Correção da redação “Manifesto pelo não monitoramento nas redes sociais” – proposta de redação Unicamp 2012
Confira a seguir a análise da redação “Manifesto pelo não monitoramento nas redes sociais”, feita com base na proposta de redação do vestibular 2012 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Confira a proposta da redação.
Texto analisado
“Manifesto pelo não monitoramento nas redes sociais”
Mestres e pais, nesta reunião, nós alunos da escola Educar lhes apresentamos um manifesto. O objetivo é esclarecer nosso posicionamento diante do vigente monitoramento realizado por esta instituição de ensino a partir do dia 10 do presente mês, quando a aluna Giomar Pereira fundou uma comunidade na rede Orkut para denegrir a imagem de outro aluno, Ariel Barras, ridicularizando seu desempenho escolar.
Com o feito, a aluna, que agiu erroneamente, foi advertida e suspensa por uma semana pela direção, não recebendo direito à realização de provas nesse período, atitude com que concordamos, e os demais alunos se tornaram alvo de vigilância, nosso motivo de protesto. Como não concordamos com o bullying e qualquer forma de discriminação, pois entendemos que se deva respeitar a pluralidade de indivíduos, opiniões, traços étnicos, habilidades, capacidades e crenças, aprovamos a punição de Giomar Pereira. Porém, há de considerar que o policiamento atual fere a privacidade dos alunos.
Acreditamos que a liberdade de expressão foi uma das grandes conquistas do Iluminismo. Os filósofos representantes desse pensamento iniciaram a idéia de que cada integrante do povo não é um súdito de seu governante, tendo que acatar opinião e religião deste. Mas, entendiam que os membros da nação são cidadãos, e o governante seu representante, o que dilacera seu poder ilimitado, pois este passa a ser compartilhado por todos.
Desde o contratualismo, no início da época, já se aceita que o poder do governante não provém de Deus, todavia de um acordo entre os homens. O iluminismo expande esse conceito: se há um contrato, o poder emana do povo, porque é ele quem admite o governo, e, caso não concorde com as atitudes de seu representante, pode destituí-lo. Os comuns ganham, então, liberdade de opinião e expressão.
Igualmente, reivindicamos a nossa liberdade de pensar e agir. A vigilância que se observa é a mesma censura dos ditadores, contrários à divergência de idéias. Forçosamente, obtinham apoio, tal qual assinalou Millôr Fernandes: “a diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito. Mas, se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha de seu país, ele responde sem hesitação: não posso me queixar”.
Convocamos, pais e discentes, a eliminar a vigilância e priorizar o senso crítico, por meio do diálogo. A escola pela liberdade e autonomia de pensamento!
Análise da redação
O texto acima é exemplo de uma excelente produção textual, uma vez que o texto cumpre, adequadamente e com qualidade, todas as exigências da proposta redacional; além de, claramente, ser um texto que apresenta características suficientes para fazer dele um exímio exemplar do gênero “manifesto”, o tipo textual exigido pela proposta. Além disso, a redação do vestibulando é dirigida para toda a comunidade escolar, estando de acordo, portanto, com o tipo de interlocução esperada para o bom cumprimento desta tarefa.
O cumprimento das exigências da proposta:
Logo no primeiro parágrafo do texto, percebe-se o cumprimento da primeira exigência da proposta, a partir da qual deveria ser feito o manifesto. Assim como fora indicado, o vestibulando-autor faz referência a um evento (criado por ele) que teria motivado o monitoramento engendrado pela escola: “O objetivo é esclarecer nosso posicionamento diante do vigente monitoramento realizado por esta instituição de ensino a partir do dia 10 do presente mês, quando a aluna Giomar Pereira fundou uma comunidade na rede Orkut para denegrir a imagem de outro aluno, Ariel Barras, ridicularizando seu desempenho escolar”.
A segunda exigência da proposta também é extremamente bem cumprida, uma vez que o texto traz – explícita e extremamente bem embasada – a declaração de como e por que o autor do manifesto, juntamente com seus colegas (nesse sentido, pode-se dizer que a autoria do manifesto deveria ser “coletiva”; como de fato é a autoria do texto em análise), são contrários ao monitoramento feito pela escola. Percebe-se que, para o cumprimento dessa tarefa, o aluno se valeu de conhecimentos (históricos, filosóficos, políticos) próprios, conhecimentos “extra-prova”, “extra-coletânea”, conhecimentos que integram sua própria história acadêmica, sua formação como aluno, como cidadão.
Esses saberes, presentes no terceiro, no quarto e no quinto parágrafo do manifesto, enriquecem sobremaneira a argumentação construída para sustentar a postura contrária à atitude da instituição escolar, uma vez que foram extremamente bem trabalhados em prol da tarefa que precisava ter sido cumprida.
As características do gênero “manifesto”
A produção textual tem um tom reclamatório, reivindicatório e de convocação, bem típico de um manifesto. Passagens do texto como “lhes apresentamos um manifesto”, ou ainda “Igualmente, reivindicamos a nossa liberdade de pensar e agir” e também todo o último parágrafo (“Convocamos, pais e discentes, a eliminar a vigilância e priorizar o senso crítico, por meio do diálogo. A escola pela liberdade e autonomia de pensamento!”) não deixam dúvida de que se trata de um manifesto, estando, portanto, de acordo de com as características de gênero esperadas no cumprimento dessa tarefa redacional.
O trabalho com a interlocução
O uso da primeira pessoa do plural como marca de autoria clara de que o texto representaria a opinião coletiva dos alunos da escola, associado à presença de vocativos como “Mestres e pais”, e, ao final do texto, “pais e discentes” são provas linguísticas de que o texto tem o adequado direcionamento, exatamente o que fora exigido pela proposta.
A linguagem adequada
Além de todos os traços positivos, até aqui marcados, pode-se ainda ressaltar a qualidade da linguagem apresentada: oral, padrão e formal; bem adequada, portanto, à situação simulada pela Unicamp, situação na qual o texto seria lido: uma reunião de pais e mestres.
Por todas as qualidades desse texto que fazem dele um ótimo exemplo de adequadíssima produção textual para o vestibular, ficam registrados os parabéns ao vestibulando-autor!
* Análise feita pela professora Lilica: Liliane Negrão Pinto – professora de Redação do Curso e Colégio Oficina do Estudante – Campinas/SP