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Terremoto: Tremores de diferentes impactos


EM RUÍNAS Homem caminha sobre os escombro em Portoviejo, no Equador: foi o mais forte terremoto desde 1979

Tremores de diferente impactos

Os terremotos que atingiram o Equador e o Japão mostraram como os países ricos são menos afetados por desastres naturais

Por Paula Lepinski

Em abril de 2016, o Equador e o Japão sofreram fortes abalos sísmicos. O litoral do país sul-americano foi atingido por um terremoto de 7,8 pontos na Escala Richter, o maior desde 1979 – a província de Manabi foi a mais atingida. O governo equatoriano apontou um total de 659 mortos, 12.492 feridos, 260 mil desabrigados e um rastro de destruição na costa do país. O prejuízo estimado é de 3 bilhões de dólares, cerca de 3% do PIB equatoriano.

Na mesma semana, a Ilha Kyushu, no arquipélago japonês, sofreu um terremoto de 7,3 pontos na escala Richter. Em contraste com o Equador, houve apenas 47 óbitos, cerca de 1.500 feridos e 120 mil desabrigados. Já o prejuízo causado pelos tremores foi cerca de 35 bilhões de dólares, quase 12 vezes maior do que no Equador. Contudo, o valor representa apenas 0,7% do PIB do país.

O fator financeiro

Ainda que haja diferenças entre os dois tipos de tremores, a discrepância entre os números contabilizados por Japão e Equador não é casual. Diversos estudos mostram que países desenvolvidos como o Japão conseguem minimizar os efeitos de terremotos e recuperar-se mais rapidamente dos estragos.

Segundo a ONG GeoHazards International, os países ricos reduziram a mortalidade causada pelos terremotos dez vezes mais rápido que os países pobres. E essa disparidade tem piorado: em 1950, duas de cada três pessoas que viviam em áreas de risco de terremotos moravam em países pobres. Em 2010, a proporção subiu para 9 em cada 10.

Nesse sentido, o fator financeiro exerce papel crucial para minimizar as perdas com os terremotos. O Japão, terceira maior economia do mundo, tem investido bilhões de dólares desenvolvendo tecnologias contra abalos e tsunamis, o que o tornou o país mais bem preparado. Em contrapartida, países em desenvolvimento muitas vezes não dispõem da quantia necessária, como é o caso do Equador, 64ª economia no ranking mundial. Há, porém, um lado negativo para as nações ricas: o prejuízo material é muito maior para elas, já que as construções são mais caras e há mais coisas para se quebrar.

Entenda as diferenças

Entre os fatores que mais influenciam no impacto provocado pelos abalos sísmicos destacam-se os seguintes:

TIPO DE CONSTRUÇÕES  É o principal motivo de o número de vítimas ser maior em países em desenvolvimento. Regiões vulneráveis a abalos sísmicos como a Califórnia (Estados Unidos), o Japão e o Chile modernizaram seus códigos de construção civil de forma a reduzir os riscos de tragédias. O Japão, alvo de 20% dos terremotos no mundo, tem uma infraestrutura desenvolvida especialmente para suportar os tremores: as construções têm estrutura reforçada e flexível, vigas de concreto armado e materiais isolantes e dissipadores de energia, que fazem com que o movimento da terra não seja transmitido para o edifício e, caso isso ocorra, a energia seja absorvida.

Isso é muito diferente em países como o Equador, Nepal e Haiti, cujas construções não são adequadas para áreas vulneráveis a tremores. As edificações simples desabam facilmente com terremotos, o que pode ferir, soterrar e matar pessoas.

URBANIZAÇÃO E DEMOGRAFIA  Nas últimas décadas, os países mais pobres, historicamente agrários, têm recebido em suas cidades um contingente de pessoas muito superior ao que se muda para cidades de países ricos. São metrópoles cada vez mais populosas, que crescem desordenadamente e se encaminham para virar megacidades com mais de 10 milhões de habitantes já nos próximos anos. Quanto mais densamente povoada é uma área, maior a chance de que haja vítimas fatais em caso de tremores.

