
À primeira vista, a resposta parece simples: o plural de camelo é camelos. Mas a Língua Portuguesa sempre reserva detalhes interessantes, e um deles é o coletivo. Quando vários camelos percorrem juntos as dunas do deserto, essa caravana recebe um nome especial: cáfila.
A escolha desse termo não é fruto de uma regra rígida, mas de convenções culturais que foram se consolidando ao longo do tempo. O professor Diogo D’Ippolito, autor de Língua Portuguesa do Sistema de Ensino pH, explica que “não existe uma regra gramatical fixa que determine os coletivos de animais (ou de objetos, pessoas etc.). Eles fazem parte do léxico da língua, isto é, são convenções históricas e culturais que se cristalizaram no uso, como é o caso de ‘cáfila’”.
Assim, o coletivo “cáfila” mostra como a língua reflete a vida prática e o imaginário dos povos que atravessavam o deserto com seus camelos.
De onde vem esses termos?
A palavra camelo tem uma longa viagem etimológica: saiu do hebraico “gāmāl” (que já designava o animal típico dos desertos), passou pelo grego antigo “kámēlos (κάμηλος)”, depois para o latim “camelus” e, finalmente, chegou ao português.
“O interessante é que o radical semítico ‘gamal’ também trazia o sentido de ‘retribuir, devolver’, o que se conecta simbolicamente ao papel do camelo como animal resistente, útil e indispensável para a sobrevivência humana em longas travessias, recompensando o esforço dos povos do deserto”, conta o professor.
Já o coletivo cáfila vem do árabe “qāfila”, que significa literalmente “caravana” — aquele comboio de viajantes que cortava o deserto, normalmente com camelos carregando pessoas e mercadorias.
Exemplos
- A cáfila de camelos seguia organizada pelo deserto em direção ao oásis.
- Os viajantes protegiam a cáfila das tempestades de areia que surgiam repentinamente.
- A antiga rota comercial só era possível graças à resistência da cáfila que transportava especiarias.
- A cáfila descansou ao entardecer, enquanto os mercadores montavam o acampamento.
- Guiada por um beduíno experiente, a cáfila avançava em silêncio sob o sol escaldante.
Cáfila na música? Sim!
Esse termo diferente até ganhou espaço na música infantil. Em 2018, Zeca Baleiro lançou “A Cáfila do Califa” no álbum Zureta Vol. 2, brincando com a sonoridade da palavra de forma lúdica e divertida. A letra explica o coletivo para as crianças em ritmo de cantiga, mostrando que a cáfila é, nada mais nada menos, que um grupo de camelos atravessando o deserto quente. Veja um trechinho:
“Está é a cáfila do Califa
Está é a cáfila do Califa
Você sabe o que é cáfila?
É um bando de camelos no deserto quente, quente
Você sabe o que é Califa?
É assim, tipo um rei
Um reizinho do oriente”.
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