
“Quem é a fêmea do peru? Pavoa, perdiz, perua ou pomba?” Essa foi a pergunta que apareceu em uma edição do Show do Milhão, apresentada por Patrícia Abravanel, no canal do SBT. Valendo uma boa grana, a jogadora pensou, respirou fundo e acertou: a fêmea do peru é a perua. E você, saberia responder? Parece pegadinha, não é?
No português, o feminino de palavras geralmente vem de duas formas: mudando apenas a terminação (como aluno/aluna, cantor/cantora), ou mudando totalmente a palavra, com radicais diferentes (como bode/cabra, homem/mulher).
No caso de peru/ perua, a regra é tranquila: há manutenção do radical com alteração da terminação, o que configura uma flexão de gênero regular.
Uma ave e muitas rotas
O nome “peru” chegou à Língua Portuguesa no embalo das grandes navegações. Segundo o professor Diogo D’ippolito, autor de Língua Portuguesa do Sistema de Ensino pH, “os portugueses, no século 16, chamavam de Peru as terras da América sob domínio espanhol, especialmente a região famosa pelo Império Inca. Por isso, a ave trazida dessas terras passou a ser conhecida como peru, associando o nome do lugar à origem do animal”.
Essa ave passou também por outras rotas geográfica, de acordo com Diogo. Olha só:
- Inglês: “turkey” – achavam que vinha da Turquia.
- Francês: “dinde”, de “poule d’Inde” (“galinha da Índia”), acreditando que a ave vinha das Índias Ocidentais. Curiosamente, “dinde” significa “perua” e o masculino “dindon” (“peru”) surgiu depois, embora o feminino seja mais comum.
- Espanhol: “pavo”, que antes era pavão! Para não confundir, o pavão virou “pavo real” (“pavão verdadeiro”).
- Italiano: “tacchino”, uma onomatopeia do som do bicho, com o sufixo “-ino” de diminutivo.
Ou seja, o nome do “peru”, em várias línguas, é uma viagem por rotas comerciais, confusões geográficas e sons exóticos.
E os outros significados de “perua”?
Além de ser o feminino de peru (a ave), “perua” também ganhou outros usos na Língua Portuguesa, principalmente no Brasil. Pode se referir a:
- Um tipo de veículo: aquele carro alongado, tipo Kombi ou van escolar, que transporta gente pra todo lado.
- Uma mulher vaidosa e extravagante: no uso popular, às vezes pejorativo, é comum ouvir “ela é uma perua”, se referindo a alguém que gosta de roupas chamativas, maquiagem pesada e muitos acessórios.
- Gíria estilizada: em contextos mais bem-humorados ou afetivos, o termo pode ser usado entre amigas de forma carinhosa, com tom de brincadeira.
Esses significados refletem como a linguagem evolui e como uma palavra simples pode carregar muitos sentidos — alguns literais, outros bem culturais.
Exemplos com a “perua ave”
- A perua caminhava com seus filhotes pelo quintal.
- A perua soltou um grito estridente quando viu o cachorro.
- Dona Maria cria galinhas, patos e uma perua no sítio.
- A perua ficou inquieta com a aproximação dos visitantes.
E na música, tem perua também!
Quem nunca ouviu o clássico das Frenéticas, “Perigosas Peruas”? Olha só este trecho:
“Lava, passa, enxágua, enxuga
Molha, seca, enruga
Sobe, desce
Veste, despe
Cuidado, Perua”
O uso aqui é metafórico, claro. “A canção brinca com os estereótipos da figura da ‘perua’ como mulher exuberante, destacando sua força e atitude, em um tom irreverente típico do grupo”, explica Diogo. A linguagem popular acabou ressignificando o termo, e hoje ele vai muito além da ave.
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