POLÍTICAS PÚBLICAS  Nos países mais pobres, os governos muitas vezes têm preocupações mais imediatas e preferem priorizar demandas mais visíveis, como a pobreza ou obras viárias. Infelizmente, em muitos casos, é preciso que uma tragédia aconteça para que uma nação comece a colocar terremotos ou outros desastres naturais como prioridade. Já os países desenvolvidos acostumados a abalos sísmicos investem em políticas públicas voltadas para o preparo da população e das autoridades em situações de emergência. Instruções simples sobre onde procurar refúgio e quais lugares evitar ajudam a diminuir o pânico na população e aumentam as chances de sobrevivência. No Japão, desde muito pequenas, as crianças recebem treinamentos na escola sobre como agir em caso de terremotos, e cada cidadão possui um kit de emergência em casa e no trabalho, para o caso de ficarem presos nos locais.

Mais uma vantagem de países ricos é a possibilidade de criar estações sismológicas para estudar áreas de risco e alertar sobre a possibilidade de tsunamis. Alguns países também possuem meios de comunicação capazes de informar a população em caso de acidentes e desastres naturais, como a TV estatal NHK no Japão.


TSUNAMI: AS ONDAS DEVASTADORAS

Quando o epicentro de um terremoto se localiza no oceano, próximo ao litoral, aumenta o risco de uma região ser afetada pelos temíveis tsunamis – ondas gigantes provocadas por perturbações nas profundezas do mar. Foi o que aconteceu quando o subsolo marinho tremeu no Oceano Índico, em 26 de dezembro de 2004. O maremoto atingiu 15 países na Ásia e na África, matando 230 mil pessoas. A Indonésia foi o país mais atingido – só na ilha de Sumatra morreram mais de 170 mil pessoas.

No Japão, o maior terremoto de sua história ocorreu em 11 de março de 2011, quando um tremor de 9 pontos na Escala Richter teve seu epicentro no Oceano Pacífico, a 67 quilômetros de sua costa nordeste. O forte abalo sísmico provocou um tsunami devastador que deixou 9 mil mortos e comprometeu a usina nuclear de Fukushima, com vazamento de material radioativo, que quase provocou uma catástrofe nuclear.


Placas tectônicas

Países como Equador e Japão estão sujeitos a grandes desastres sísmicos devido à posição de seus territórios em relação às placas tectônicas.

As placas tectônicas são os imensos blocos de rocha do subterrâneo do planeta, que flutuam sobre o magma (rocha derretida, como a lava). O magma é fluido e está em constante movimento, deslocando as placas lentamente. Foi esse movimento das placas o responsável por separar o único grande continente do planeta há 300 milhões de anos, a Pangeia, nos “pedaços” ou continentes que reconhecemos hoje como África, América, Antártica, Europa e Ásia.

As placas não se movem na mesma direção e sentido: há as que deslizam em paralelo, as que mergulham uma sob a outra, as que se chocam de frente e as que se afastam. Os países localizados mais próximos das bordas das placas são os mais suscetíveis a sofrer abalos sísmicos.

Ambas as nações encontram-se dentro do Círculo de Fogo do Pacífico, uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo. Trata-se de uma região formada pelas bordas de algumas placas tectônicas. O Círculo de Fogo fica em torno da bacia do Oceano Pacífico, que passa pela costa oeste das Américas, e pelo leste da Ásia e da Oceania. Ele concentra a imensa maioria dos vulcões ativos do planeta e dos tremores de grande magnitude (acima de 7 pontos na escala Richter).

O Equador está localizado na margem da placa Sul-Americana, sobre a qual também está o Brasil – por localizar-se no centro da placa, nosso país é menos suscetível aos tremores. O terremoto equatoriano foi causado pela subducção da placa de Nazca, que deslizou para baixo da placa Sul-Americana.

A situação do Japão é mais complicada. O país está sobre três placas diferentes: a placa das Filipinas, a placa do Pacífico e a placa Euro-Asiática – foi uma falha nesta última que deu origem ao terremoto de abril. Essa localização explica o alto índice de abalos sísmicos de grande magnitude na região, como o que ocorreu em 2011, no maior terremoto da história do país.

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Por ficarem próximos à borda de placas tectônicas, Japão e Equador são mais suscetíveis a tremores


Como ocorrem os tremores

As bordas das placas tectônicas são, naturalmente, irregulares e podem se prender uma a outra, criando um ponto de tensão – o hipocentro. Como os blocos tendem a continuar se movendo no mesmo sentido, a energia acumulada aumenta ao longo do tempo. Quando se soltam, essa energia é liberada e se propaga em ondas pelo subsolo até a superfície, causando o tremor.

