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Alemanha desliga as suas últimas usinas nucleares

Mesmo sendo considerada uma fonte limpa, já que é pouco poluente, a energia atômica sofre questionamento mundial pelo risco de acidentes graves

Um dia histórico: assim é considerado o 15 de abril de 2023 na Alemanha, quando foram desligadas suas três últimas usinas nucleares. Fecha-se assim o uso de uma fonte que chegou a responder por 13% do fornecimento de energia no país (2001), exigiu pesados investimentos ao longo de décadas e é considerada uma alternativa “limpa”, que gera pouca poluição ambiental.

A decisão foi tomada a partir da repercussão dos catastróficos acidentes nas usinas nucleares em Chernobyl, na Ucrânia (então parte da União Soviética), em 1986, e em Fukushima, no Japão, em 2011. Pressionado por um forte movimento interno contra a energia nuclear há décadas, o governo alemão passou a considerar que “os riscos da energia nuclear são incontroláveis”, segundo afirmou Steffi Lemke, ministra do Meio Ambiente, no dia do fechamento.
A Alemanha chegou a ter 19 usinas nucleares, desativadas gradativamente. O encerramento das três últimas usinas chegou a ser adiado por alguns meses, pelo momento particularmente difícil vivido pelo país, pois, com a guerra da Ucrânia, reduziu-se drasticamente o fornecimento de gás natural pela Rússia (via o gasoduto Nord Stream 1), essencial para a economia alemã. Ao fecharem, as usinas atômicas respondiam por cerca de 6% do fornecimento energético da Alemanha. Nos últimos meses, o país corre atrás de novos fornecedores de combustíveis, num mercado mundial bastante afetado pelas sanções econômicas à Rússia, importante exportador de gás e petróleo.

Usinas nucleares

A decisão da Alemanha chama a atenção, mas não é seguida pelo restante da Europa. A França, por exemplo, tem nas usinas nucleares a sua principal fonte de energia (41,3% do total de sua oferta interna em 2021). Suíça, Bélgica e Finlândia, entre outros, são países nos quais a energia nuclear é fonte importante.
A expansão das usinas atômicas veio na esteira da crise do petróleo, em 1973, quando os principais países exportadores de petróleo cortaram o fornecimento global (por causa de conflitos no Oriente Médio), atingindo fortemente as economias industrializadas, muito dependes do combustível. A energia nuclear, então, reforçou-se como alternativa para países que buscavam serem autossuficientes na área de energia a partir de seus próprios recursos (na ausência de reservas de petróleo ou com pouco potencial hidrelétrico), particularmente entre os europeus. A decisão da Alemanha representa uma importante mudança de rumos.

Tecnologia nuclear

Ao falarmos da questão nuclear, estamos tratando de uma tecnologia de ponta para o mundo contemporâneo em termos de geração de energia, de recursos médicos (com múltiplos usos), de utilização agrícola, industrial e científica, e sobretudo de uso bélico. Afinal, desde 1945, quando as bombas atômicas explodiram sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, o mundo entrou na era nuclear. A tensão geopolítica do período da Guerra Fria (1945-1991) tinha como ponto maior o confronto de arsenais nucleares entre Estados Unidos e União Soviética. Mesmo após o fim da URSS, as armas nucleares prosseguem como fonte de ameaça potencial, em crise como a guerra na Ucrânia.
A busca de reduzir os riscos na arena mundial tomou a forma do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), assinado em 1968, e que entrou em vigor em 1970. Por ele, apenas podem ter armas nucleares os cinco países que explodiram bombas atômicas (em testes) antes de 1967: Estados Unidos, União Soviética (sucedida pela Rússia), Reino Unido, França e China. Não é uma coincidência que são justamente os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, ou seja, os países que têm poder de veto sobre qualquer decisão da instituição.
Todos os demais países são convocados a aderir ao TNP comprometendo-se a não tentar construir armas nucleares. Eles podem desenvolver pesquisas e atividades ligadas à energia nuclear para fins pacíficos, mas estão sob fiscalização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O TNP hoje reúne 189 países – estão fora do tratado Índia, Paquistão e Coreia do Norte, que têm arsenal nuclear, e Israel, que se considera internacionalmente que também possui.
O tratado tenta então disciplinar as ações de um mercado estratégico, que envolve principalmente o urânio, elemento com o maior peso atômico entre as substâncias naturais (átomo com 92 prótons em seu núcleo). Uma explicação necessária: para liberar a energia atômica, é necessário um processo chamado de enriquecimento do urânio, que consiste na concentração de um isótopo (variante) chamado U-235. Quando ele é enriquecido entre 2,5% a 5%, pode-se usá-lo para fins pacíficos e como combustível para usinas atômicas; por volta de 20%, para submarinos nucleares e fins medicinais; e só quando passa de 90%, para fazer uma bomba nuclear. Além das cinco potências, países como o Brasil, a Holanda, o Japão e o Irã detêm tecnologias para o enriquecimento de urânio. As fiscalizações da AIEA, então, visam garantir que o enriquecimento ocorra nos limites fixados pelo TNP, de até 20%.
A fiscalização, porém, envolve muita tensão, com acusações de espionagem industrial e tentativas de bloquear o acesso de países na disputa por novos mercados, que representam bilhões de dólares para as empresas e países envolvidos.
O Brasil ocupa um lugar nesse jogo. É um dos dez países com maiores reservas de urânio, as principais no Ceará e na Bahia, e faz o enriquecimento nas Indústrias Nucleares do Brasil, em Resende (RJ), para abastecer a usina nuclear de Angra dos Reis (RJ), que gera sozinha 1,3% da energia nacional. A usina foi desenvolvida a partir de um acordo justamente com a Alemanha, que agora abandona essa via. O país também desenvolve desde 1979 o projeto de um submarino nuclear, com previsão atual de entregar a primeira embarcação em 2029.

