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Revolução cultural: Culto à personalidade

Culto à personalidade

Há cerca de 50 anos, a Revolução Cultural mobilizava milhões de estudantes chineses em uma campanha de perseguições políticas e exaltação a Mao Tsé-tung

Um abatido senhor chinês de meia-idade é cercado por dezenas de jovens trajando jaqueta e boina. Com o cabelo grosseiramente raspado e em posição de reverência, o homem carrega no pescoço uma placa com frases depreciativas, que o apontam como inimigo do governo chinês. O grupo realiza sessões de ofensas e agressões físicas à vítima, que, amarrada, tem de ficar imóvel por várias horas.

As cenas de humilhação pública eram recorrentes durante a Revolução Cultural Chinesa (1966-1976), como forma de punição a quaisquer representações contrárias ao regime comunista e, principalmente, à figura de Mao Tsétung. Durante os três primeiros anos da revolução, a população viveu em um cenário de intensa adoração à figura do líder e de feroz repressão, que, embora iniciada no campo cultural, reverberava no âmbito político e condicionava a vida do cidadão chinês.

EXALTAÇÃO – Membros da Guarda Vermelha reverenciam a figura do líder chinês Mao Tsé-tung durante a Revolução Cultural

 

A Grande Fome

Ainda se recuperando dos efeitos da II Guerra Mundial (1939-1945), a China chegava ao fim de uma intensa guerra civil, que instaurou a República Popular da China, em 1949. Sob o comando de Mao Tsé-tung, o país era reorganizado nos moldes comunistas, com regime de partido único, coletivização de terras e controle estatal da economia.

Empréstimos de grandes quantias, junto ao governo soviético, ajudaram na implementação de reformas de base e no aumento da produção agrícola. Aproveitando-se de uma população bastante numerosa e submissa, Mao passou a concentrar os esforços do governo no objetivo de tornar a China uma potência industrial, colocando em prática um projeto desenvolvimentista ambicioso. Para estruturar a produção agrária em um sistema corporativo, milhões de chineses foram obrigados a abandonar a agricultura familiar para trabalhar em fazendas coletivas e indústrias do Estado.

As consequências do chamado “Grande Salto para Frente” (1958- 1962) foram desastrosas. Houve uma queda acentuada na produção, o que aumentou o número de mortes por inanição. Calcula-se que tenham sido 30 milhões apenas no período. Em 1959, o líder foi afastado e substituído por Liu Shaoqi na presidência do país, apesar de permanecer com grande influência no Partido Comunista Chinês (PCCh).

Com os jovens, adiante

Com sua autoridade questionada por conta de medidas impopulares e começando a sofrer com dissidências internas ao partido, Mao arquiteta sua volta ao poder, lançando formalmente o projeto de Revolução Cultural – ou Grande Revolução Cultural Proletária –, em abril de 1966. Com a justificativa de promover o ataque às instituições burguesas e burocráticas, apontadas como causas do enfraquecimento do país, o líder convocou um levante popular de estudantes. Devia-se perseguir o que representasse qualquer um dos “quatro velhos”: velhas ideias, velha cultura, velhos costumes, velhos hábitos. Fascinados pela oportunidade de participação política, que não era muito estimulada pelo regime, os jovens começam a formar grupos, endossando o movimento pró-governo que ficou conhecido como Guardas Vermelhas.

A China, que historicamente sempre prezara pela hierarquia, erudição e manutenção das tradições, tinha, agora, tais instituições não somente questionadas, mas repudiadas. Universidades eram interditadas e intelectuais foram perseguidos e presos, acusados de traidores e simpatizantes do capitalismo. Altos oficiais eram obrigados a participar dos “programas de reeducação no campo”, sendo exilados em fazendas e fábricas para aprender a prática revolucionária com as camadas mais populares.

Empunhando um exemplar do Pequeno Livro Vermelho, publicação governista que trazia citações e pequenos discursos de Mao Tsé-tung, os jovens perseguiam traidores e expunham publicamente dissidentes políticos. O ódio era voltado a tudo que representasse a antiga ordem. Queimavam livros, cortavam pinturas, pisoteavam discos. Promoviam a invasão de casas e destruíam tudo que se relacionasse com a cultura popular. Apenas obras e canções propagandísticas a Mao tinham autorização para circular. Passou a ser comum a desapropriação de famílias inteiras e o confisco de bens valiosos, como ouro, jóias e dinheiro. O objetivo era tirar as riquezas das mãos particulares.

A globalização bate à porta

Movidas pelo fanatismo ideológico, as Guardas Vermelhas se dividiram em facções, intensificando os conflitos internos. Em 1969, diante do perigo real de uma guerra civil, Mao resolveu dissolver oficialmente as Guardas Vermelhas, reorganizando os organismos estatais para estimular o setor produtivo, que fora bastante prejudicado durante os anos de radicalismo ideológico. A Revolução Cultural só foi oficialmente encerrada após a morte de Mao, em 1976, mas o fim das Guardas Vermelhas marca o término do período mais radical do processo.

A morte do líder chinês também deu início a uma briga pelo poder no Partido Comunista. Deng Xiaoping, líder do setor reformista, assumiu o comando, colocando em prática diretrizes que puseram a China em um processo de transição para uma economia de mercado. As reformas no sistema produtivo são apontadas como responsáveis pelo vertiginoso crescimento econômico do país dos últimos anos, que conduziram a China à posição de segunda economia mais importante do mundo. Apesar de hoje possuir uma economia globalizada, o país mantém o sistema de partido único, com restrições a direitos políticos e liberdade de expressão.

Revolução cultural: Culto à personalidade
Revolução cultural: Culto à personalidade
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