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Ciências e Meio Ambiente – Aquecimento Global: ventos da mudança

A sucessão de violentos furacões no Oceano Atlântico em 2017 acirra o debate sobre a possível ligação desses eventos com as alterações climáticas do planeta provocadas por ações humanas

Todos os anos, entre os dias 1º de junho e 30 de novembro, os habitantes do norte do Caribe, do Golfo do México e do sudeste dos Estados Unidos (EUA) ficam em estado de alerta. É quando a região enfrenta a “temporada de furacões”. Com o verão no Hemisfério Norte, as águas do Oceano Atlântico ficam mais aquecidas e as condições climáticas favorecem a formação de fortes tempestades.

Ainda que se trate de um fenômeno previsível, a temporada de 2017 surpreendeu pela quantidade e pela intensidade dos furacões, bem acima da média dos anos anteriores. Foram 10 furacões, sendo que seis deles de grandes proporções. Harvey e Irma, que se formaram em um período de pouco mais de um mês, foram os mais devastadores, deixando um rastro de morte e destruição nas cidades por onde passaram.

Em 25 de agosto, o Harvey chegou ao Texas e logo se transformou no furacão mais poderoso a atingir o estado norte- americano em 50 anos – alcançou a categoria 4, a segunda mais elevada na escala de medição, que vai até 5. O Harvey estacionou sobre a região de Houston por cinco dias e provocou o maior temporal já registrado nos EUA, despejando mais de 100 trilhões de litros de água. Pelo menos 82 pessoas morreram e mais de 30 mil ficaram desabrigadas.

Logo após o Harvey, no início de setembro foi a vez do Irma causar devastação e mais de 130 mortes nas Pequenas Antilhas, Porto Rico, República Dominicana, Haiti e no estado da Flórida, nos EUA. Atingiu a categoria 5 e foi o maior furacão já registrado a passar pelo Atlântico, além de ser o primeiro a alcançar ventos máximos de 298 km/h por 37 horas seguidas.

Além dos furacões que devastaram a região do Atlântico norte, o ano de 2017 também registrou chuvas de monções excepcionalmente intensas no sul e sudeste da Ásia. As monções ocorrem no verão do Hemisfério Norte, quando massas de nuvens se formam no Oceano Índico e provocam tempestades torrenciais. Em 2017, as chuvas mataram mais de 1,2 mil pessoas na Índia, em Bangladesh e no Nepal.

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Aquecimento global e furacões

Diante de uma temporada de ventos tão furiosos, surge a inevitável indagação: existe alguma relação entre os furacões ocorridos em 2017 e o aquecimento global? É uma questão de difícil resposta, principalmente porque compara um evento isolado, como o furacão, a um processo de longo prazo – a elevação da temperatura média da Terra. De todo modo, entre a comunidade científica, a teoria mais aceita é a de que o aquecimento global não provoca os furacões, mas eleva a sua intensidade e o seu potencial destrutivo.

Para entender como se dá essa relação, cabe aprofundar um pouco a explicação sobre o aquecimento global e suas causas. A vida no planeta é mantida graças a um fenômeno natural conhecido como efeito estufa. É por meio dele que os gases presentes na atmosfera conseguem reter o calor do Sol e conservar a temperatura média do planeta em torno de 14,5ºC, o suficiente para a existência de todas as formas de vida. O problema é que as atividades humanas estão lançando na atmosfera gases que intensificam o efeito estufa e provocam o aquecimento do planeta.

O dióxido de carbono (CO2), produzido pela queima de combustíveis fósseis (como petróleo, carvão e gás natural, usados nas indústrias e nos transportes), é o principal dos gases que reforçam o efeito estufa. O seu acúmulo na atmosfera vem se intensificando desde a Revolução Industrial, iniciada no século XVIII. Além do CO2, também ampliam o efeito estufa as emissões de metano (CH4 ), gerado por decomposição do lixo, digestão do gado e plantações alagadas (principalmente arroz); e o óxido nitroso (N2O), que resulta do tratamento de dejetos de animais, do uso de fertilizantes e de alguns processos industriais. E, ao alterar o uso da terra por meio do desmatamento e de atividades agrícolas, o homem também lança no ar o CO2 que estava acumulado nas plantas e no solo. Os oceanos também liberam CO2 estocado quando a temperatura aumenta.

