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Entenda por que os preços de petróleo variam tanto

RESUMO

Matriz de energia: É o conjunto dos recursos de energia com as formas como são usados. Uma matriz divide-se em dois tipos de recursos: energia de fontes renováveis (aquelas que podemos repor) e não renováveis (que se esgotam). As fontes podem ser primárias (petróleo, carvão mineral, água, lenha, cana-de-açúcar, ventos) e secundárias, derivadas das primárias (gasolina e óleo diesel, eletricidade, álcool, bagaço de cana). Energias sustentáveis são as renováveis que poluem menos. A matriz brasileira é a mais equilibrada entre as grandes economias do mundo.

Preço do petróleo: A pandemia de Covid-19 mostrou mais uma vez a instabilidade do preço do petróleo, que é muito dependente de questões geopolíticas e de interesses das grandes potências, além de fenômenos difíceis de prever, como desastres naturais. Em abril de 2020, por exemplo, um subtipo de petróleo, o West Texas Intermediate (WTI), alcançou cotação negativa – ou seja, os clientes pagaram para não receber o produto.

Reflexos políticos e econômicos: Como toda commoditie, o preço do petróleo, que é a principal fonte de energia no mundo, varia de acordo com a oferta e a procura. Mas, no caso específico desse bem, os valores oscilam rapidamente, de acordo com o momento que o mundo está vivendo. Confrontos políticos ou guerras em territórios que produzem essa matriz de energia, ou crises econômicas ou políticas com os maiores compradores, são suficientes para provocar grandes oscilações.

Petrobras: O Brasil possui a matriz de energia mais equilibrada do mundo entre as principais economias quanto aos recursos renováveis e não renováveis que consome. É também um dos cinco países entre os 10 maiores produtores de petróleo do mundo que não fazem parte da Opep. Entre 2008 e 2014, o governo usava a Petrobras para controlar a inflação. A manobra consistia em não repassar o real valor para os clientes. A partir de junho de 2016, a empresa experimentou uma mudança na gestão, que resultou também em transformações na política de preços no Brasil.

O dia 20 de abril de 2020 foi marcante na história do petróleo. Nesta data, durante a pandemia do novo coronavírus, a matriz energética alcançou valores negativos pela primeira vez na história. O barril da commoditie fechou o dia comercializado a US$ 37,63 negativos. É importante ressaltar que apenas o West Texas Intermediate (WTI), tipo de produto negociado nos Estados Unidos, terminou cotado a preços abaixo de zero.

A explicação para este fato inusitado envolve diversos fatores. O primeiro deles é a demanda, já que a necessidade das pessoas por materiais provenientes do petróleo caiu drasticamente em resultado das regras de confinamento. Resultado: barris estocados e sem utilidade. Segundo a agência Reuters, os EUA chegaram a armazenar 160 mil barris em navios, a maior marca da história.

Estes dois motivos, combinados com último dia para o fechamento dos contratos de maio de 2020, fizeram com que os vendedores passassem a oferecer a quantia de US$ 37,63 para não receberem a matriz energética e assim não precisarem estocar, já que não tinham mais espaço e nem probabilidade de venda em curto prazo, visto que o coronavírus continuava a se alastrar pelo mundo.

Balança com moedas de um lado e petróleo do outro
O preço do petróleo depende da oferta e demanda pela commoditie ()

A pandemia mostrou mais uma vez a instabilidade do preço do petróleo, que é muito dependente de questões geopolíticas e de interesses das grandes potências. Durante a crise de saúde, por exemplo, Arábia Saudita e Rússia entraram em uma disputa comercial que impactou todo o setor.

No início da pandemia, com uma demanda bem abaixo da normal, a Rússia resolveu abrir mão da negociação com os sauditas para reduzir a produção e estabilizar o preço da commoditie. Pelo contrário, o governo do presidente Vladimir Putin resolveu aumentar a quantidade de barris produzidos em 50%, resultando em uma das maiores quedas diárias do preço do petróleo.

Para revidar, os sauditas também elevaram a produção. Com tanta oferta, a cotação da matriz energética do tipo Brent acabou sofrendo uma queda de 30% em um só dia, a pior desde a Guerra do Golfo em 1991, mas o preço acabou se recuperando na mesma data e fechou a operação diária com uma desvalorização um pouco superior a 20%.

Apenas algum tempo depois, os russos perceberam que a produtividade em larga escala não traria benefício e resolveram fechar um acordo com a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Inicialmente, os países do grupo cortariam 9,7 milhões de barris da produção diária. Entretanto, Donald Trump, mediador do acordo, anunciou que a quantidade cortada seria bem maior.

Observando a volatilidade do preço do petróleo, principalmente durante a crise causada pela pandemia, o modelo de negócio das próprias refinarias chegou a ser questionado.

Grandes variações

Mas por que um recurso tão importante para economia mundial apresenta tantas variações de preço? A princípio, a explicação é muito simples: o valor depende da oferta, ou seja, se existe muito produto à disposição o preço cai, e quando a quantidade disponível cai o valor sobe.

