Análise da redação “Amor na contemporaneidade”, texto editorial, tema retirado do vestibular 2013/2 da UFG

Nesta semana, publicamos a análise da redação “Amor na contemporaneidade: condição para a realização pessoal ou aprisionamento de subjetividades?“, tema retirado do vestibular 2013/2 na Universidade Federal de Goiás (UFG). O estudante poderia falar sobre a questão de duas formas, escrevendo um conto ou um editorial.
Na semana passada, o GUIA DO ESTUDANTE publicou o conto referente à proposta. Hoje, colocamos no ar a análise feita sobre o editorial.
O texto
Amor na contemporaneidade: condição para a realização pessoal ou aprisionamento de subjetividades?
O amor existe desde os primórdios, porém ele aparece com transformações para cada época da história, e que nos dias de hoje é mais “necessário” do que verdadeiro. Na música ”Todo amor que houver nessa vida” de Cazuza/Frejat, é abordado o amor como um sentimento paradoxal ,onde é desejado amar aos extremos mesmo sabendo que será tedioso e monótono. Devido a subjetividade, a definição do amor não é única, e cada um interpreta como deseja.
A psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, diz que o amor romântico prega coisas mentirosas, como que se não existisse desejo por mais ninguém, pois os amados se completam e suprem qualquer necessidade do outro. “O Livro do Amor”, autoria de Lins, se inicia desde a pré-história, onde ela afirma que a mudança do amor na contemporaneidade é culpa das invenções do automóvel e do telefone. A escritora diz que a gentileza é diferente do cavalheirismo, o qual implica no homem sempre tratar a mulher como uma incompetente. Defende também que se trata do amor romântico quando a base é a idealização da outra pessoa, dando a ela características não existentes. Concluindo então que as pessoas só terão um relacionamento saudável quando tiverem a liberdade ir e vir.
Luiz Felipe Pondé, afirma que uma forma terrível de ignorância é nunca ter amado. Defende também que somos um nada que ama, em relação a isso menciona o filósofo dinamarquês, Soren Kierkegaard, que nessa base do “solo da existência”, diz que é possível surgir o verdadeiro amor, diferente de uma mera banalidade. Diz que Kierkegaard desconfia de pessoas dadas à felicidade fácil, tal qual afirma que toda forma de autoconhecimento se inicia com um entristecimento profundo consigo mesmo. Pondé escreve que a busca da felicidade como “lei da alma” é uma banalidade contemporânea (distante de uma tradição que reúne Freud, Nietzsche e Dostoiévski), deixando uma mensagem à seus leitores, onde diz que o amor sabe tanto quanto qualquer um e qualquer coisa, e afirmando que apenas espíritos confusos demais e pouco experientes, acham que tem o direito de julgar o outro graças ao conhecimento.
Atualmente as pessoas dizem que o amor está banalizado, que o verdadeiro amor foi deixado para trás, e que o amor de hoje não é sinônimo de felicidade, pelo contrário, nos prende a ideias prontas e ruins. Se as pessoas sentem o amor como uma realização pessoal e isso for um falso sentimento, elas terão um aprisionamento de subjetividade, levando-as a uma vida de falsos conceitos.
A análise
A proposta de redação pedia que o estudante fizesse um texto, que podia ser um editorial de revista ou um conto, que argumentasse sobre “o amor na contemporaneidade”. A redação escolhida aqui se propôs a ser um editorial. Entretanto, o texto não é um editorial, pois não argumenta sobre a tese apresentada.
No primeiro parágrafo, aparecem várias ideias sobre amor, mas não há uma conexão entre elas. A tese “Devido a subjetividade, a definição do amor não é única, e cada um interpreta como deseja” aparece como uma ideia isolada no parágrafo. A citação da música de Cazuza não contribui nem para a apresentação do tema, nem como indicadora da tese.
Nos parágrafos 2 e 3, o texto resume as opiniões de dois autores cujos textos encontram-se na coletânea. Entretanto, esse resumo não se conecta com a tese e não tem caráter argumentativo. O texto apenas repete, sem análise, o que se lê na coletânea, com algumas interpretações pessoais.
Por fim, a conclusão não se reporta ao texto escrito. Ao contrário, aponta um outro ponto de vista que procura reunir as duas premissas do tema em uma só ideia, o que contraria a proposta que apresenta conceitos excludentes : Condição para realização pessoal ou aprisionamento das subjetividades.
Além disso, a redação faz colagem de trechos da coletânea, atitude claramente contrária às instruções.
Do ponto de vista da linguagem, é importante tomar cuidado com algumas coisas, como uso de clichês, que aparece logo no início: nos primórdios; o uso inadequado de pronome: onde (3ª linha); frases confusas e gramaticalmente incorretas, como “o qual implica no homem sempre tratar…”;“ tal qual afirma que toda forma de autoconhecimento…”; uso incorreto de vírgula separando o sujeito do verbo, como na frase “…apenas espíritos confusos demais e pouco experientes, acham…”; e uso de crase diante de palavra masculina “… deixando uma mensagem à seus leitores…”.
Para melhorar a redação, confira algumas dicas:
1. Reescrever o primeiro período: O amor é um sentimento que, provavelmente, nasceu com o homem desde o princípio. Muito se tem escrito e comentado sobre esse sentimento paradoxal e por isso, devido à sua subjetividade, a definição do amor não é única, e cada um o interpreta como deseja.
2. Nos 2 parágrafos seguintes, poderiam aparecer (como foi feito) as opiniões dos autores citados na coletânea, mas de forma crítica e analítica, ou seja, um pequeno resumo seguido de avaliação sobre as ideias expostas.
3. A conclusão se constitui de uma retomada da tese (as várias definições/interpretações do amor) e o resumo da argumentação contida nos parágrafos 2 e 3. E o texto poderia terminar afirmando ou refutando a ideia de condição de realização pessoal ou de aprisionamento de subjetividades.
*Análise feita pela professora de redação da Oficina do Estudante, Ednir Barboza.