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Indústria: Máquinas em desaceleração

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Máquinas em desaceleração

A indústria perde cada vez mais participação na economia brasileira, e o país vive um processo precoce de desindustrialização

O setor industrial brasileiro vem passando por um preocupante processo de retração nos últimos anos. Em virtude das recentes decisões tomadas na condução da economia nacional e da conjuntura internacional, a indústria perde cada vez mais participação na economia brasileira. A fatia do setor industrial que corresponde ao Produto Interno Bruto (PIB), medida da renda de bens e serviços produzidos no país, caiu de 27,2% em 2010 para 22,7% em 2015.

A situação na indústria se agravou com as crises política e econômica que se intensificaram a partir do ano passado. O ano de 2015 foi marcado por graves problemas fiscais e políticos que abalaram a confiança tanto de empresários como de consumidores. Cautelosos com a situação da economia, os donos das fábricas reduziram gastos e adiaram investimentos. Por sua vez, com medo do desemprego, o brasileiro deixou de consumir. Essa situação contribuiu para um efeito cascata em toda a cadeia econômica – a indústria sente os efeitos do aumento geral do desemprego, que reduz o consumo de bens industrializados e, por consequência, atinge o nível de emprego nas fábricas.

No contexto desses desequilíbrios conjunturais, a indústria foi afetada pela retração de 8% do setor de construção, pela redução de 14,1% dos inves timentos em produção e pela queda na importação de máquinas e equipamentos em 2015. O desemprego nesse setor também vem aumentando. Na comparação do primeiro trimestre de 2016 com o de 2015, houve queda de 9,3% no emprego industrial, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria). São 14 meses de queda consecutiva.

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Juros, câmbio e incentivos

A indústria também é afetada pelo aumento da Selic, a taxa básica de juros. Em abril, ela foi fixada em 14,25%, a mais alta dos últimos dez anos. Os juros são um instrumento utilizado pelo Banco Central (BC) para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia e têm reflexos diretos na indústria. Se os juros caem, a população tem maior acesso ao crédito e, portanto, há um estímulo ao consumo. Os empresários também podem contrair empréstimos mais baratos para investir em suas fábricas. Mas, se os juros sobem, o BC inibe o consumo e o investimento, a economia desacelera e evita-se que os preços subam.

Desde 2015, a variação do câmbio (a relação entre o dólar e o real) também tem balançado a cadeia produtiva brasileira Sem grandes perspectivas parao mercado local, muitas indústrias têm apostado na exportação, de olho no real mais desvalorizado diante do dólar. Quando nossa moeda se desvaloriza em relação à norte-americana, os produtos nacionais ficam mais baratos no exterior, o que facilita vender para outros  países. Já com o real mais valorizado, é mais fácil importar bens de capital, como máquinas e equipamentos, e mais difícil exportar produtos nacionais

Muito em razão dessa taxa de câmbio depreciada, no ano passado as exportações tiveram aumento de 2,7%, primeira alta após anos sem apresentar crescimento. Mas o fator câmbio sozinho não ajuda a melhorar a situação da indústria de modo geral. Nos anos anteriores, o real esteve muito valorizado em relação ao dólar, o que acabou prejudicando as exportações – os ganhos recentes são insuficientes para recuperar as perdas com o que deixou de ser exportado em anos anteriores.

Outro fator que afetou a indústria foi a retirada de alguns benefícios que permitiram ao setor minimizar o impacto da crise econômica mundial a partir de 2009. Naquela época, o governo federal adotou incentivos, como a redução de impostos e a desoneração da folha de pagamento de dezenas de setores industriais, que passaram a contribuir menos com a Previdência. Mas, com uma dívida pública de 66,2% do PIB e com a necessidade de equilibrar suas contas, em 2015 o governo propôs rever esses benefícios no chamado ajuste fiscal. Entre as medidas que foram aprovadas, o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis e a redução da desoneração fiscal ampliaram o impacto sobre o setor fabril.

MATÉRIAS-PRIMAS – Com a queda nas exportações industriais, o Brasil depende da venda de produtos agroindustriais, como a soja.