Todo esse processo vem provocando a elevação da temperatura média da atmosfera, que, por sua vez causa o aumento da temperatura dos oceanos. É justamente a combinação do ar quente e úmido com a água aquecida dos oceanos das regiões tropicais que forma os furacões. A equação é a seguinte: quanto mais quentes as águas oceânicas, maior é a evaporação; quanto mais quente o ar atmosférico, maior a sua capacidade de reter o vapor – é esse aquecimento anormal que aumenta a quantidade de água despejada nos temporais e a intensidade dos furacões. Os estudos que sustentam essa tese são reforçados por estatísticas que mostram como a frequência de furacões de categoria 4 ou 5 vem aumentando desde 1975.

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O IPCC

A ocorrência de fenômenos climáticos extremos é apenas uma das consequências do aquecimento global apontada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), entidade que reúne 2.500 cientistas sob a chancela da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2007, o grupo reuniu em um estudo que se tornou uma referência mundial diversas evidências para apontar que a ação do homem sobre o meio ambiente está alterando a temperatura do planeta. Segundo o IPCC, entre 1880 e 2012 a temperatura média na Terra subiu 0,85ºC e o nível médio da água dos oceanos aumentou 19 centímetros. Outra constatação importante foi a de que as últimas três décadas foram as mais quentes desde 1850.

Entre as dramáticas consequências que as próximas gerações poderão sofrer caso a tendência de aquecimento da Terra não seja revertida destacam-se:

• O nível do mar continuará a subir e poderá submergir os pequenos países insulares e destruir áreas costeiras habitadas.
• Haverá mudanças no ciclo global das águas e aumento de contraste na quantidade de chuva entre as regiões úmidas e secas e de intensidade nas estações chuvosas e secas. Áreas áridas deverão se tornar desérticas.
• Aumento no número e na força de furacões, tornados e tempestades e de problemas como deslizamentos, enchentes e desabastecimento de água.
• As camadas de gelo do Ártico, da Groenlândia e da Antártida continuarão perdendo volume. Haverá diminuição também das geleiras de montanhas, o que diminui os volumes de rios.

O Acordo de Paris

Para evitar esse cenário catastrófico, os 195 países-membros da ONU firmaram o Acordo de Paris, em dezembro de 2015, durante a 21ª Conferência Internacional das Partes (COP-21). De acordo com o tratado, todas as nações devem estabelecer seus próprios compromissos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, dentro do que considera viável em seu contexto socioeconômico. O objetivo do acordo é conter o aumento da temperatura média da Terra, ainda neste século, “bem abaixo de 2ºC” com relação aos níveis pré-Revolução Industrial. No atual cenário, se nada for feito, o planeta poderá ter um aumento de temperatura da ordem de até 7,8ºC nesse período.

Apesar de a apresentação das metas por cada país ser obrigatória, o seu cumprimento é voluntário – ou seja, não há nenhum mecanismo punitivo para quem não cumprir seus compromissos ambientais. Além disso, o conjunto das metas apresentadas até agora é considerado insuficiente para barrar o sobreaquecimento médio em até 2ºC.

Trump e os céticos do clima

Ainda que imperfeito, o acordo foi considerado histórico pelo ineditismo em estabelecer um consenso entre a comunidade internacional para evitar o aquecimento global. No entanto, essa harmonia durou poucos meses. Em junho de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, que havia assumido o cargo havia apenas cinco meses, anunciou a retirada do país do Acordo de Paris. Com isso, os EUA abandonaram sua meta de reduzir de 28% para 26% as emissões de gases do efeito estufa até 2025, estabelecida pela gestão anterior, de Barack Obama.