O tipo de solo por onde se propagam as ondas sísmicas também influencia os danos causados por um tremor. Solos arenosos e saturados de água são os menos resistentes, pois sofrem o fenômeno chamado liquefação – a água do subterrâneo sobe, solapando a areia, e o chão cede.

Quando o hipocentro se encontra no subsolo marinho, as ondas se propagam na água e ganham amplitude quando chegam à zona rasa, nas praias. São os maremotos ou tsunamis. Quanto mais próximo da superfície estiver o hipocentro, maior a intensidade do abalo.

No caso do terremoto no Equador em abril, o hipocentro estava a 19 quilômetros de profundidade. O epicentro, ponto da superfície exatamente acima do hipocentro, ficava a 214 quilômetros de Quito, capital do país. Já o Japão enfrentou um terremoto cujo hipocentro estava a apenas 10 quilômetros de profundidade, e o epicentro a 11 quilômetros da cidade de Kumamoto.

AVALANCHE Deslizamento de terra provocado por terremoto em Kumamoto, no Japão

Escalas sísmicas

Existem diferentes maneiras de avaliar um terremoto, por sua magnitude ou intensidade. A Escala Richter mede a magnitude, ou seja, a amplitude das ondas sísmicas que atravessam o subsolo. É uma escala logarítima, na qual cada ponto representa um valor dez vezes maior que o anterior. Assim, um terremoto de magnitude 7 gera ondas de amplitude cem vezes maior que outro de magnitude 5. Em termos de energia liberada pelas ondas, cada ponto representa um aumento de 32 vezes em relação ao anterior. No mundo, acontecem anualmente de dez a 20 terremotos de magnitude acima de 7.

Já a intensidade dos terremotos é medida pela Escala de Mercalli, que se baseia na observação empírica dos efeitos causados, como o desmoronamento de casas. No Equador, o tremor de abril de 2016 foi classificado como ponto VIII (severo). Já no Japão, os danos variaram de VI (forte) a VII (muito forte).

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RESUMO

Terremoto

EQUADOR E JAPÃO     Uma série de terremotos atingiu o Equador e o Japão no primeiro semestre de 2016. Ambos os países enfrentaram tremores com magnitude acima de 7 pontos na Escala Richter. Os abalos deixaram um número de vítimas maior no Equador, com cerca de 650 mortos e 260 mil desabrigados. Já o Japão ficou com o prejuízo material maior, estimado em 35 bilhões de dólares.

DIFERENTES IMPACTOS     Países desenvolvidos situados em áreas vulneráveis a tremores costumam adequar o código de construção civil de forma a reduzir os riscos de colapso dos edifícios. Eles também investem em pesquisas e estações sismológicas, criam meios de comunica-ção adequados e preparam a população e as autoridades para agir em situações de emergência. Já os países mais pobres não possuem capacidade de investir nessas questões e priorizam demandas mais visíveis, como o combate à pobreza. A urbanização desordenada e o aumento da densidade demográfica também influenciam.

PLACAS TECTÔNICAS     São imensos blocos de rocha do subterrâneo do planeta, que flutuam sobre o magma, em constante movimento. As placas se deslocam de diferentes formas: deslizam em paralelo, se afastam, chocam-se de frente ou entram uma sob a outra. Quando duas placas se enroscam, o movimento é detido, acumulando no ponto uma grande quantidade de energia; quando se soltam, a energia liberada se propaga em ondas até a superfície. Países localizados próximos às bordas de duas ou mais placas são os mais suscetíveis a sofrer grandes abalos sísmicos.

ESCALAS     A escala Richter mede a amplitude das ondas sísmicas e é uma escala logarítmica: a cada ponto, a amplitude cresce dez vezes e a energia liberada, cerca de 32 vezes em relação ao anterior. A intensidade de um abalo (efeito na superfície) é medida pela Escala de Mercalli, baseada na destruição das edificações. Esses danos dependem da magnitude do tremor, do tipo de solo por onde as ondas se propagam e da quantidade de edificações.

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