Literatura do Pré-Modernismo: Como cai na prova
1. (UNIFESP 2015) “É preciso ler esse livro singular sem a obsessão de enquadrá-lo em um determinado gênero literário, o que implicaria em prejuízo paralisante. Ao contrário, a abertura a mais de uma perspectiva é o modo próprio de enfrentá-lo. A descrição minuciosa da terra, do homem e da luta situa-o no nível da cultura científica e histórica. Seu autor fez geografia humana e sociologia como um espírito atilado poderia fazê-las no começo do século, em nosso meio intelectual, então avesso à observação demorada e à pesquisa pura. Situando a obra na evolução do pensamento brasileiro, diz lucidamente o crítico Antonio Candido: “Livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, esta obra assinala um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença de cultura entre as regiões litorâneas e o interior).”
Alfredo Bosi. História Concisa da Literatura Brasileira, 1994. Adaptado.
O excerto trata da obra:
a) Capitães da Areia, de Jorge Amado.
b) O Cortiço, de Aluísio de Azevedo.
c) Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
d) Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
e) Os Sertões, de Euclides da Cunha.
2. (UNICAMP 2016) Quanto ao conto Negrinha, de Monteiro Lobato, é correto afirmar que:
a) O narrador adere à perspectiva de dona Inácia, fazendo com que o leitor enxergue a história guiado pela ótica dessa personagem e se torne cúmplice dos valores éticos apresentados no conto.
b) O modo como o narrador caracteriza o contexto histórico no conto permite concluir que Negrinha é escrava de dona Inácia e, portanto, está fadada a uma vida de humilhações.
c) A maneira como o narrador comenta as características atribuídas às personagens contrasta com as falas e as ações realizadas por elas, o que caracteriza um modo irônico de apresentação.
d) O narrador apresenta as falas e pensamentos das personagens de modo objetivo; assim, o leitor fica dispensado de elaborar um juízo crítico sobre as relações de poder entre as personagens.
3. (ENEM 2014)
Tarefa
Morder o fruto amargo e não cuspir
Mas avisar aos outros quanto é amargo
Cumprir o trato injusto e não falhar
Mas avisar aos outros quanto é injusto
Sofrer o esquema falso e não ceder
Mas avisar aos outros quanto é falso
Dizer também que são coisas mutáveis…
E quando em muitos a não pulsar
– do amargo e injusto e falso por mudar –
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.
CAMPOS, G. Tarefa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
Na organização do poema, os empregos da conjunção “mas” articulam, para além de sua função sintática,
a) a ligação entre verbos semanticamente semelhantes.
b) a oposição entre ações aparentemente inconciliáveis.
c) a introdução do argumento mais forte de uma sequência.
d) o reforço da causa apresentada no enunciado introdutório.
e) a intensidade dos problemas sociais presentes no mundo.
4. (UERJ 2016)
A EDUCAÇÃO PELA SEDA
“Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável.
Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar.”
Rosa Amanda Strausz. Mínimo Múltiplo Comum: Contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.
O conto contrasta dois tipos de texto em sua estrutura. Enquanto o segundo parágrafo se configura como narrativo, o primeiro parágrafo se aproxima da seguinte tipologia:
a) injuntivo
b) descritivo
c) dramático
d) argumentativo
5. (ENEM 2015)
Carta ao Tom 74
Rua Nascimento Silva, cento e sete
Você ensinando pra Elizete
As canções de canção do amor demais
Lembra que tempo feliz
Ah, que saudade,
Ipanema era só felicidade
Era como se o amor doesse em paz
Nossa famosa garota nem sabia
A que ponto a cidade turvaria
Esse Rio de amor que se perdeu
Mesmo a tristeza da gente era mais bela
E além disso se via da janela
Um cantinho de céu e o Redentor
É, meu amigo, só resta uma certeza,
É preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor
MORAES, V.; TOQUINHO. Bossa Nova, Sua História, Sua Gente. São Paulo: Universal; Philips,1975 (fragmento).
O trecho da canção de Toquinho e Vinícius de Moraes apresenta marcas do gênero textual carta, possibilitando que o eu poético e o interlocutor:
a) compartilhem uma visão realista sobre o amor em sintonia com o meio urbano.
b) troquem notícias em tom nostálgico sobre as mudanças ocorridas na cidade.
c) façam confidências, uma vez que não se encontram mais no Rio de Janeiro.
d) tratem pragmaticamente sobre os destinos do amor e da vida citadina.
e) aceitem as transformações ocorridas em pontos turísticos específicos.