MARCOS DA HISTÓRIA NUCLEAR
1898 – Marie Curie elabora o conceito de radioatividade.
1905 – Albert Einstein desenvolve a teoria de que uma pequena quantidade de matéria pode ser convertida em enorme quantidade de energia (E = mc²)
1932 – A primeira fissão nuclear é obtida em laboratório, comprovando a tese de Einstein.
1938 – Cientistas alemães obtêm a fissão nuclear do urânio.
1942 – A Universidade de Chicago (EUA) constrói o primeiro reator nuclear.
1945 – Hiroshima e Nagasaki são arrasadas por duas bombas atômicas, que matam 170 mil pessoas.
1949 – A União Soviética detona seu primeiro artefato atômico.
1952 – Brasil funda o primeiro centro de pesquisa nuclear.
1954 – Primeiro submarino nuclear dos EUA.
1955 – Nos EUA, energia nuclear começa a fornecer eletricidade.
1962 – Crise dos mísseis soviéticos em Cuba leva ao ponto máximo a ameaça de guerra atômica.
1964 – China, França e Reino Unido já detêm ogivas nucleares.
1970 – Entra em vigor o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
1974 – Índia detona sua primeira bomba atômica.
1979 – Acidente na usina nuclear de Three Mile Island (EUA).
1981 – Início do funcionamento da usina atômica de Angra dos Reis (RJ).
1986 – Acidente na usina nuclear de Chernobyl (URSS).
2005 – Coreia do Norte anuncia deter armas nucleares.
2010 – EUA e Rússia anunciam redução do arsenal atômico; Irã recebe sanções por descumprir orientações da AIEA.
2011 – Acidente na usina nuclear de Fukushima (Japão).
2023 – Alemanha fecha suas últimas usinas atômicas.

Matriz de energia

Frente às atuais mudanças climáticas, que afetam todo o planeta, há uma diretriz mundial para o desenvolvimento de fontes de energia não poluentes. Mas o fato é que, atualmente, a matriz energética mundial ainda é largamente dominada por fontes de energia não-renováveis, grandes emissoras de CO² (dióxido de carbono) – petróleo, carvão mineral e gás natural. Pelos dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), essas três fontes somam cerca de 80% da matriz mundial (dados de 2021) (veja a tabela abaixo).
A energia nuclear ainda ocupa lugar relevante, com 5% da matriz. As fontes renováveis, como os biocombustíveis (ou energia de biomassa) e as energias eólica (dos ventos) e solar estão em crescimento, mas em nível mundial, juntas, passam pouco dos 10%. As usinas hidrelétricas, consideradas uma boa alternativa há algumas décadas, sofrem críticas atualmente por provocarem significativos impactos ambientais, destruindo florestas e alterando profundamente o clima local e a vida animal.
No esforço mundial por energia limpa e renovável, o Brasil ocupa um lugar de destaque, pois sua matriz possui cerca de um terço de fontes de energia ligadas aos biocombustíveis – principalmente o etanol – e um largo território e uma posição geográfica privilegiada para o desenvolvimento de projetos de energia eólica e solar. Isso dá projeção mundial na área, mesmo que o petróleo ainda seja a principal fonte de energia, e que o país tenha ampliado muito as suas reservas de petróleo com a chegada ao pré-sal, há 15 anos. Mas uma simples comparação (veja as tabelas abaixo) mostra como o Brasil, pelo desenvolvimento de boas políticas públicas no passado, possui agora uma matriz de energia diversificada e que dá uma base promissora para o futuro.

Matriz de energia mundo
Produção de energia por fonte, em 2020
Fonte

%

Petróleo

29,5

Carvão mineral

26,8

Gás natural

23,7

Biocombustíveis

9,8

Energia nuclear

5

Energia hidrelétrica

2,7

Eólica, solar e outras

2,5

Fonte: Agência Internacional de Energia

Matriz de energia Brasil
Produção de energia por fonte, em 2021
Fonte

%

Petróleo

34,8

Biocombustíveis

34

Energia hidrelétrica

12

Gás natural

10,6

Carvão mineral

4,9

Eólica, solar e outras

2,4

Energia nuclear

1,3

Fonte: Agência Internacional de Energia

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