Análise de redação sobre o uso da poesia no cotidiano, do vestibular 2012 da UEMG
Nesta semana, veja a análise da redação feita por um de nossos leitores a partir da proposta tirada do Vestibular 2012 da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). O tema era “O uso da poesia no cotidiano” (leia a proposta aqui).
O texto:
Ser Coerente
“Não é raro se deparar com uso da poesia no cotidiano, porém é necessário utilizar com coerência. Apesar de não ser proibido o uso da escrita poética em documentos oficiais é essencial que tais informações de importância relevante estejam de redigidos mais formalmente e de acordo com a situação pedida.
Os poetas estão presentes desde o inicio da civilização, tais escritores narraram em versos grandes acontecimentos de sua nação como, por exemplo, Os Lusíadas, poesia que é considerada por muitos portugueses como o hino de Portugal, e escrito por Luis de Camões que é exaltado até os dias atuais.
Apesar de não ter lei ou regras específicas para o uso da escrita em textos e mensagens oficiais, de profissionais liberais ou do Estado é necessário que o escritor do texto saiba fazer devido arranjo textual para que o receptor da mensagem possa interpretar da melhor maneira possível, com seriedade e interpretação a mensagem está passando, e de certa forma a poesia burla esse sentido que o autor tenta buscar..
É necessário discernimento com o uso das letras em textos de cunho “formal”, ou seja, em documentos relacionados cartas oficiais, como às relacionadas ao Estado, prontuários médicos, recibos, boletim de ocorrência etc., pois esses documentos precisam informar detalhes essenciais para que as pessoas possam entender e reconhecer sua importância, e na poesia há regras que são essenciais para haver uma sintonia entre os versos e vendo do ponto de vista categórico esse tipo textual não se adéqua perfeitamente.”
A análise*
“A proposta indica a construção de um texto dissertativo-argumentativo o que requer a exposição de um ponto de vista sobre o tema: no caso, o uso de poesia num registro policial sobre a receptação de uma moto. O aluno poderia ter optado por afirmar que a poesia se prestou e, ainda, presta para expor fatos, sentimentos, repulsa, concordância sobre ao mais variados aspectos. Poderia, inclusive, ter citados os inúmeros poemas épicos que ilustram essa prática. Depois deveria apresentar sua tese: se concorda ou não com o uso da poesia para escrever relatórios policiais e em seguida, argumentar justificando sua opinião. O texto dissertativo, portanto, é um encadeamento de ideias que se completam a cada parágrafo, numa progressão coerente e coesa. Isso quer dizer que os parágrafos precisam estar interligados pelas ideias e por marcadores sintáticos.
No caso da redação em análise, não é isso que acontece. O texto expõe vários fatos e suposições do autor, mas não chega a emitir sua opinião sobre o tema: é ou não correto/aceitável escrever relatórios policiais em forma de poesia. Porque a tese (opinião do autor) não ficou clara, a argumentação não acontece. Há até uma tentativa de afirmar sua posição: “…que tais informações de importância relevante estejam de redigidos mais formalmente e de acordo com a situação pedida”, mas isso não se firma como verdade porque a forma gramatical usada pelo aluno impede uma boa compreensão daquilo que ele quer realmente dizer. É importante ainda ressaltar que trechos confusos e inadequados gramaticalmente dificultam o entendimento.
Portanto, esta redação peca em alguns aspectos: 1. Não apresenta tese; 2. Por causa disso, a argumentação não acontece; 3. Não há progressão ou encadeamento de ideias; 4. Por falta desse encadeamento, a coesão entre os parágrafos fica prejudicada. Os conectores sintáticos não foram usados; 5.Os parágrafos são ideias soltas e nem sempre claramente escritas, como o que aparece no último trecho: “…e na poesia há regras que são essenciais para haver uma sintonia entre os versos e vendo do ponto de vista categórico esse tipo textual não se adéqua perfeitamente.” 0Supõe-se que se queria dizer: A poesia tem regras próprias para atender suas características especiais de rima e ritmo que não cabem num texto que deve retratar a realidade sem muitas interpretações numa linguagem adequada ao seu propósito.
Um outro ponto a destacar: com exceção do primeiro parágrafo, os três seguintes foram escritos num só período, o que, com certeza, contribuiu para a falta de clareza.”
*A análise foi feita pela professora de redação da Oficina do Estudante, Ednir Barboza.