A questão é que, no caso específico do petróleo, os valores oscilam rapidamente, de acordo com o momento que o mundo está vivendo. Confrontos políticos ou guerras em territórios que produzem essa matriz de energia, ou crises econômicas ou políticas com os maiores compradores, são suficientes para provocar grandes oscilações.

A criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em 1960, inclusive tinha como uma das metas a regulação e estabilidade do preço desta commodity. Para isso, os países que fazem parte do grupo teriam que limitar suas produções diárias. 

Este movimento até chegou a funcionar em alguns períodos, mas o problema é que boa parte dos principais produtores desta matéria não fazem parte da organização. Entre os cinco maiores do mundo, apenas dois integram a Opep.

Justamente por não estar de acordo com a Arábia Saudita, membro da Opep, foi que a Rússia resolveu elevar a produção e, consequentemente, os preços em uma briga política que foi o início do que culminou em um preço negativo. E este é apenas um exemplo de variação súbita.

O furacão Katrina, em 2005, é um exemplo de como fatores naturais também podem afetar o valor da commoditie. O desastre aconteceu na região do Golfo do México, área que possui refinarias, plataformas de produção, terminais de importação e oleodutos. A variação à época foi de US$ 5,00 para mais.

Em setembro de 2019, o Irã foi acusado de atacar uma refinaria e um campo de petróleo na Arábia Saudita, segunda maior produtora do mundo. O confronto geopolítico fez com que a produção dos sauditas diminuísse em 50% e elevasse o custo do barril em 20%, o que foi benéfico para os iranianos. Vale lembrar que ambos são membros da Opep, porém são rivais no Oriente Médio.

No começo de 2020, a morte do general iraniano Qassem Suleimani em um bombardeio ordenado pelo presidente americano Donald Trump causou temor de um confronto no Irã, que também é um dos maiores produtores de petróleo do mundo. A situação provocou uma mudança no preço de 3,55% para mais.Estes são alguns dos exemplos recentes que afetaram o valor desta commoditie. Outros acontecimentos do ao longo do século XX causaram grandes mudanças no custo.

Estes acontecimentos ficaram conhecidos como Crises do Petróleo. A primeiro foi em 1956, quando o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez, importante rota de escoamento da matriz do Oriente Médio para a Europa. O canal chegou a ficar fechado e resultou em uma alta do preço.A segunda crise aconteceu em 1973. Durante a Guerra do Yom Kippur, os americanos apoiaram Israel em batalha contra países árabes. Como retaliação, nações da região membros da Opep resolveram supervalorizar o petróleo em 400%

Já entre 1979 e 1980 ocorreu o terceiro marco de variação do preço do petróleo. A Revolução Iraniana, seguida da Guerra Irã-Iraque, gerou temor no mercado, já que ambos são produtores da commoditie. O valor do barril mais do que dobrou. Após estes acontecimentos, foram mais de cinco anos de queda em sequência.

O quarto momento foi em 1991, época da Guerra do Golfo. O Iraque invadiu o Kuwait, mas acabou sendo expulso pelas forças americanas e seus aliados. Porém, antes de deixarem o país, os iraquianos incendiaram poços de petróleo, causando uma elevação no preço, além de um problema ambiental.

Aeronaves americanas sobrevoando regiões bombardeadas do Kuwait
Aeronaves americanas sobrevoando regiões de petróleo do Kuwait bombardeadas pelo Iraque durante a Guerra do Golfo (Força Aérea Americana/Divulgação)

Há ainda quem considere 2008 como uma quinta crise marcante. Por conta da demanda maior de alguns países que não necessitavam tanto do produto anteriormente e também como resultado de problemas em nações exportadoras, o petróleo aumentou muito no primeiro semestre daquele ano, alcançando um pico de US$ 147.

Esta alta no valor da comercialização do petróleo não durou muito. Pouco tempo depois o mundo foi abalado pela crise econômica de 2008 e, em dezembro, a indústria já vendia o barril por menos de US$ 50.

Em 2020, ano em que a matriz de energia alcançou valores abaixo de zero pela primeira vez na história, aconteceu o mesmo. O West Texas Intermediate (WTI), tipo de produto negociado nos Estados Unidos, iniciou o ano sendo vendido por cerca de US$ 60. Em 20 de abril atingiu a marca negativa, que permaneceu por menos de 24 horas. No dia seguinte já bateu US$ 10 e, pouco mais de dois meses depois, ultrapassou os US$ 40 por barril.

As funções da Opep

Em qualquer atividade econômica, quando há um desequilíbrio entre a oferta e a demanda, os produtores podem optar por cortar a produção para reduzir a disponibilidade da mercadoria e elevar o preço. 

No mercado internacional de petróleo, existe uma entidade capaz de coordenar ações para interferir diretamente no valor do barril. Trata-se da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que reúne os principais produtores do setor, como Irã, Iraque, Líbia e Arábia Saudita. O grupo detém quase 80% das reservas mundiais e oferece 40% do petróleo produzido mundialmente. Além disso, a organização é responsável por 60% da exportação mundial.

