Vagner Pin, diretor da Pfizer, uma das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, dá dicas sobre o curso e a carreira de Farmácia
Quem escolhe a carreira de Farmácia geralmente se imagina trabalhando em um laboratório, cercado por substâncias químicas. Pelo menos era assim que se imaginava Vagner Pin, quando se formou no curso, no fim da década de 1980. No entanto, o ramo farmacêutico oferece muitas possibilidades para o estudante. A vida levou Pin a escolher caminhos alternativos e hoje ele é diretor comercial da Pfizer Brasil, uma das maiores empresas farmacêuticas do mercado, segundo ranking da Revista Exame de 2012.
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A escolha da profissão e da faculdade
Antes de decidir por Farmácia, Vagner Pin chegou a pensar em cursar Medicina, mas não se imaginava na função de atendimento ao público. “Queria algo que fosse mais dinâmico, onde eu pudesse produzir algo”, revela. O curso de Farmácia, logo descobriu, possibilitava o trabalho em fábricas, com a produção de medicamentos. O estudante, então, uniu seu interesse pela química à sua curiosidade para saber como eram feitos os remédios. “Ficava imaginando: ‘O que há por trás daquela caixinha de medicamento? ’ Queria ver aquilo sendo produzido e leva-lo à população”, conta.
Com a decisão tomada, era a hora de escolher a faculdade. Pin optou por estudar na Universidade São Francisco, em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, por indicação de uma de suas primas, que já havia feito o curso na instituição. “Era a oportunidade que eu queria para sair de casa e estudar fora”, explica o profissional, que nasceu e cresceu na capital paulista.
No último ano de faculdade, Pin precisou escolher uma especialização. Optou pelo ramo de Farmácia Industrial, pois sua grande vontade era trabalhar produzindo medicamentos. O curso tem, em média, duração de cinco anos. Ele conta que os quatro primeiros anos dão a base para o estudante e, com o conhecimento adquirido, é possível trabalhar em uma farmácia ou até mesmo ter a sua própria. Além de muita química, o estudante também se depara com conceitos de administração, já que poderá ter seu próprio negócio.
O dia a dia da profissão
Durante a faculdade, Pin precisou cumprir estágio obrigatório. Começou trabalhando em uma farmácia de homeopatia e depois em uma farmácia tradicional. O estudante participava ativamente não só da manipulação das substâncias, como também de outros processos administrativos da farmácia. “Você aprende não apenas o atendimento, mas também como funciona o negócio. Onde deve ficar cada tipo de medicamento, quais são mais vendidos, como eles devem ser classificados”, conta.
Depois desta experiência, Pin finalmente realizou seu sonho de trabalhar em uma indústria. Para o melhor aluno da turma era oferecido um estágio na Fundação para Remédio Popular (FURP), empresa estatal que produz remédios para o governo de São Paulo. O farmacêutico tinha excelente desempenho acadêmico e foi escolhido para o trabalho. “Trabalhei lá durante quase um ano. Entrei direto na área de produção da FURP”, explica.
A FURP, assim como outras fábricas de medicamentos, e a Pfizer, é divida em três grandes áreas: produção, controle de qualidade e pesquisa e desenvolvimento. Dentro da produção, o estudante passou por todas as subdivisões da área: produção de sólidos, mistura de componentes, granulação (onde se prepara a base para os remédios), área de capsulas, de comprimidos, além da de pomadas.
O dia a dia da indústria inclui uma lista de itens como base. A área de suplementos define quais medicamentos estão sendo requisitados e envia para a área de pesagem. Por sua vez, este setor separa os materiais e os envia à área de granulação, responsável por fazer a mistura das substâncias. Os medicamentos são produzidos em toneladas, por isso Pin explica que o rigor na fiscalização da produção é muito grande. A área de controle de qualidade recolhe amostras durante o processo para analisar se o produto está com a quantidade desejada de cada material.
A virada na vida profissional
“Eu me formei em uma época extremamente complicada. Com o plano Collor no começo da década de 1990 e a crise no mercado, não tinham muitas opções de trabalho e acabei saindo totalmente do segmento farmacêutico”, revela Vagner Pin. O momento difícil na carreira e a mudança de área, no entanto, seria essencial para sua ascensão profissional.
Começou a trabalhar em uma agência de marketing, com planejamento estratégico de produtos. No entanto, lá no fundo, Vagner sabia que a sua vocação era a área de farmácia industrial. “Então, num belo dia, pensei que seria bom procurar uma oportunidade dentro de uma empresa farmacêutica, mas dentro do escritório”, explica. Foi aí que conseguiu uma oportunidade na Pfizer.
“Sai da faculdade pensando que iria trabalhar em uma fábrica e que iria ficar lá a minha vida inteira. O mais importante é a pessoa ver que não existe só a área de pesquisa e de análise para trabalhar”, conta.
Pin aponta outros setores em que também é possível trabalhar como farmacêutico: “Na área regulatória, você precisa lidar direto com a ANVISA e não é só reunir papeis para pedir a aprovação de um produto. É preciso entender de Farmácia para trabalhar com isso. Na área de atendimento a médicos e na de marketing, o conhecimento teórico de Farmácia são diferenciais importantes para quem quer crescer na carreira”. Por ter se formado na profissão, Vagner Pin explica que isso o ajudou a ser respeitado como um colega quando se dirigia aos profissionais da saúde para apresentar um medicamento. “Eles viam que eu sabia realmente do que estava falando”, admite.
Oportunidades no mercado de trabalho
O farmacêutico aponta a área de cosmético e dermatologia como “extremamente promissora”. “Pelo próprio crescimento no poder de consumo da classe C, as pessoas que não tinham tanto acesso antes a esses produtos agora estão começando a comprar cremes para o corpo, maquiagem…”, explica Pin. O único “porém” do setor é, de acordo com ele, a concorrência com o segmento dos formados em Química.
Outra área que sempre aparece bem no mercado é a de indústrias farmacêuticas. “Querendo ou não, medicamentos são produtos que as pessoas sempre vão precisar”, analisa. Apesar de ser um pensamento negativista – esperar que as pessoas adoeçam para usar remédios – Vagner explica que não pensa dessa forma. “Eu levanto todos os dias pensando que posso salvar a vida de uma pessoa com um produto. Acho que é isso que vale a pena. Quando faço uma venda, celebro o negócio porque alguém terá acesso a um produto que lhe trará um benefício”, explica. “Não é só na produção que você poderá ajudar as pessoas. Você também estará ajudando ao vender um medicamento ou ao apresenta-lo a um médico”, completa.