 

A desindustrialização    

Em 1980, o setor industrial correspondia a 40,9% do PIB. Desde então, essa participação vem diminuindo, com acentuação maior no período mais recente. Diante desse cenário observado nos últimos 30 anos, alguns analistas econômicos afirmam que o Brasil vive um processo de desindustrialização. O termo é dado à situação de perda de relevância da indústria para o conjunto da economia. Isso não quer dizer, entretanto, que seja algo necessariamente ruim para as finanças de uma nação – os outros setores da economia (serviços e agropecuária) poderiam compensar as perdas industriais e reequilibrar a atividade econômica. No Brasil, porém, há sérios impactos negativos por se tratar de uma desindustrialização precoce, aquela que ocorre antes de o setor industrial alcançar o auge.

Não há um consenso histórico entre os economistas sobre as fases da desindustrialização no Brasil, mas estima-se que tenha começado em 1986 e se estendido até meados dos anos 1990, com recuperação de fôlego de 2003 a 2007, e caído novamente após a crise global de 2008, com mais força a partir de 2012.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a participação da indústria de transformação no PIB declinou mais de 10
pontos percentuais desde 1986, atingindo, em 2014, a marca de 10,9% (o nível mais baixo desde 1947). A indústria de transformação é aquela que transforma matérias-primas em produtos acabados ou em intermediários para outra indústria trabalhar. Ela tem maior valor agregado e também tem capacidade para gerar muitos empregos.

Perda de competitividade

Um setor industrial mais competitivo, ainda mais considerando a indústria de transformação, tem papel relevante na melhora da renda (por ser um dos segmentos que pagam melhores salários), na ampliação da estabilidade do emprego e na qualificação da mão de obra, fatores importantes de aumento do consumo e, consequentemente, no crescimento do PIB. Além disso, a retração industrial reflete nos demais setores, como comércio e serviços. Segundo estudos, para cada emprego criado na indústria de transformação, surgem outros três no restante da economia.

Estudo de 2015 da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o Brasil tornou-se menos competitivo nos últimos dez anos e é o 14º no ranking de 15 países considerados concorrentes. Outras economias emergentes, como Índia Chile e Rússia, estão no bloco acima da tabela de competitividade, que é liderada pelo Canadá, seguido por Coreia do Sul Austrália, China e Espanha.

Impostos pesados, altas taxas de juros, mão de obra desqualificada e falta de infraestrutura elevam o preço dos produtos manufaturados brasileiros, o que influencia diretamente na perda de competitividade e de mercados no exterior. Para 70% dos empresários brasileiros, o sistema tributário está longe do ideal, o que afeta investimentos.



Os custos elevados para o setor industrial tornam os produtos brasileiros menos competitivos.


Principais períodos da Indústrialização no país

• SÉCULO XIX À PRIMEIRA REPÚBLICA – a pequena indústria brasileira cresce lentamente e é voltada para o mercado interno, produzindo alimentos, bebidas, tecidos, utensílios e ferramentas.

• 1930-1945 E 1950-1954 – GOVERNOS DE GETÚLIO VARGAS – criação da indústria de base, empresas estatais de mineração, siderurgia e energia (petróleo e eletricidade), concentrada na Região Sudeste. Essa mudança abre caminho para surgirem novos segmentos industriais e para substituir os produtos importados.

• 1956-1961 – GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK – cresce a indústria de bens duráveis (veículos, eletrodomésticos) e a construção civil (construção de Brasília).

• 1964-1984 – DITADURA MILITAR – expansão da indústria de base e de bens duráveis, sobretudo no “milagre econômico” (1968-1973).

• DÉCADA DE 1980 – a economia é paralisada pela hiperinflação.

• DÉCADA DE 1990 – a partir do governo Collor (1990-1992), o país amplia a abertura do mercado a empresas estrangeiras, reduz as tarifas de importação, privatiza setores de serviços, como a telefonia, e importantes empresas estatais, como a Embraer e a Vale do Rio Doce, e é quebrado o monopólio da Petrobras na extração do petróleo.


 

MUDANÇA – Veja como a indústria se desconcentra no país. O Sudeste perde indústrias para as outras regiões, principalmente para a Sul, favorecida pela proximidade com os países do Mercosul.

