Ciência: A Nasa encontra água em Marte

Missão: Marte. o robô curiosity, em expedição no planeta, registra imagens para análise dos cientistas da Nasa.

Nasa encontra água no planeta vermelho

A confirmação da existência de água salgada em estado líquido em Marte alimenta a possibilidade de haver alguma vida no planeta

Um grupo de cientistas da Agência Espacial Norte-Americana, a Nasa, fez um anúncio histórico em setembro de 2015: existem provas de que haja água líquida e corrente em Marte. A descoberta sem precedentes provocou grande empolgação na comunidade científica e em entusiastas da astronomia em geral. Afinal ela acena para uma gama de possibilidades.
          A principal é que o fato de haver água em Marte pode ser um indício de que exista, ou tenha existido, algum tipo de vida no planeta vermelho. Além disso, torna mais viável missões tripuladas. A descoberta da Nasa agora aumenta a expectativa dos pesquisadores quanto ao resultado das novas missões para Marte.

          Água salgada e líquida

          O estudo que confirmou a existência de água em Marte foi conduzido por pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta, a partir da análise das imagens feitas pelo satélite Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da Nasa. A sonda foi enviada ao planeta em 2005 e é dotada de uma câmera e de um espectrômetro que identificam materiais pela luz que emitem.
          Desde 2011, os cientistas haviam identificado pelas imagens do MRO misteriosas ranhuras escuras na superfície do planeta. Esses sulcos apareciam em bordas de crateras e encostas de algumas montanhas durante as estações mais quentes e desapareciam nas épocas mais frias. O que os cientistas descobriram agora é que as ranhuras estão associadas à existência de água em estado líquido que corre por esses sulcos durante o verão marciano.
          O mistério foi solucionado a partir da identificação de sais hidratados nas ranhuras. E são essas substâncias que permitem à água permanecer em estado líquido. Esses sais dissolvidos na água evitam que ela evapore devido à baixa pressão atmosférica ou congele em decorrência das baixas temperaturas. O próximo passo é descobrir de onde vem a água. As principais hipóteses apontam para a existência de aquíferos subterrâneos ou que a água seja formada a partir da condensação do vapor d’água que se encontra na atmosfera de Marte.

          Vida em Marte?

          Os cientistas da Nasa já tratam a descoberta de água em Marte como um indício concreto de que possa haver vida no planeta – e finalmente poder responder ao dilema que atormenta os astrônomos e demais aficionados pelo tema: afinal, estamos ou não sozinhos no Universo? A expectativa dos cientistas é que haja – ou pelo menos tenha existido – bactérias e micróbios no planeta vermelho.
          A investigação dessa possibilidade é o próximo desafio da Nasa. Além de tentar entender com mais detalhes as etapas do ciclo hidrológico do planeta – no passado e no presente –, os cientistas agora querem colher e analisar melhor as amostras do solo marciano para tentar identificar algum sinal de vida. No entanto, a Nasa não tem nenhuma missão com esse propósito planejada no momento. Além disso, a Agência Espacial suspendeu uma missão prevista para março de 2016 por problemas técnicos – o lançamento do próximo módulo de aterrissagem para exploração do planeta deve ocorrer apenas em 2018.

          Coleta de amostras

          Mas a Nasa não é a única agência espacial que desenvolve projetos de exploração em Marte. A Agência Espacial Europeia (ESA), em parceria com a agência russa Roscosmos, deve lançar sua primeira missão científica ao planeta em 2016 – até o fechamento desta edição ela estava prevista para março.
          O objetivo do projeto, batizado de ExoMars, é colocar na superfície de Marte um pequeno robô que será responsável por coletar amostras de terra do planeta para verificar a possibilidade de haver vida por lá. Equipado com rodas, câmeras e uma broca de escavação, o robô irá extrair amostras a 2 metros abaixo da superfície, uma profundidade ainda não explorada em missões anteriores.
          Além de tentar descobrir sinais de vida em Marte, uma outra possibilidade aberta a partir da descoberta de água pela Nasa é o envio de astronautas e, quem sabe, até uma futura colonização. Ainda que seja uma perspectiva de longo prazo, já há planos da Nasa nesse sentido.

