Dois quadrinhos para entender a vida no Irã
Conheça as histórias em quadrinhos
(Imagem: Persépolis/Divulgação)
O Irã é um dos protagonistas do cenário global, sobretudo desde a Revolução Islâmica de 1979. Sua importância econômica vem do fato de que possui uma das maiores reservas mundiais de petróleo. Politicamente, o país é um dos líderes do mundo islâmico, em tensão com os Estados Unidos e os países ocidentais há mais de três décadas. Em anos recentes, vive em constante tensão interna e externa. Esse cenário convulsionado é o pano de fundo de duas excelentes histórias em quadrinhos feitas por iranianos que ganharam destaque mundial.
Persépolis, a autobiografa em quadrinhos de Marjane Satrapi, narra a história do país dos anos 1970 até a década de 1990, passando pela Revolução de 1979 – que derrubou a ditadura pró-EUA do xá Reza Pahlevi e implantou a atual república islâmica. Na narrativa de Satrapi, publicada no Brasil em 2007, é como se o povo iraniano tivesse pulado da frigideira para o fogo.
Marjane tinha 10 anos quando se viu obrigada a usar véu e a estudar em uma sala de aula só de meninas. Era o resultado do Estado religioso erguido no país, com sua atmosfera sufocante e autoritária. Persépolis aborda, com humor leve e irônico, o dia a dia opressivo dos iranianos, convivendo com torturas, assassinatos, pressão nas escolas e a guerra contra o Iraque (1980-1988).
O impacto da obra lhe conferiu repercussão mundial e muitas premiações. Persépolis foi escolhida a melhor história em quadrinhos de 2004 na Feira de Frankfurt. Sua versão cinematográfca venceu o prêmio do júri no Festival de Cannes de 2007.
Mais recentemente, os leitores brasileiros puderam ver O Paraíso de Zahra, publicado em 2011, cujos autores são anônimos, com pseudônimos de Amir e Khalil. Trata-se de um retrato candente da sociedade iraniana, em um momento recente: o Movimento Verde, em 2009, em que milhares de pessoas tomaram a Praça da Liberdade, em Teerã, acusando de fraude as eleições que reconduziram o então presidente Mahmoud Ahmadinejad ao cargo. Mais de 70 pessoas foram mortas pela polícia e 4 mil foram presas.
A história começa com o desaparecimento do estudante Mehdi Alavi, de 19 anos, nos protestos. Sua mãe, Zahra, e seu irmão, Hassan, vão à praça e fcam sabendo da violenta repressão. Começam então uma angustiante busca, que se estende por semanas, pelos labirintos de hospitais, repartições públicas e prisões – em busca de Mehdi. É uma viagem pelas entranhas do regime chefado pelos aiatolás.
O Paraíso de Zahra é uma obra em quadrinhos prodigiosa, magnificamente desenhada, que fala muito da realidade do Irã, complementando a história de turbulências e instabilidades retratada em Persépolis. Juntas, as publicações atuam como registro da luta permanente pela liberdade em um país marcado pela opressão.
Persépolis
Autor: Marjane Satrapi
Editora: Companhia das Letras, 352 páginas
O Paraíso de Zahra
Autor: Amir & Khalil
Editora: Leya, 272 páginas