A desconcentração Industrial

Atualmente, a indústria brasileira vive um processo e descentralização, do Sudeste para as demais regiões e das capitais para o interior dos estados. Há 100 anos, 80% das indústrias estavam no Sudeste. Essa participação caiu para 47% em 2013, último dado disponível. A Região Sul vem em segundo, com 29,5% do total. Entre as razões para isso, estão o deslocamento das fábricas atraídas por benefícios fiscais, o crescimento da oferta de mão de obra qualificada fora das capitais e o deslocamento de empresas para perto de fornecedores de matérias-primas.


O Custo-Brasil

O Custo-Brasil é uma expressão adotada para resumir os principais entraves para o investimento no país, que, além da carga tributária, engloba a baixa qualificação da mão de obra, o excesso de burocracia e a falta de investimento em infraestrutura, como portos, rodovias e ferrovias, para melhorar o escoamento da produção.

Tributos e outros fatores negativos que compõem o Custo-Brasil levaram o país a ficar na 116ª posição no ranking “Facilidade de Fazer Negócios” (Doing Business 2016) entre 189 economias, segundo o Banco Mundial.

Isso significa que o Custo-Brasil está saindo caro. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Custo-Brasil e a sobrevalorização do real oneraram a produção da indústria de transformação brasileira em 34,4%, quando comparada aos 15 principais países fornecedores (Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, China, Coreia do Sul, Espanha, EUA, França, Índia, Itália, Japão, México, Reino Unido e Suíça), entre 2008 e 2013.

Por fim, o processo de desindustrialização também pode ser explicado por algumas políticas adotadas nos anos 1990. A abertura econômica no início da década ocorreu sem a adaptação do país à nova realidade. Com isso, a indústria brasileira entrou em concorrência com produtos importados, que foram favorecidos por incentivos dados pelo governo, como redução de tarifas e de restrições às importações, o que prejudicou o desenvolvimento do setor industrial. Além disso, com longo período de moeda valorizada (1994-1999 e 2004-2010), comprar produto importado ficou mais barato para o brasileiro, o que desfavoreceu a indústria local. Com excesso de tributos e de burocracia e deficiência de estrutura e de logística, o país perdeu mercado para exportar manufaturados.

Avanço das commodities

Como uma das principais consequências, a desindustrialização causou uma redução da participação de produtos de alta intensidade tecnológica e de maior valor agregado nas exportações totais. A venda de manufaturados para outros países é fator-chave para o avanço tecnológico, pela necessidade de adaptação aos padrões internacionais de produção e para alcançar o nível de renda per capita dos países mais ricos.

Enquanto os produtos não industriais aumentaram sua participação na pauta exportadora brasileira de 16,9% em 2000 para 39,4% em 2014, produtos industriais de alta tecnologia perderam participação de 11,2% para 4% nesse período, e os de média tecnologia caíram de 25,2% para 16,5%.

Isso significa que as exportações brasileiras ficaram dependentes das commodities, que são os itens básicos que vão servir de matéria-prima para outra indústria transformá-los em produtos industrializados, como os grãos de soja ou o minério de ferro. Eles saem brutos do Brasil e são utilizados nas indústrias de outros países. Ou seja, todo o valor agregado resultado de sua industrialização gerará lucros lá fora e não aqui.

Também houve aumento das importações não somente de bens de capital (máquinas e equipamentos) e de consumo (sobretudo da China) como também de insumos industriais, os itens necessários para o funcionamento das fábricas, o que afeta nocivamente diversas cadeias produtivas da indústria brasileira.

Em outros países

O processo de desindustrialização e o declínio da produção ou do emprego industrial são na maioria das vezes uma consequência normal de um processo de desenvolvimento econômico bem- sucedido, estando geralmente associado a melhorias do padrão de vida da população.

Na fase de industrialização, a renda dos países tende a se elevar até atingir um valor entre 17,5 mil dólares e 22,8 mil dólares anuais per capita, o que permite a ampliação do setor de serviços mais sofisticados e de maior produtividade, como internet, informação e telecomunicações, TV a cabo, seguros, consultoria, intermediação financeira, transporte aéreo, restaurantes, viagens, entre outros.