          Corrida espacial

          Marte ocupa um lugar especial na astronomia, por ser o planeta vizinho mais viável para as pesquisas espaciais: está a uma distância do Sol que permitiria haver vida e pode receber uma missão tripulada. Vênus e Mercúrio estão muito próximos do Sol e com temperaturas que não permitem formas de vida como as da Terra, ou uma visita humana.
          A primeiras missões para Marte começaram na década de 1960 enviadas pela Nasa. Nos anos 1970, as missões Vikings conseguiram os primeiros pousos de sucesso na superfície. A partir de 2004, os “jipes” Opportunity e Curiosity passaram a registrar imagens de alta definição da superfície. Além da Nasa e da ESA, a Índia também começa a explorar Marte a partir de um satélite lançado em 2014 com colaboração do Brasil.
Um aspecto importante das pesquisas e programas espaciais é que eles dão aos países autonomia na construção e lançamento de foguetes (inclusive para uso militar) e envio de satélites próprios, fundamentais para telecomunicações, segurança militar, monitoramento ambiental e do clima, entre outras aplicações. O Brasil possui um programa de construção e lançamento de satélites em parceria com a China e participa da construção e manutenção da Estação Espacial Internacional (ISS). •

PARA IR ALÉM O filme Perdido em Marte (Ridley Scott, 2015) mostra a tentativa de um astronauta de sobreviver no planeta após ser abandonado.

          Nasa revela detalhes da colonização de Marte

          Da mesma forma que levou os homens à Lua, a Nasa pretende nos levar a Marte. No entanto, ao contrário da missão Apollo, “nós iremos para ficar”, afirmou a agência espacial americana em um documento de 36 páginas que detalha os próximos passos da Jornada para Marte, missão de colonização do planeta.
          Divulgado na última semana, o relatório da Nasa revela os muitos desafios que ainda precisam ser superados antes que os humanos possam fincar a bandeira em território marciano, como radiações, efeitos da microgravidade e contaminações fatais aos homens. Enquanto as primeiras datas divulgadas pela agência previam 2030 como o ano provável para a chegada do homem a Marte, o novo documento revisa o calendário para as “próximas décadas”. (…)
          O plano divide-se em três etapas, a primeira das quais já está em andamento com experimentos sobre a saúde e o comportamento humanos e sistemas para cultivar comida e reciclar água a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS). (…)

Veja, 12/10/2015

          MARTE

ÁGUA EM MARTE A Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) anunciou em setembro de 2015 a confirmação de que existe água em estado líquido em Marte, associada a muito sal. A evidência surgiu no exame de fotos feitas pelo satélite norte-americano MRO. As imagens mostram ranhuras na superfície do planeta que estão associadas a pequenas correntes de água que percorrem esses sulcos no verão marciano.

BUSCA PELA VIDA Cientistas procuram por água fora da Terra para saber se há vida em outros planetas. A água é elemento essencial à vida como a conhecemos, e sua presença, mesmo associada a muito sal, indica que pode haver algum tipo de vida microbiológica em Marte. O planeta é o mais viável para pesquisas espaciais e está a uma distância do Sol que permite a vida.

CORRIDA ESPACIAL As pesquisas espaciais não servem apenas para saber se estamos sozinhos no Universo, mas para desenvolver tecnologia para a produção e o lançamento de foguetes e satélites. Eles são fundamentais em telecomunicações, segurança militar, monitoramento ambiental e do clima, entre outras necessidades. O Brasil mantém um programa de construção de foguetes com a China, e participa da construção e manutenção da Estação Espacial Internacional (ISS).