Biotecnologia: Agrotóxicos e transgênicos no Brasil
MANUSEIE COM CUIDADO Técnicos misturam defensivos agrícolas em fazenda de soja em Nova Mutum (MT): Brasil é campeão no uso de agrotóxicos
POLÊMICA NA MESA DO BRASILEIRO
Maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o Brasil também é o segundo país em área plantada de produtos transgênicos
Em 2050, a população mundial será de 9,6 bilhões de habitantes, de acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU). Embora o crescimento demográfico ocorra em ritmo menor em relação ao registrado nas décadas passadas, o planeta vai contar com mais 2,4 milhões de habitantes até lá. Como não restam muitas fronteiras agrícolas, ou seja, novas terras que podem ser usadas para o plantio, como lidar com a necessidade de aumentar a produção de alimentos?
Diante dessa questão, a biotecnologia – ramo da ciência que aplica os conceitos da engenharia genética na geração de novos produtos – apresenta duas alternativas para aumentar a produtividade agrícola: o uso de sementes transgênicas de agrotóxicos. Mas a utilização desses recursos causa polêmica em virtude de oferecer eventuais riscos para o meio ambiente e para a saúde humana.
Transgênicos
Mais de vinte anos depois do surgimento do primeiro alimento geneticamente modificado, as culturas transgênicas, principalmente de soja, milho e algodão, aumentam em todo o mundo. Já são transgênicos 80% da soja e 30% do milho plantados no planeta.
Segundo maior fornecedor mundial de produtos agrícolas, atrás apenas dos Estados Unidos (EUA), o Brasil também fica na segunda posição (atrás novamente dos EUA) no ranking de maior plantador de sementes transgênicas. No total, 28 países cultivam transgênicos. A maioria são nações em desenvolvimento – Brasil, Argentina e Índia respondem por mais de 40% do total da área plantada.
Argumentos pró e contra
Transgênicos são Organismos Geneticamente Modificados (OGM), ou seja, que sofreram uma alteração em seu DNA por meio da engenharia genética (com a inserção de genes de uma espécie em outra) para adquirir uma característica que não possuíam antes. O principal objetivo seria o desenvolvimento de sementes cultivos mais resistentes a pragas, a insetos e a herbicidas, com a consequente diminuição do uso de agrotóxicos e aumento da produção agrícola.
Os críticos argumentam que a transferência de genes de uma espécie a outra pode provocar a contaminação dos ecossistemas e comprometer a biodiversidade. Um dos maiores receios é que, numa plantação, sementes modificadas sejam levadas pelo vento ou pela chuva para áreas de espécies silvestres, afetando as plantas nativas ou a saúde de animais e, daí, desequilibrando todo o ecossistema.
Além disso, não se conhecem todos os efeitos colaterais dos transgênicos sobre os organismos animais e humanos. Uma recente pesquisa sobre o tema, que examinou mais de mil estudos, divulgada em maio de 2016 pela Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA, afirmou que as sementes geneticamente modificadas não trazem riscos à saúde humana e nem ao meio ambiente. No entanto, ainda não há consenso na comunidade científica sobre a questão.
No Brasil, desde 2003, uma lei federal obriga que os produtos que levam matéria-prima transgênica, como óleo de soja, fubá e derivados, tragam no rótulo um “T” preto sobre um triângulo amarelo. No entanto, em abril de 2015, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que dispensa a obrigatoriedade do símbolo nos rótulos dos alimentos. Até junho de 2016, o projeto ainda não tinha sido votado no Senado.
Agrotóxicos
Não é só na plantação de transgênicos que o Brasil tem destaque. O país também se tornou, desde 2008, o maior consumidor mundial de agrotóxicos – os produtos (inseticidas, fungicidas e herbicidas) utilizados na agricultura para controlar insetos, doenças (provocadas por fungos, por exemplo) ou matos (ervas daninhas) que causam prejuízos às culturas.
Muitos especialistas apontam, no entanto, que o crescimento das culturas transgênicas, ao contrário do que havia sido propagado, não trouxe uma diminuição no uso de agrotóxicos, mas sim um aumento. Como determinados transgênicos são resistentes a certo tipo de herbicida, o agricultor usa cada vez mais o produto para proteger sua plantação, até preventivamente. Com o tempo, esse uso excessivo leva ao surgimento de pragas também mais resistentes, exigindo aplicações cada vez maiores. Além disso, com a introdução dos transgênicos, há menor diversidade genética. E quando uma doença ataca, ela acomete uma área maior, provocando o aumento de outros tipos de agrotóxicos, como os fungicidas. Organizações críticas dos transgênicos, como a ONG internacional Greenpeace, também relacionam o fato de as empresas que produzem as sementes transgênicas serem as mesmas que controlam o mercado de agroquímicos.
Os agricultores afirmam que o uso dos agrotóxicos é indispensável para a produção de alimentos em larga escala. Mas, segundo análise por amostragem de alimentos da cesta básica, realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na cidade de São Paulo, em 2014, quase um terço deles tinha agrotóxicos proibidos ou em quantidade acima da permitida por lei. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), os danos à saúde incluem câncer, infertilidade, malformações fetais e efeitos sobre o sistema imunológico, entre outros.
Biotecnologia
BIOTECNOLOGIA Graças ao avanço da engenharia genética, o cultivo de culturas transgênicas cresce em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. A adoção desse tipo de tecnologia está relacionada à necessidade de aumentar a produção de alimentos no planeta.
TRANSGÊNICOS São Organismos Geneticamente Modificados (OGM), ou seja, que sofreram uma modificação genética pela introdução de alguma característica que originalmente não continham. O propósito é obter plantas mais resistentes a pragas e a pesticidas. O Brasil é o segundo maior plantador de sementes transgênicas do mundo (atrás apenas dos Estados Unidos).
AGROTÓXICOS O Brasil também é o maior consumidor mundial de agrotóxicos – os produtos (inseticidas, fungicidas e herbicidas) utilizados na agricultura para controlar insetos, doenças ou plantas daninhas que causam prejuízos às plantações.
POLÊMICA Ambientalistas temem o contágio do meio ambiente por espécies modificadas e a perda da biodiversidade. Não existe consenso sobre a segurança dos transgênicos para o organismo humano. Em relação aos agrotóxicos, estudos apontam riscos para a saúde, como câncer, infertilidade e malformações fetais.