Respostas
1. O clássico livro brasileiro com sua divisão tripartite entre a terra, o homem e a luta, e que trouxe registros jornalísticos minuciosos para o jornal O Estado de S. Paulo é o célebre Os Sertões, de Euclides da Cunha. Justamente por ser uma obra de não ficção, baseada em uma investigação jornalística, o livro apresenta caráter sociológico, que, mesclado a uma obra literária, gerou esse texto singular e incapaz de ser classificado em um gênero. Por fim, Euclides se valeu do pensamento científico para analisar Canudos, o sertão e o sertanejo. Ainda que haja presença de textos jornalísticos em Capitães da Areia, não é possível afirmar que ocorra mistura de gêneros. Os demais livros não apresentam essa possibilidade.
Resposta: E
2. A ironia é a figura de linguagem que consiste em dizer o contrário do que se quer dar a entender. Esse recurso é muito utilizado por Monteiro Lobato no conto Negrinha. Ele classifica dona Inácia como excelente senhora, por exemplo, ironizando justamente seu caráter racista e sua maldade, que são apresentados ao longo da história. Em outra passagem, após descrever as atrocidades que a patroa faz com Negrinha, ele a caracteriza como virtuosa dama.
Resposta: C
3. A alternativa C é a correta, pois a conjunção “mas”, neste caso, introduz o argumento mais forte na sequencia de três proposições. Quanto às alternativas incorretas: a) a função da conjunção “mas” no texto é adversativa, sendo assim ela não liga ideias semelhantes; b) por ser adversativa, ela faz a ligação entre ideias contrárias, mas que não são, necessariamente, inconciliáveis. Assim, as duas primeiras alternativas implicam a aceitação da situação negativa, enquanto a terceira propõe uma ação contrária ao que aceitou. A alternativa D está incorreta, pois não há enunciado introdutório no poema. E, por fim, o erro da alternativa E está no fato da conjunção não exprimir intensidade.
Resposta: C
4. Enquanto o modo narrativo se estrutura na enunciação de fatos (trazendo personagem, ações e temporalidade típicos das histórias), o modo argumentativo se pauta no encadeamento de ideias. Na primeira parte do texto, a autora dispõe essas ideias de forma a construir um argumento final, o de que toda revelação é vulgar.
Resposta: D
5. Na letra da canção, os autores recordam tempos passados e expressam a saudade dos momentos em que viviam num Rio diferente e prazeroso. Em tom nostálgico, sugerem a Tom Jobim que a única coisa que resta a fazer é acabar com a tristeza e reinventar o amor.
Resposta: B
Resumo
Literatura do Pré-Modernismo
PRÉ-MODERNISMO (1902-1922): Situa-se em um momento histórico de transição do regime monárquico ao republicano. Muitas obras debatem os problemas do país e alimentam um sentimento nacionalista. Destacam-se personagens e situações afastadas da realidade das classes sociais economicamente privilegiadas, como Os Sertões (1902), marco do movimento, de Euclides da Cunha, e Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), de Lima Barreto.
• Monteiro Lobato: Mais conhecido por seus livros dirigidos a crianças e jovens, o autor também escreveu para o público adulto. Alguns de seus contos pré-modernistas retratam temas relacionados às camadas mais pobres da sociedade.
PARNASIANISMO (1882-1922): Os poetas parnasianos trabalham o verso e o poema em busca da perfeição estética. Para atingir a harmonia das formas, usam construções gramaticais sofisticadas e herméticas e vocabulário rebuscado. Objetos raros e preciosos, como vasos, estátuas e joias, compõem a temática. Olavo Bilac é considerado o maior poeta parnasiano do Brasil. Ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, formam a “tríade parnasiana”.
SIMBOLISMO (1893-1922) Ao escolherem um vocabulário com múltiplas possibilidades semânticas, os poetas simbolistas buscam a transcendência. As construções poéticas conferem ritmo e musicalidade e evocam sentimentos e emoções por meio da sugestão. Destacam-se Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.
GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO
• Tipos de texto Os principais tipos textuais são:
Narração: Presente em diversos gêneros literários, apresenta os seguintes elementos: personagens, tempo, espaço e narrador.
Descrição: É usada para caracterizar ações, pensamentos e traços físicos de seres e ambientes presentes nos textos – fazendo com que o leitor visualize os elementos apresentados.
Dissertação: Tem o objetivo de defender uma tese (ponto de vista) sobre certo tema. Partindo da apresentação do assunto, o autor procura convencer o leitor a aderir à ideia defendida.
• Orações coordenadas: Podem ser assindéticas (aquelas que não possuem conectivos, sendo ligadas por vírgulas) ou sindéticas (que possuem uma conjunção coordenativa fazendo a ligação entre elas). As conjunções coordenativas estabelecem relações de adição (e), oposição (mas), explicação (porque), conclusão (portanto) e alternância (ou).
• Funções do “se”: A palavra “se” pode desempenhar diversas funções nas frases, como pronome reflexivo (vestiu-se); conjunção subordinativa condicional (Se ela for embora, eu vou também); índice de indeterminação do sujeito (Precisa-se de ajudante); e partícula apassivadora (Fez-se uma grande festa).