Todo início de ano a situação se repete: diversos governos estaduais e prefeituras decidem aumentar as tarifas de ônibus e metrô para tentar equilibrar as contas públicas. Por sua vez, a população, que já sofre com a precariedade do transporte público, é obrigada a desembolsar parte substancial de seu salário para se locomover diariamente de casa para o trabalho.
Nos últimos anos, porém, o reajuste das tarifas vem provocando reações populares. O Movimento Passe Livre (MPL), que reivindica a gratuidade no transporte público, liderou algumas dessas manifestações recentes. Neste ano, em São Paulo, o aumento das tarifas da integração de ônibus e trilhos foi contestado judicialmente, e o governador Geraldo Alckimin foi obrigado a suspender o reajuste.
Esses episódios mostram como as questões relativas à mobilidade urbana mobilizam a sociedade dos grandes centros, que passa a pressionar cada vez mais o poder público para melhorar a oferta de transporte. Nas metrópoles brasileiras, o direito de ir e vir é prejudicado devido à falta de planejamento e à prioridade que foi dada ao automóvel durante muito tempo. As vias públicas não garantem fluidez para todos os veículos, o que torna a mobilidade um problema para milhões de pessoas diariamente.
Automóveis x transporte público
A inexistência de uma política clara e contínua de transporte público levou a um serviço caro e de baixa qualidade. Ônibus em número insuficiente realizam percursos demorados, o que implica em superlotação e grande espera nos pontos de parada. Além disso, não houve investimento em transporte ferroviário, enquanto o metroviário foi construído tardiamente. São poucas as capitais brasileiras que dispõem de linhas de metrô.
Como resultado, tivemos uma explosão no uso de automóveis, o que afetou a qualidade de vida nas metrópoles. Além do aumento da poluição, esse fator impactou no tempo gasto no trânsito e no número de acidentes. De acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas em 2013, mais de 41 mil pessoas perderam a vida nas estradas e nas ruas brasileiras. Desde 2009, o número de acidentes de trânsito no país deu um salto de 19 por 100 mil habitantes para 23,4 por 100 mil habitantes, o maior registro na América do Sul.
Para o trânsito melhorar
Urbanistas apontam que, para essa situação mudar, é preciso melhorar a qualidade do transporte público, restringir o uso excessivo do automóvel e integrar os diferentes sistemas, interligando ônibus, metrô, trens de superfície, ciclovias e áreas para estacionar bicicletas, motocicletas e carros.
Algumas cidades brasileiras vêm investindo nessas mudanças. A maior metrópole do país, São Paulo, por exemplo, conta com 481,2 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus, além de corredores, e 381 quilômetros de malha cicloviária, de modo a incentivar a redução do uso de carros.
A prefeitura da capital paulista também instituiu, desde julho de 2015, a redução de velocidade em importantes vias, como nas marginais Tietê e Pinheiros. A ideia é melhorar a fluidez do trânsito e diminuir o número de acidentes. Esta medida, em particular, está sendo revista pela nova administração paulistana.
Além dessas ações, especialistas apontam outras sugestões para melhorar o trânsito:
Pedágio urbano: cobrança de uma taxa dos carros que circulam nas regiões centrais da cidade, medida que já adotada em Londres (Reino Unido) e Estocolmo (Suécia). A proposta foi apresentada em 2010 na Câmara Municipal de São Paulo, mas acabou sendo arquivada.
Carona solidária: uso compartilhado de um automóvel por duas ou mais pessoas que fazem um trajeto comum. Empresas dão benefícios (como vaga em estacionamento) aos usuários, e algumas prefeituras, como São Bernardo do Campo e Sorocaba (SP), já contam com programas do tipo para seus funcionários.
Reorganização do espaço: planejamentos urbanos que aproximem as pessoas de seus locais de trabalho, estudo e lazer de modo a reduzir a necessidade de grandes deslocamentos. Inclui o conceito de cidade compacta, que concentra moradia, comércio e serviços em uma mesma área.
Ampliação do rodízio de veículos: aumento da restrição da circulação de automóveis em determinados locais, dias e horários, de acordo com as placas dos veículos. A medida foi adotada em São Paulo, em 1997. Mas, segundo especialistas, seus efeitos para a diminuição do trânsito já seriam nulos hoje em dia.
Restrição de tráfego e estacionamento: determinados veículos, como caminhões, não podem circular em certas vias em horários específicos. Automóveis contam com menos vagas para parar em vias públicas, e as tarifas de estacionamento ficam mais caras.