofundado sobre a história do continente africano e a colonização europeia, que provocou incontáveis conflitos nas décadas seguintes, contabilizando milhares de mortos.
No entanto, é importante atentarmos para o papel da mídia neste episódio. Em uma mesma semana, dois ataques de fundamentalistas ocorreram, no entanto, apenas um recebeu o devido destaque na imprensa. Mas, apesar de a campanha Je Suis Charlie ter obtido muito mais notoriedade, as redes sociais já se pronunciaram por maior visibilidade do massacre nigeriano, exigindo comoção mundial e repúdio à chacina.
Para saber mais detalhes sobre a ação do Boko Haram, acesse este link, da Anistia Internacional, e este, da BBC Brasil, com um resumo da história do grupo. Para entender melhor o fundamentalismo islâmico, acesse aqui (Aventuras na História).
– Acompanhe em tempo real as repercussões do caso
A Fuvest 2015 cobrou uma questão sobre o Boko Haram. Veja: