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Idade Moderna: Reforma religiosa

Idade Moderna: Reforma religiosaROMPIMENTO – Ilustração mostra Martinho Lutero divulgando suas 95 teses que condenam as práticas da Igreja, em atitude que provocou a ira do papa

Novos tempos, novas crenças

Com as mudanças políticas e econômicas na Europa, alguns religiosos também resolveram revolucionar a fé

Em meados do século XVI, desencadeou- se na Europa um movimento de caráter religioso, político e econômico que contestava a estrutura e os dogmas da Igreja Católica: a Reforma Protestante. Ocorrida paralelamente ao Renascimento e à formação das monarquias nacionais europeias, ela expressou a necessidade de adequação da religião às transformações decorrentes do desenvolvimento do capitalismo.

 

Antecedentes

No fim da Idade Média, a Europa convivia com um constante medo dos castigos reservados aos pecadores no inferno. Quem estimulava essa tensão era a própria Igreja, que enriquecia com a venda de indulgências (perdão dos pecados). A prática financiava o luxo do alto clero, mas provocava descontentamento dentro da instituição.

A incipiente burguesia também estava insatisfeita. Ao proibir a usura – empréstimo de dinheiro a juros – e o lucro excessivo (decorrente da venda por um preço superior ao “preço justo”), a doutrina católica freava o desenvolvimento das atividades bancárias e comerciais, prejudicando a alma do negócio burguês. Paralelamente,com a formação das monarquias nacionais e o estabelecimento de fronteiras, a Igreja, grande proprietária de terras, passou a ser considerada potência estrangeira, o que estimulou conflitos entre reis e o papa.

Nesse contexto, começaram a surgir importantes críticos da Igreja Católica: John Wyclife, no século XIV, na Inglaterra, e Jan Huss, no século XV, na Boêmia (região do Sacro Império Romano-Germânico), são considerados precursores da Reforma, já que condenavam a venda de indulgências, a opulência do clero e defendiam o confisco dos bens da Igreja.

A reforma de Lutero

Em 1517, indignado com a venda de indulgências, o monge alemão Martinho Lutero afixou na porta da igreja em que pregava 95 teses, nas quais condenava várias práticas da Igreja. Após negar as exigências de retratação do papa, Lutero foi excomungado, tendo queimado publicamente a bula – documento papal que o condenou.

Sua doutrina, elaborada no exílio na Saxónia, tinha como base os princípios de predestinação, de Santo Agostinho. Segundo Lutero, a única saída para a salvação é a fé, não havendo necessidade de intermediários entre o homem

e Deus – papel dos sacerdotes no catolicismo. Além da extinção do clero regular, ele defendia a livre leitura e interpretação da Bíblia pelos fiéis e a submissão da Igreja ao Estado.

Suas ideias ofereciam uma justificativa para a nobreza germânica, que desejava se ver livre da interferência política da Igreja nos principados do Sacro Império. Com a pressão do Vaticano, em 1521, o imperador Carlos V convocou uma assembleia, a Dieta de Worms, que condenou Lutero por heresia. Porém, o monge continuou atraindo a simpatia dos nobres. Oito anos mais tarde, na Dieta de Spira, propôs-se tolerar o luteranismo onde já tivesse sido instalado, mas impedir sua propagação. Alguns principados protestaram, o que deu origem ao nome protestantismo. Em 1555 foi firmada a Paz de Augsburgo, que estabelecia a liberdade religiosa para os príncipes, cuja fé deveria ser adotada pelos súditos, consolidando a vitória do luteranismo. Além da Alemanha, o luteranismo se difundiu pela Suécia, Noruega e Dinamarca.

As pregações de Lutero estimularam movimentos que difundiam transformações mais radicais na sociedade. Em 1524 ocorreu a revolta camponesa dos anabatistas – nome pelo qual eram conhecidos os membros do grupo liderado pelo luterano Thomas Münzer, que defendia de forma violenta o fim da propriedade privada e a distribuição igualitária das riquezas. Lutero ficou do lado dos nobres, incitando a repressão, que acabou com a execução de Münzer no ano seguinte.

 A reforma de Calvino

A primeira tentativa de reforma na Suíça se deu com Ulrich Zwinglio, luterano que propôs uma doutrina mais radical. A briga entre protestantes e católicos desencadeou uma guerra civil entre 1529 e 1531. A Paz de Kappel determinou a autonomia religiosa para cada região do país.

Alguns anos depois, chegou a Genebra o religioso francês João Calvino, que reconhecia os princípios da predestinação – segundo a qual apenas alguns homens estão destinados à salvação – e da justificação pela fé. No entanto, pregava que as atividades comerciais e financeiras eram vistas com bons olhos por Deus e, portanto, em vez de condená-las, as encorajava. Ao justificar a moral da ascendente burguesia, o calvinismo difundiu-se mais que o luteranismo. Na Escócia, seus seguidores foram chamados de presbiterianos; na França, de huguenotes; e na Inglaterra, de puritanos.

A reforma inglesa

Na Inglaterra, a reforma foi desencadeada pelo rei Henrique VIII. Querendo tomar para si o poder que a Igreja Católica tinha em seu país, solicitou ao papa a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão, argumentando que, após 18 anos de casamento, ainda não possuía um herdeiro homem ao trono. A requisição foi negada, e Henrique VIII rompeu com o papa.

Em 1533, o Parlamento britânico aprovou o divórcio, e o rei se casou com Ana Bolena. No ano seguinte, Henrique VIII fundou a Igreja Anglicana, da qual era líder supremo. Após ser excomungado pelo papa, confiscou as terras católicas e extinguiu mosteiros. As propostas da nova religião em muito se assemelhavam às do catolicismo, o que resultou em sérios conflitos com os puritanos no século XVII.

 Contrarreforma

A reação católica à expansão das doutrinas protestantes ficou conhecida como Contrarreforma. O papa Paulo III convocou, em 1545, o Concílio de Trento, que condenou o protestantismo e reafirmou os princípios católicos. A Inquisição foi reavivada – o astrônomo italiano Galileu Galilei foi uma de suas vítimas, sendo condenado a prisão domiciliar em 1633 (veja mais na pág. 41). A Igreja também instituiu o Index Librorum Prohibitorum – uma lista de livros proibidos aos católicos. Mas algumas reformas internas foram empreendidas: decidiu-se regular as obrigações do clero e o excesso de luxo na vida dos religiosos.

A Contrarreforma não conseguiu acabar com o protestantismo, apenas freou sua expansão. Um de seus êxitos foi a disseminação da fé católica pelas colônias europeias – inclusive o Brasil –, trabalho realizado pela Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas, criada em 1534. É graças a ela que a América Latina tem o maior número de católicos no mundo.

Idade Moderna: Reforma religiosa

Idade Moderna: Reforma religiosa

O BRASIL É O MAIOR PAÍS CATÓLICO DO MUNDO

O Brasil é a nação que reúne o maior número absoluto de católicos no mundo, com 123,9 milhões de fiéis. Segundo dados do último
Censo brasileiro, realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 64,6% da população se declara católica. No entanto, os evangélicos – que possuem vínculo histórico com o movimento protestante – representam o grupo religioso que mais cresce em percentual de adeptos. Em 1970, apenas 5,2% dos brasileiros se declaravam evangélicos. Já no último Censo, os evangélicos totalizavam 22,2%.

 

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