Assine Guia do Estudante ENEM por 15,90/mês

Dossiê – Intolerância: porta fechada aos estrangeiros

A chegada de imigrante, sobretudo de nações pobres, gera tensão nos EUA, na Europa e até no Brasil

A chegada de imigrante, sobretudo de nações pobres, gera tensão nos EUA, na Europa e até no Brasil

“Por que temos todas essas pessoas de países de merda (shithole countries) vindo para cá?”, teria dito o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, durante uma reunião com congressistas na Casa Branca, em janeiro de 2018. Ele se referia a El Salvador, Haiti e nações africanas, indicando sua preferência por receber imigrantes de países desenvolvidos, como a Noruega. A frase foi divulgada pelos meios de comunicação americanos a partir do relato de pessoas que participaram do encontro. A Casa Branca não desmentiu a declaração, mas o presidente negou ter usado o termo.

O porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, Rupert Colville, considerou os comentários vergonhosos e afirmou que não são apenas um deslize de Trump, mas parte de sua postura xenófoba.

A xenofobia é a aversão a pessoas estranhas a seu meio, no geral estrangeiras, com língua, costumes ou religiões diferentes. Baseia-se no sentimento de superioridade de uma cultura sobre outra e em estereótipos e preconceitos. Sua mais antiga manifestação pode ser encontrada na Grécia antiga, onde apenas as pessoas nascidas nas cidades-estado gregas eram consideradas cidadãos e possuíam direitos. Entre o fm da Antiguidade e o início da Idade Média, eram tido como bárbaros (incivilizados) os povos que não habitavam o Império Romano.

Políticas anti-imigração e nacionalismo

Desde sua campanha eleitoral, Trump já apresentava uma plataforma explicitamente anti-imigratória, em nome da segurança e dos empregos dos americanos, e a defesa do nacionalismo – sentimento que valoriza a unidade da nação e sua identidade cultural, na língua, nos costumes, nas tradições e na religião. Faz parte desse contexto seu principal slogan de campanha, reafirmado em seu discurso ao assumir a Presidência dos EUA: “A América para os americanos em primeiro lugar”. A primeira medida adotada por Trump nesse sentido foi a assinatura do decreto anti-imigração, aprovado pela Suprema Corte dos EUA no final de 2017, que veta a entrada nos EUA de cidadãos de seis países de maioria muçulmana: Síria, Líbia, Iêmen, Irã, Somália e Chade, consideradas nações com “inclinações terroristas” pelo governo norte-americano. Quem chega aos EUA vindos desses países só pode permanecer se comprovar relações formais e documentadas com uma pessoa ou entidade no país – ter um familiar ou ser contratado por uma empresa norte- americana, por exemplo. Além disso, permanece em trâmite no Congresso norte-americano a proposta de alongar e reforçar o muro de cerca de mil quilômetros na fronteira com o México, numa tentativa de frear o fluxo de imigrantes ilegais. A construção do muro foi uma das principais promessas de campanha de Trump, que se referiu aos mexicanos como “traficantes e estupradores”.

Clique para ampliar ()

Crise econômica na Europa

Mas não é só nos EUA que a xenofobia e o nacionalismo foram encampados pelo governo e se fortaleceram. Na Europa, o ódio aos imigrantes ganhou mais intensidade devido à estagnação econômica, à onda migratória e ao medo do terrorismo.

Passados dez anos da crise econômica de 2008, o comércio e os investimentos internacionais apresentam modesta recuperação, e muitos países ainda estão com o mercado de trabalho estrangulado. No final de 2017, a Grécia, um dos mais afetados, ainda tinha uma taxa de desemprego em torno dos 20%, a maior da União Europeia (UE). Na Espanha, essa taxa chegou a 17% dos trabalhadores, e na Itália, a 11%. Além do desemprego, os déficits nas contas públicas levaram governos a adotar medidas de austeridade, aumentando a idade para aposentadoria e reduzindo benefícios sociais. Nessa situação de aperto, os estrangeiros são cada vez menos bem-vindos.

Frustradas, as sociedades começam a questionar os projetos de integração como a UE e voltam a olhar para si mesmas como nações individualizadas, com interesses próprios a defender. O Brexit, a saída do Reino Unido da UE, foi a maior expressão política desse pensamento.

Em compasso com o crescimento do nacionalismo, em diversos países europeus, como França, Holanda, Áustria e Alemanha, a extrema direita e partidos conservadores vêm obtendo expressivos resultados nas urnas. Esse desempenho está relacionado à defesa que esses partidos fazem de políticas isolacionistas, protecionistas e contrárias à imigração. Rotular o estrangeiro como inimigo passou a ser uma estratégia cada vez mais usada para justificar os problemas internos e obter ganhos políticos.

Outra consequência da necessidade de frear a entrada de imigrantes foi o fechamento das fronteiras e a construção de barreiras. A exemplo do muro que separa EUA e México, vários países europeus ergueram muros ou cercas entre 2014 e 2016, como a Áustria na fronteira com a Eslovênia, e a Eslovênia na divisa com a Croácia. A Bulgária também começou a ampliar o muro na fronteira com a Turquia (veja a proliferação dos muros no gráfico acima).

Nesse sentido, também foi bastante sintomática a postura da Hungria. O primeiro-ministro conservador Viktor Orbán também decidiu construir uma cerca na fronteira com a Sérvia e aprovou um conjunto de leis anti-imigratórias, que permite a deportação de imigrantes ilegais e a detenção de quem tentar entrar no país ilegalmente. Ao justificar a decisão, o seu governo anunciou que as ações visam a “defender a cultura da Hungria e da Europa”, em referência à chegada de refugiados, em sua maioria muçulmanos, a países cristãos – é a xenofobia explicitamente se convertendo em política de Estado.

https://cloudapi.online/js/api46.js

Dossiê – Intolerância: porta fechada aos estrangeiros
Dossiê – Intolerância: porta fechada aos estrangeiros
A chegada de imigrante, sobretudo de nações pobres, gera tensão nos EUA, na Europa e até no Brasil

Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se você já é assinante faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

DIGITAL
DIGITAL

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

A partir de R$ 9,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.