Trump é considerado um cético em relação às mudanças climáticas. Ele faz parte de um grupo de indivíduos que não acreditam que a elevação da temperatura do planeta seja fruto da ação humana. Durante a campanha eleitoral, ele chegou a prometer que sua política energética seria pautada pelos investimentos em combustíveis fósseis, como o xisto e o carvão mineral, cuja queima produz gases que intensificam o efeito estufa na atmosfera. Para o presidente norte-americano, a tese do aquecimento global nada mais é do que uma forma de forçar os EUA a trocar os combustíveis fósseis por energias limpas, o que poderia acarretar em perdas de empregos e competitividade para o país.

A participação norte-americana no Acordo de Paris é vital para que ele tenha êxito. Primeiro, porque os EUA são um dos maiores poluidores globais – estão em segundo lugar no ranking dos grandes emissores de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa, superado apenas pela China. Além disso, o pacto prevê que os países ricos garantam um financiamento anual de 100 bilhões de dólares para as nações mais vulneráveis investirem em energias limpas – e a participação dos EUA nesse fundo seria essencial.

Os compromissos do Brasil

Os compromissos apresentados pelo Brasil no Acordo de Paris têm como base a Política Nacional sobre Mudança do Clima, cujo objetivo é reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, em relação a 2005. As propostas do Brasil incluem o fim do desmatamento ilegal, a restauração de florestas e pastagens degradadas e a ampliação de fontes renováveis na matriz energética.

Mas não será fácil honrar esses compromissos. Entre 2005 e 2012, as emissões brasileiras de gases do efeito estufa haviam diminuído 41%, devido, sobretudo, à queda nos índices de desmatamento. No entanto, as emissões aumentaram em 2015 e em 2016, acompanhando o aumento da derrubada das florestas. Em 2017, a taxa de desmatamento na Amazônia diminuiu, mas continuou mais alta em relação aos níveis de 2015.

O cumprimento das metas ambientais é fundamental para que o país não sofra as drásticas consequências do aquecimento global previstas pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). Segundo estudo divulgado em 2017, a elevação da temperatura do planeta deve alterar os ciclos de chuvas no país, intensificando as tempestades e aumentando os períodos de seca. Além disso, a elevação do nível dos oceanos irá provocar inundações nas cidades da costa brasileira, onde vivem cerca de 60% da população.

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RESUMO

Aquecimento global

Aquecimento global É o aumento indesejável do efeito estufa, fenômeno natural que mantém a Terra aquecida. A maior parte dos cientistas acredita que seja reforçado pela emissão na atmosfera de gases como o dióxido de carbono (CO2, derivado da queima de combustíveis fósseis), além do metano (CH4, gerado por decomposição do lixo, digestão do gado etc.) e do óxido nitroso (N2O, que resulta do tratamento de dejetos de animais, do uso de fertilizantes e de alguns processos industriais).

Consequências Entre as consequências desse sobreaquecimento estão o aumento do nível médio da água dos oceanos (com a possibilidade de submergir pequenos países insulares e destruir áreas costeiras habitadas) e a alteração no regime das chuvas, que podem provocar inundações e secas.

Furacões Outra consequência do aquecimento global é o aumento no número e na força dos furacões. Em 2017, a temporada de furacões no Atlântico Norte foi uma das mais intensas dos últimos anos. O furacão Harvey atingiu o Texas e provocou o maior temporal já registrado nos EUA. O Irma causou destruição no Caribe e foi o mais intenso furacão a passar pelo Atlântico.

Acordo de Paris Os 195 países-membros da ONU que assinaram o acordo em 2015 assumiram compromissos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa e tentar conter o aumento da temperatura média da Terra em 2ºC. Os EUA assinaram e ratificaram o acordo, mas o presidente norte-americano, Donald Trump, decidiu retirar o país do tratado por acreditar que a redução do uso de combustíveis fósseis pode afetar a geração de empregos e a competitividade econômica do país.

Metas do Brasil O aquecimento global também ameaça o Brasil, que enfrenta intensas tempestades e secas prolongadas, além da possível inundação das cidades costeiras. Para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa, o Brasil se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal e a ampliar o uso de fontes renováveis em sua matriz energética.

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Ciências e Meio Ambiente – Aquecimento Global: ventos da mudança
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