Isso ocorre porque boa parte da população passa a destinar uma maior parcela de seus rendimentos a esses serviços. A indústria continua sendo um importante motor do crescimento, mas é o setor de serviços que passa a ditar o ritmo do crescimento econômico. Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido, França e Itália são exemplos de países que se desindustrializaram “naturalmente”, quando o PIB per capita atingiu um valor médio de 19,5 mil dólares.

Em outro extremo, a emergente Coreia do Sul é um exemplo de nação que atingiu esse nível de PIB per capita e optou por não se desindustrializar. Foi o país que mais aumentou a renda no período de 1970-2011, passando de 3,1 mil dólares para 27,3 mil dólares. China e Malásia ainda crescem com base na expansão industrial e têm uma participação elevada da indústria de transformação no PIB.

Líder dos emergentes e segunda maior economia do mundo (atrás dos Estados Unidos), a China obteve um excepcional crescimento econômico a
partir dos anos 1980 com base na expansão industrial e tem uma participação elevada da indústria de transformação no PIB. Como o país exige uma contrapartida dos investidores estrangeiros na forma de transferência de tecnologia, os chineses aperfeiçoaram sua indústria e passaram a exportar itens com maior valor agregado.

Outro país que vem alavancando sua economia a partir da expansão industrial é o México. Com políticas de incentivo, livre-comércio em 45 países, facilidade para exportar para os Estados Unidos e boas ligações com o Atlântico, o Pacífico e a Ásia, o país expande sua indústria automobilística, que tem atraído as principais montadoras do mundo. Em 2014, o México fabricou 3,3 milhões de veículos e desbancou o Brasil do 4º lugar no ranking dos maiores exportadores de carros do planeta. Lá, o setor automobilístico representa cerca de 3% do PIB e emprega 1,7 milhão de pessoas.

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IMPORTÂNCIA ECONÔMICA A indústria é o segundo setor gerador de riquezas do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Cria grande quantidade de empregos e responde por metade do valor exportado. A indústria brasileira cresceu junto com a economia do país, mas sua participação relativa no PIB está em queda e sua produção também.

DESACELERAÇÃO/span><  Desde 2009, a indústria brasileira sofre o impacto da crise econômica internacional e tem queda nas exportações. O governo federal adotou medidas de apoio à indústria, reduziu impostos sobre produtos para aumentar as vendas e o consumo e desonerou a folha de pagamento de salários de dezenas de setores. Mas, no programa de ajuste fiscal de 2015, o governo cortou boa parte do conjunto de benefícios adotado com a crise. A participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu de 27,2% em 2010, para 22,7% em 2015.

DESINDUSTRIALIZAÇÃO  É um processo que ocorre na globalização e já é constatado nos países desenvolvidos, onde a indústria perde relevância na economia devido ao aumento da renda da população e, consequentemente, à ascensão de serviços como internet, TV a cabo e
viagens. No Brasil discute-se se o país já sofre um processo de desindustrialização precoce, antes de atingir a renda per capita de países desenvolvidos, de 19 mil dólares.

PERDA DE COMPETITIVIDADE  Entre as razões para a desindustrialização estão políticas de abertura para a importação, que colocaram a indústria em concorrência com manufaturados estrangeiros a partir dos anos 1990. Também pesa o chamado Custo-Brasil (juros elevados, baixa qualificação da mão de obra, excessiva burocracia e gargalos de infraestrutura), que torna os produtos manufaturados mais caros e afeta a sua competitividade.

DESCONCENTRAÇÃO  Tradicionalmente concentradas na Região Sudeste e nas metrópoles, as indústrias estão se instalando em outras regiões do Brasil e no interior dos estados.

Indústria: Máquinas em desaceleração
Indústria: Máquinas em desaceleração
Máquinas em desaceleração A indústria perde cada vez mais participação na economia brasileira, e o país vive um processo precoce de desindustrialização O setor industrial brasileiro vem passando por um preocupante processo de retração nos últimos anos. Em virtude das recentes decisões tomadas na condução da economia nacional e da conjuntura internacional, a indústria perde […]

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