Duas obras narram a ditadura militar no Brasil em charges e quadrinhos
Uma delas foi construída com relatos de pessoas que sofreram repressão no período
As histórias reais de estudantes, militantes políticos, guerrilheiros e líderes rurais e indígenas presos, torturados e mortos por agentes e militares da ditadura (1964-1985) ganham no livro Notas de um Tempo Silenciado uma narrativa jornalística em quadrinhos, com texto e desenhos de Robson Vilalba.
São 13 histórias curtas, reconstruídas após um extenso trabalho do autor em entrevistas com sobreviventes, amigos e familiares das vítimas, autores de biografias, historiadores e pesquisas para conseguir, inclusive, fotos para desenhos realistas dessas pessoas. As primeiras oito histórias reportadas por Vilalba foram originalmente publicadas na série Pátria Armada Brasil, no jornal Gazeta do Povo, de Curitiba. Elas receberam o prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos 2014, organizado pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.
Para este livro, porém, o autor acrescentou outras cinco produções, com destaque para o avanço agressivo dos militares sobre as terras indígenas, a criação de um presídio para indígenas e de uma guarda rural indígena pela Fundação Nacional do Índio (Funai) treinada para torturar líderes dos índios. Um capítulo final (Salvadores da Pátria) resgata o histórico dos golpes como uma herança maldita dos militares, iniciada com a Proclamação da República até chegar ao golpe de 1964, e sua influência do positivismo.
Imagem do livro “Notas de um Tempo Silenciado” (Divulgação)
A obra é enriquecida com uma reportagem sobre a eclosão do movimento negro Black Music nos anos de 1970 no Rio de Janeiro e a repressão a alguns de seus expoentes, além de inúmeros depoimentos sobre cada história revelada, entre os quais o da psiquiatra Maria Rita Kehl, que integrou a Comissão Nacional da Verdade.
Já o arquiteto e artista plástico Luiz Gê aborda o tema com bastante ironia em seu livro Ah, Como Era Boa a Ditadura. A obra traz charges publicadas pelo no jornal Folha de S.Paulo a partir de 1981, sobre fatos políticos, econômicos e sociais do último governo militar, o do general João Baptista de Oliveira Figueiredo. Luiz Gê explora fatos como a explosão da dívida externa, a derrocada econômica e a chamada estagflação (estagnação econômica simultânea a desemprego com taxas de inflação estratosféricas) – resultado da submissão dos militares à imposição de políticas recessivas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) –, as armações políticas que impediram a volta de eleições diretas para a Presidência já em 1985 e os personagens políticos daqueles anos.
Textos introdutórios no livro, e na abertura de cada ano, situam o leitor mais jovem sobre fatos e aspectos do período para ajudar a entender a ironia das charges. Além de um texto conclusivo, Luiz Gê agrega uma galeria dos principais personagens, em que revela seu talento para fazer caricaturas.
Notas de um tempo silenciado
Autor: Robson Vilalba
Editora: BesouroBox, 103 páginas
Ah, como era boa a ditadura
Autor: Luiz Gê
Editora: Quadrinhos na Cia. (Companhia das Letras), 288 páginas.
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