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O que faz um diplomata?

Pedimos a um diplomata para contar sobre seu trabalho

Por Malú Damázio
Atualizado em 26 out 2017, 16h45 - Publicado em 19 jun 2015, 12h20

O que faz um diplomata?

(Imagem: Thinkstock)

O início de 2015 foi marcado para o Brasil, no campo das relações internacionais, pelo caso de Marco Archer Cardoso Moreira, preso e executado na Indonésia por tráfico de drogas. Marco foi o primeiro cidadão brasileiro condenado à pena de morte e teve o fuzilamento ordenado pelo governo indonésio. No fim de abril, o paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte também foi morto no país asiático pelo mesmo motivo. Para tentar evitar as duas situações, a equipe do ministério das Relações Exteriores do Brasil e a presidente Dilma Rousseff enviaram pedidos de clemência ao presidente da Indonésia, Joko Widodo, que negou a suspensão da pena. O ocorrido resultou, então, em um desacordo diplomático entre as duas nações.

Esta semana a leitora Maiara Felipe nos enviou uma dúvida sobre o trabalho de um diplomata – que atua em situações como essa:

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“Bom dia, meu nome é Maiara Felipe, tenho 15 anos e quero me formar em Relações Internacionais para depois prestar o concurso do Instituto Rio Branco que possibilita o ingresso na carreira diplomática. Minha dúvida é sobre o que irei fazer após terminar o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática, pois gostaria de saber como é a vida de um embaixador. Quais são as atividades diárias? Qual é o horário de trabalho? Trabalha em que dias da semana? Desde já muito obrigada.”

Quando há uma situação delicada entre governos de países diferentes, como a que vimos agora, a questão é tratada como um problema de diplomacia. Mas a carreira diplomática vai além de solucionar impasses. O profissional é responsável por representar o Brasil em outras federações ou em instâncias internacionais nas mais diversas áreas: administrativa, cultural, ambiental, econômica, consular, política, entre outras. Para assegurar a diversidade de atuações e funções que cabem a um diplomata, então, qualquer pessoa que tenha ensino superior pode prestar a prova do Instituto Rio Branco, que aplica o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática do Itamaraty – o ministério das Relações Exteriores brasileiras. Assim, é comum que o país tenha na equipe diplomática internacionalistas, médicos, jornalistas, engenheiros, administradores, economistas, historiadores.

Outra confusão comum sobre a carreira é quanto ao cargo de embaixador. Esse é um dos mais altos postos de trabalho dentro da diplomacia, campo que tem funções hierarquizadas. Quando aprovado no concurso, o diplomata se torna, de pronto, Terceiro Secretário. E, conforme suas atividades vão se aprimorando, ele pode passar para os estágios seguintes, sendo eles, respectivamente, Segundo Secretário, Primeiro Secretário, Conselheiro, Ministro de Segunda Classe, e Ministro de Primeira Classe. Este último pode, enfim, ser indicado pelo presidente da República para assumir as cadeiras de Embaixador ou de Cônsul-Geral.

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Quem esclarece essa e outras dúvidas da Maiara para o Guia do Estudante é Hayle Gadelha, que, atualmente, trabalha como Segundo Secretário em Londres com a promoção da cultura brasileira no Reino Unido. Hayle estudou Administração na faculdade, é mestre em diplomacia e faz doutorado em História da Arte – olha só como o diplomata é um profissional multidisciplinar! – e conta que, antes de iniciar sua carreira, o candidato selecionado pelo exame de admissão passa por um curso de formação no Instituto Rio Branco.

Confira seu depoimento!

Hayle Gadelha, diplomata adido cultural do Brasil no Reino Unido:

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“Oi, Maiara! Em primeiro lugar, estudar Relações Internacionais é um bom caminho, mas não o único para tornar-se diplomata. Na verdade, qualquer graduação em nível superior permite o ingresso na carreira diplomática. Eu, por exemplo, sou formado em Administração, mas tenho colegas médicos, engenheiros, arquitetos, filósofos.

O concurso de admissão é bastante rigoroso – um dos aspectos mais interessantes do exame, mas que também o torna especialmente difícil, é a variedade de matérias que ele compreende: de História e Geografia a Direito e Economia, passando pelas línguas e pelas Relações Internacionais, entre outras disciplinas.

O candidato aprovado no concurso – que costuma ser realizado anualmente – é nomeado Terceiro Secretário, o primeiro degrau da carreira, que é conhecida por ser tradicionalmente hierárquica. Antes de iniciar suas funções, o diplomata passa por curso de formação no Instituto Rio Branco, em Brasília, de onde é alocado em alguma das várias divisões e departamentos do Ministério das Relações Exteriores, mais conhecido como Itamaraty.

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Nesse momento, fica evidente uma das principais características da carreira diplomática: a diversidade de áreas de atuação. Entre as muitas, menciono as temáticas (comércio, meio ambiente, cultura, finanças, energia etc); geográficas ou políticas; administrativa; consular; e cerimonial.

Como se percebe, é enorme a variedade de funções exercidas pelos diplomatas; e, portanto, difícil descrever suas atividades diárias.

No meu caso, iniciei a carreira no Departamento da América do Sul, onde acompanhei o relacionamento entre o Brasil e os seus vizinhos, em temas tão diversos quanto à construção de infraestrutura para conectá-los ou a segurança nas fronteiras. Trabalhei, ainda, com a cooperação entre os países da região para o desenvolvimento da Amazônia, que se tornou objeto da minha dissertação de mestrado.

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Em seguida, fui enviado para Pequim, onde, por três anos, chefiei o setor comercial da Embaixada, buscando aumentar e diversificar os fluxos de comércio e investimento entre o Brasil e a China. Hoje, exemplificando a versatilidade exigida do diplomata, sou o Adido Cultural do país em Londres, e minha tarefa é promover nossa cultura e expressões artísticas aqui no Reino Unido.

Por ser uma carreira de Estado, trabalhamos em regime de dedicação integral, devendo estar disponíveis sempre que formos solicitados. Além de minha rotina diária e intensa na Embaixada, acabo participando de muitos eventos culturais fora do horário regular, em razão do cargo que aqui ocupo.

Atualmente, sou Segundo Secretário, o grau seguinte ao de Terceiro Secretário. Os próximos passos da hierarquia diplomática são Primeiro Secretário; Conselheiro; Ministro de Segunda Classe; e Ministro de Primeira Classe.

Aqueles que alcançam o topo da carreira costumam ser indicados pelo Presidente da República ao cargo de Embaixador – seu representante junto a outros países – ou de Cônsul-Geral, que assiste os brasileiros no exterior e lida com as viagens de estrangeiros ao Brasil.

Finalmente, devo dizer que além de possibilitar-me servir ao interesse público e ao desenvolvimento nacional, a diplomacia permite experiências muito diferentes, pois nós diplomatas passamos a maior parte da vida fora do Brasil, aprendendo sobre outras culturas e sobre como o contato com elas pode resultar em benefícios sociais, políticos e econômicos para o nosso país.”

 

 

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