Fundada em 1876 por Dom Pedro II, a Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) é um dos mais antigos centros de estudo de mineração no país. A região do quadrilátero ferrífero, em Minas Gerais, sempre foi marcada pela extração de minério de ferro, manganês e ouro – este explorado desde o século XVII, período em que a área começou a ser povoada e ganhou ares de cidade – e Ouro Preto se destacou, desde então, no ensino da atividade mineradora. Dentro da instituição centenária, nasceu também o curso de Engenharia de Minas de que vamos falar hoje. Avaliada em cinco estrelas pelo Guia do Estudante, a graduação forma profissionais responsáveis por buscar jazidas de minérios e coordenar projetos de extração e separação e beneficiamento dos materiais encontrados. Além disso, é importante que o engenheiro de minas desempenhe seu trabalho atento à minimização dos impactos ambientais causados pela exploração de recursos naturais.
O curso de Engenharia de Minas da UFOP é integral, tem duração mínima de cinco anos e recebe 36 novos estudantes semestralmente. O ingresso na universidade se dá por meio do Enem, através do Sisu. Caio Silveira, estudante do oitavo semestre, conta que escolheu a federal de Ouro Preto devido à tradição no estudo de minas da instituição centenária. “A mineração brasileira surgiu aqui na Escola de Minas. Temos professores renomados, contato com grandes mineradoras e empresas do setor além de uma convivência única que só Ouro Preto permite!”, explica. O cenário minerador esteve presente no cotidiano de João Otávio Oliveira desde cedo. O aluno do sexto período cresceu em Pains, uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, que tem como principal atividade econômica a mineração de calcário.
Estrutura do curso
O ensino da mineração na federal mineira é voltado principalmente para a lavra e para o tratamento de minérios. A primeira etapa envolve a retirada do minério das jazidas e, após esse processo, ele passa por uma série de beneficiamentos que o tornam um produto comercial com valor agregado. Há também em Engenharia de Minas as áreas de economia e de pesquisa de minérios que têm menor ênfase na UFOP. Além das clássicas noções de Engenharia que o estudante encontrará ao longo do curso, a Geologia também estará presente em toda a graduação por ser uma das bases para o estudo de minas. A essa temática estão relacionados os principais trabalhos de campo de Engenharia de Minas.
Como o curso é ministrado em um prédio antigo, os alunos destacam que os laboratórios são bem equipados, mas um pouco ultrapassados. “A infraestrutura é boa. Não tem tudo do que é mais sofisticado atualmente, mas atende bem às necessidades”, diz Caio. No entanto, João Otávio lembra no final deste ano será inaugurado um novo edifício, com instalações atualizadas, que abrigará todas as atividades do departamento de Minas. Os campos também não são muito frequentes ao longo da graduação, como a maioria dos alunos pensa ocorrer. “Essa é uma deficiência do curso. Nós fazemos algumas visitas técnicas a minas e a empresas, como à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e algumas idas a campo, mas elas são reduzidas pela dificuldade de conseguir recursos financeiros suficientes”, conta João Otávio.
Área de atuação
A demanda por engenheiros de minas ultrapassa as fronteiras de Minas Gerais. Além da região do quadrilátero ferrífero em que a UFOP se encontra, há outros polos de mineração no Brasil, como, por exemplo, em Goiás, Maranhão e determinadas regiões do nordeste e do norte. A reserva de Carajás, no Pará, abriga hoje a maior jazida de minério de ferro do mundo. No mercado de trabalho há local para o profissional tanto na lavra e no processamento, quanto em setores relacionados à mineração, como em projetos, logística e transporte, comércio e também a área jurídica. Esta última se destaca devido à legislação ambiental que prevê penas rígidas, como o fechamento de minas e multas milionárias, para empresas que descumprem o código brasileiro. Por isso, o engenheiro de minas também é responsável por realizar estudos de impacto no meio ambiente em conjunto com engenheiros ambientais. Além disso, a área mineradora em grandes empresas prevê um trabalho multidisciplinar realizado também com engenheiros metalurgistas, civis e geólogos.
