Conheça o curso de Obstetrícia da USP (e saiba também sobre parto normal!)
Você já ouviu falar em Obstetrícia? Se ainda não, vamos mudar isso agora. 😀 Mas já vou avisando que não me refiro à especialização médica. Falo aqui sobre o curso de Obstetrícia da Universidade de São Paulo (USP), que forma profissionais da saúde responsáveis por acompanhar e orientar a mulher que deseja ter filhos e sua família, desde antes da gravidez até o pós-parto. O objetivo é preservar e garantir a qualidade de vida da mãe e dos recém-nascidos, especialmente nos primeiros dois meses, e promover uma visão humanizada, fisiológica e positiva da gestação, da maternidade e da paternidade. O obstetriz também realiza partos normais e pequenas intervenções para facilitar o nascimento da criança – já as cirurgias como a cesariana, por exemplo, são responsabilidade exclusiva dos médicos obstetras. Essa é a única graduação do tipo no país e foi avaliada em cinco estrelas pelo Guia do Estudante.
(Imagem: Thinkstock)
O curso e o crescimento do mercado de trabalho para a profissão têm tudo a ver com a série de medidas lançadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que incentivam a realização de parto normal, tanto na rede pública quanto no sistema privado. A iniciativa, que entrou em vigor no início deste mês, se deu principalmente porque o Brasil é o país que mais realiza cesarianas no mundo inteiro, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS). De todos os partos ocorridos aqui, 53,7% são feitos por meio da cirurgia. O número é ainda maior quando consideramos somente os partos feitos por planos de saúde: 84% das crianças brasileiras nascem dessa forma, como atesta o Ministério da Saúde. Na maioria dos casos, a operação é desnecessária por ser um procedimento invasivo e, muitas vezes, antecipar o nascimento do bebê. Assim, a cesária deve ser feita somente quando a gravidez apresenta risco para a mãe ou para o filho.
Com a política de promoção do parto normal e redução do número de cesárias – agora o médico precisa preencher um documento que justifique a realização de cirurgia –, os obstetrizes tornam-se peças importantes da equipe de saúde dos hospitais. “Acredito que todo profissional que se empenhe em respeitar os direitos das mulheres, o seu direito de escolha e que verdadeiramente acredite no parto normal como um evento fisiológico e que, portanto, faz parte da vida da mulher e da família, será mais procurado”, opina Fernanda Alves, aluna do décimo semestre do curso da USP. E Jessica Carvalho, do oitavo período, completa: “A medida tem uma grande importância no contexto atual obstétrico, porque nós trabalhamos para reduzir índices de óbito materno, mortalidade infantil, além de tentar assegurar o bem estar do recém-nascido”.
Estrutura do Curso
O modo humanizado e holístico de tratar o parto e a gravidez certamente está relacionado à grade curricular da graduação. O curso, que recebe 60 calouros anualmente e tem ingresso pela Fuvest – e a partir de 2016, também pelo Sisu – é oferecido na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, no campus da zona leste de São Paulo. Nela, tanto os alunos de Obstetrícia quanto os estudantes das outras nove carreiras que lá são ministradas têm aulas juntos durante um ciclo básico de um ano. Imagine só: futuros obstetrizes e pessoas que cursam Têxtil e Moda, Sistemas de Informação, Lazer e Turismo, Gestão Ambiental e Educação Física estudam os mesmos conteúdos! Durante dois períodos, disciplinas como Tratamento e Análise de Dados, Sociedade, Multiculturalismos e Direitos, Ciência da Natureza e Resolução de Problemas fazem parte do dia-a-dia dos alunos.
Para Jessica, matérias interdisciplinares como Resolução de Problemas foram uma boa surpresa. “Nas aulas nós enfrentávamos alguns impasses que eram contextualizados com a nossa vida cotidiana e profissional. E aí, de forma coletiva, procuramos caminhos inovadores para solucioná-los. Gostei bastante!”, conta. Após o período inicial os alunos partem para disciplinas mais específicas da área de Obstetrícia. Assistência ao Recém-Nascido e Lactente, Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos, Assistência à Saúde da Mulher na Família e na Comunidade, Administração de Serviços de Atenção à Saúde e Bioética e Dilemas na Reprodução Humana são algumas delas. A grade completa pode ser vista aqui.
(Imagem: Thinkstock)
Estágios
Ao longo do curso, especialmente nos dois anos finais, os estudantes precisam realizar estágio obrigatório em diversas áreas da profissão. Além do trabalho ocasional no Hospital Universitário, os futuros obstetrizes passam por experiências profissionais em salas de parto, unidades básicas de saúde e também em setores de administração de serviços de saúde. Então, se você tem interesse em cursar Obstetrícia, saiba que vai ter que por bastante a mão na massa!
Fernanda, que pretende prestar concurso público para trabalhar na assistência ao parto normal e realizar uma pós-graduação na área, lembra que o estágio é uma boa forma de estar em contato com o dia-a-dia da profissão. “Já estagiei em diferentes hospitais públicos na área da assistência ao parto normal e em unidades básicas de saúde, realizando pré-natal e exames ginecológicos. A oportunidade é sempre muito proveitosa porque você pode aprofundar seus conhecimentos, assim como estar mais próximo da realidade do campo de trabalho e sua rotina”, observa.
Mercado de trabalho
Além do auxílio à mãe e à família, realizados de forma autônoma e em domicílios, os obstetrizes podem integrar equipes de saúde – que, geralmente, contam com profissionais como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos – em maternidades, unidades de saúde, ambulatórios, casas de parto e consultórios, sejam eles públicos ou privados. A pesquisa acadêmica também é bastante incentivada pelo curso da USP, lembram as estudantes.
O aumento da procura pelo parto normal, como falei lá no início do texto, impulsionou bastante o crescimento das áreas de atuação dos obstetrizes. Pense comigo: hoje há em circulação um volume muito maior de informações sobre gravidez e partos do que há cinco anos. Provavelmente você mesmo conhece alguém que optou por um procedimento humanizado. Fernanda acredita que isso ocorre porque “certas condutas que habitualmente eram adotadas durante o parto são agora reconhecidas como violência obstétrica”. “Com isso há uma boa demanda para o profissional obstetriz, porque as mulheres e as famílias estão se atualizando, procurando, pesquisando por atendimento diferencial, o que amplia nosso mercado de trabalho”, resume Jessica.
Vida de Estudante
Jéssica Carvalho: “O trote de Obstetrícia é ‘mais amor’! Hahaha. Os veteranos são muito amigos, e ninguém faz nada que não quer. O dia acaba sendo super divertido, porque você se enturma logo e conhece o pessoal mais velho no curso. Além disso, depois acontece a semana de recepção: são cinco dias inteiros de atividades planejadas pelos veteranos para todo mundo se conhecer melhor, dar apoio, e tirar dúvidas sobre a faculdade e o campus.” Fernanda Alves: “Agora que estou quase formada, posso dizer que aproveitei bastantes todas as atividades extracurriculares na faculdade e penso que foi uma das melhores escolhas. Participei do centro acadêmico de Obstetrícia, promovendo cursos e atividades conjuntas com outras graduações da Saúde, entrei na atlética logo no primeiro ano de universitária e ajudei a promover festas para arrecadar fundos para o curso. Ah! E também participei de projetos de iniciação científica por vários anos, aprofundei muito meus conhecimentos e tive oportunidade de apresentar meus resultados de pesquisa em outras cidades. “ |