Análise da redação “O indivíduo frente à ética nacional” – proposta de redação Enem 2009
A redação: O indivíduo frente à ética nacional
Governos corruptos, massa popular revoltada, pessoas apontando descaradamente os deslizes dos representantes políticos que elas mesmas colocam no poder, jovens envolvidos com drogas, pais matando filhos, roubos à mão armada, assassinatos cometidos por motivos banais, impunidade. Em pleno século XXI, a sociedade ainda não demonstra consciência e maturidade suficiente para discutir assuntos que englobam a educação, a ética e a moral; sociedade essa que em meio a tanta hipocrisia, apenas julga, sem pensar em soluções. Pais conseguem enxergar políticos corruptos, profissionais não qualificados, mas não veem que o seus filhos podem se tornar marginais de mesmo nível – ou até de nível superior – em um futuro próximo.
– Confira a proposta completa da redação do Enem 2009
Atualmente, é fácil encontrar motivos para se indignar em qualquer área e em qualquer assunto – contando, principalmente, com os meios de comunicações e com a mídia – seja ele relacionado à política, economia, sociedade, ética e padrões culturais. Na teoria, criar planos e metas para chegar a um consenso igualitário e justo em relação a diversos assuntos é simples, entretanto, na prática, a facilidade não é a mesma.
Os reflexos das atitudes individuais e políticas que não cumprem o padrão da ética são facilmente notados tanto nas grandes metrópoles quanto nas pequenas vilas; isso faz com que seja necessária a criação de corporações militares – como é o caso das UPPs na cidade do Rio de Janeiro, que buscam pacificar as regiões das favelas da cidade através do combate ao tráfico de drogas – ou leis que buscam amenizar crimes. A participação política na criação de meios para evitar e combater as infrações em geral depende da população, no entanto, poucas pessoas que se indignam demonstram insatisfação enquanto as outras não fazem questão de propor soluções e coloca-las em prática.
O combate à falta de honestidade, caráter e ética tem uma forte e importante aliada: a Educação. É necessário formar cidadãos íntegros e dinâmicos; a educação é a base para a formação desses que serão o futuro da nossa sociedade. A implantação de políticas mais democráticas, a formação de um sistema justo e igualitário, a busca pelo alto nível de conhecimento e, finalmente, a construção de uma sociedade na qual a população saiba distinguir o que é bom e o que é ruim para a integridade da mesma e colocar em prática a defesa de seus ideais.
É, então, através de uma cultura educacional e social madura que os futuros políticos e profissionais terão uma qualificação digna e, assim, uma sociedade independente, autônoma e ativa será construída no intuito de reger suas próprias leis rumo à liberdade do indivíduo para expressar suas insatisfações propondo soluções inteligentes e coerentes com o padrão ético social.
A análise da redação
A dissertação tem um bom começo, um desenvolvimento argumentativo ruim e uma parte final (principalmente, no que se refere à proposta de intervenção social, exigida pela prova do ENEM) muito boa.
No primeiro parágrafo, o autor apresenta o assunto do qual o texto se propõe a tratar, e que a proposta exigia que se tratasse: o indivíduo frente à ética nacional. O aluno mostra exemplos que ilustram uma sociedade que reclama dos mais diversos problemas (política, drogas, violência, impunidade), mas que não atua, não age, não pratica, não propõe soluções para os entraves apontados.
Apesar do bom começo, o segundo parágrafo não segue a mesma linha. Quando se esperava um desenvolvimento argumentativo relacionado ao mote dissertativo (como e por que e de que maneira se encontra o indivíduo frente à ética nacional? Aliás, o que seria “ética”?), o estudante parece se perder e faz quase que uma repetição do parágrafo introdutório: a reclamação da sociedade se dá com facilidade, mas, na prática, a prática é rarefeita.
Em contrapartida, o terceiro e quarto parágrafos são muito bons, ao tratar de exemplos relativos ao combate à falta de ética no país; exemplos, portanto, de propostas de ações sociais importantes: a criação das UPPs (Unidade da Polícia Pacificadora) no terceiro parágrafo e, no quarto parágrafo, a implantação de uma boa educação como mecanismo eficiente de formar cidadãos mais justos e, assim, de formar uma sociedade mais igualitária.
Ainda de acordo com o autor da dissertação, aliada à educação de qualidade, poderia haver a implantação de políticas mais democráticas, que ajudariam na construção de uma justiça social maior e na atuação de pessoas mais conscientes de seus papéis e, portanto, mais aptas à ação, à efetivação de seus ideais.
No último parágrafo, o vestibulando-autor retoma, principalmente, os conteúdos do terceiro e quarto parágrafos ratificando as ideias neles apresentadas como essenciais para a busca – e efetivação – de um “padrão ético social”.
Em resumo, o texto dissertativo apresenta boas ideias, mas que careceram de maiores e melhores explicações para dar ao texto mais consistência argumentativa e, portanto, para dar à dissertação uma “resposta”(mais clara, mais explícita, mais trabalhada) à “pergunta temática”: como é/se comporta/atua o indivíduo frente à ética nacional?
* Análise feita pela professora Lilica: Liliane Negrão Pinto – professora de Redação do Curso e Colégio Oficina do Estudante – Campinas/SP