Grande parte dos profissionais atua em regiões mineradoras já conhecidas e exploradas, porque a extração em novas áreas, ainda que ricas em minerais, é uma atividade de risco. “Tornar viável um projeto de mineração é muito difícil. Quando há uma concentração de mineral passível de ser explorado é preciso que haja muito estudo antes que aquele local venha a ser uma jazida, até devido às complicações ambientais”, explica João Otávio. Por isso não é incomum ver engenheiros de minas ocupando cargos de gerenciamento. “Muitos dos meus amigos que já estão no mercado de trabalho acabaram assumindo posições gerenciais em empresas. O que aprendemos na universidade, muitas vezes, serve como base para uma atuação mais ampla, não diretamente na mina”, reforça.
Vida de universitário
Mas com aulas de manhã e à tarde e uma infinidade de relatórios para fazer, dá tempo de participar de atividades de extensão e se divertir? Claro! – os estudantes são unânimes. A vivência universitária em Ouro Preto não se resume à sala de aula. Pedro Mesquita, do oitavo período, é um dos exemplos. O estudante de Engenharia de Minas é presidente da Associação Desportiva da Escola de Minas (ADEM) – responsável, entre outros esportes, por um time de futebol de campo que disputa campeonatos locais, como a liga amadora da cidade. “É um trabalho muito gratificante em que podemos desenvolver bastante nossa gestão de pessoas, essencial para um bom engenheiro”, argumenta. E a agenda de Pedro não para por aqui! Ele também dá aulas gratuitas de karatê em um projeto de extensão de artes marciais da universidade. A atividade acontece na própria UFOP, no ginásio de ginásticas da universidade, é aberta a toda a comunidade de Ouro Preto e oferece também outras modalidades de luta ministradas por estudantes, como judô, jiu-jitsu, aikido e tae-kwon-do.
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Para os futuros calouros que precisarem de ajuda com materiais e dúvidas sobre a graduação e a faculdade há o centro acadêmico da Engenharia de Minas (Seminas) que promove a recepção dos novos alunos, dá dicas sobre a universidade e é também um local de troca de ideias e socialização entre os estudantes. Todos diretórios dos cursos de Engenharia, inclusive o Seminas, são apoiados pelo centro acadêmico da Escola de Minas (CAEM), órgão responsável pela organização de eventos e festas, do qual Caio faz parte.
A tradição de repúblicas de Ouro Preto e as festas e encontros promovidos por elas (!) também são alguns dos pontos altos de estudar na UFOP. A universidade é reconhecida pela assistência à permanência estudantil e oferece, além de moradia universitária, vagas em repúblicas federais – casarões que abrigam boa parte dos estudantes da instituição. A tradicionalidade é mantida também nesses espaços: o bixo, como o calouro é chamado, precisa desempenhar algumas tarefas para ser oficialmente aceito na república. A gente explica: caso você procure uma república, precisará passar por um período de adaptação na casa. Durante esse tempo o bixo executa tarefas diárias, como tirar o lixo, limpar o quintal e lavar a louça. “Se os moradores julgarem que ele tem condição de manter a casa e suas tradições, o bixo é escolhido como morador e no período seguinte é responsável por ensinar aos próximos ‘pretendentes a moradores’ sobre a casa e as tarefas”, completa Pedro.
Se você não está muito convencido com esse sistema e não quer passar por trotes, o estudante acrescenta que existem também as repúblicas particulares e pensões: “na UFOP não existem calouros nem veteranos. Aqui se você não morar em república, não sofrerá nenhum trote, nem quando vier fazer matrícula”. Então, não há motivos para ficar com um pé atrás com relação à Ouro Preto. A cidade, além de histórica e repleta de atrações turísticas, é cercada por montanhas e cachoeiras e tem custo de vida barato se comparada aos grandes centros.