Entretanto, a Opep não conta com importantes países do ramo do petróleo entre seus membros. Apenas cinco dos 10 maiores produtores do mundo estão no grupo, que conta com 13 países associados em 2020. Além dos citados acima, Kuwait, Venezuela, Emirados Árabes, Argélia, Nigéria, Gabão, Angola, Guiné Equatorial e Congo completam a Opep.

Reunião de membros da Opep
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reúne 13 países, incluindo cinco dos 10 maiores produtores de petróleo do mundo (Opep/Divulgação)

Quando o órgão foi criado, em 1960, a intenção era confrontar o domínio global que era exercido, em sua maioria, por empresas americanas e também fazer com que os países que possuem as principais reservas do mundo pudessem se beneficiar e crescer com a exploração da matriz energética, algo que não acontecia antes. 

A medida surtiu resultado. Inicialmente, as empresas e nações alheias à organização passaram a pagar royalties mais altos e novos tributos para atuar nos países explorados.

Outra meta era conseguir regular o preço dos barris, já que boa parte do controle internacional era dos membros do grupo. Este objetivo também foi alcançado, em muitos casos. 

Um exemplo claro é a crise durante a pandemia do coronavírus, quando a organização decidiu cortar a produção e controlar o mercado. Contudo, esta mesma situação pode explicar a ineficiência dos 13 países em determinadas situações.

Na crise decorrente da covid-19, a Opep tentou ajustar os preços por conta própria mas não conseguiu, justamente por não contar com protagonistas desse meio. A Rússia, terceira maior produtora do mundo, se recusou a entrar em um acordo com a organização e isso impediu a regulação do valor de comercialização do barril. Esta negociação se concretizou algum tempo depois.

A Opep é uma organização observada de perto por todos os países com interesses relacionados ao petróleo. Mais de 100 países produzem esta matéria energética atualmente e são afetados pelas variações de preços. Mas o evento que levou à comercialização dos barris a um valor negativo mostrou que não é só ela que controla o mercado deste material.

Em 2019, o negócio representou 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, movimentando US$ 86 trilhões. Para algumas nações, a dependência desta matéria-prima é enorme. 

Até por isso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo se tornou uma associação a ser monitorada constantemente, tanto pelo seu poder de mudança do preço com algumas ações quanto pela fragilidade que tem por não incluir importantes países entre os maiores produtores mundiais.

Onde o Brasil se posiciona neste mercado?

O Brasil é um dos cinco países entre os 10 maiores produtores de petróleo do mundo que não fazem parte da Opep. A única nação da América Latina da lista se encontra na 10º posição, com a produção de 2,877 milhões de barris por dia, segundo o anuário da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de 2019.

Mas nem sempre foi assim. Em 2006, um ano antes da descoberta do pré-sal, o país gerou 1,8 milhão de barris por dia, ficando apenas em 16º da mesma classificação. A descoberta, em 2007, de uma reserva de possivelmente oito bilhões de barris da matriz energética fez o país mudar de patamar no quesito petróleo. Entretanto, alguns problemas impedem a autonomia brasileira para consumo próprio. Além disso, as variações das políticas provocaram grande alta dos preços que chega aos consumidores finais e causaram danos à Petrobras.

Veja repercute comercialidade de área do pré-sal
Veja repercute comercialidade de área do pré-sal, que foi descoberto em 2007. Campo de Tupi foi o primeiro de maior relevância a ser encontrado (Ricardo Stuckert/PR/Veja/Reprodução)

No mês de novembro de 2019, o Brasil chegou a produzir 3 mil barris em um só dia. Na totalidade do ano, o país alcançou a marca histórica de 1 bilhão de barris produzidos, o dobro da quantidade que era registrada no começo do século XXI. Ainda assim, neste mesmo período, a importação de gasolina aumentou de 0,4 para 30,3 milhões, enquanto a quantidade de diesel importado passou de 36,5 milhões de barris para 81,9. Mas como isso se explica?

No passado, o Brasil precisava importar muito desta matéria-prima. Por isso as refinarias foram construídas com foco no refinamento de petróleo do tipo leve. Porém, o encontrado e extraído aqui no país é muito mais pesado do que o do Oriente Médio, por exemplo, e as empresas não têm capacidade de trabalhar com este tipo de material.

Além disso, na medida em que o consumo dos derivados aumentou ao longo do século, diversas modificações de políticas de comercialização e cargas tributárias também contribuíram. 

Entre 2008 e 2014, durante os governos de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o país usava a Petrobras para controlar a inflação. A manobra consistia em não repassar o real valor para os clientes. Nestes casos, a Petrobras subsidiava parte dos custos e atrasava o repasse do preço internacional aos brasileiros. Esse foi um dos motivos para o rombo milionário nos cofres da estatal algum tempo depois.

A partir de junho de 2016, já no governo de Michel Temer, a empresa experimentou uma mudança na gestão, que resultou também em transformações na política de preços no Brasil. Pedro Parente, novo presidente da companhia, garantiu a independência nas atividades em relação aos interesses do governo. 

O valor do combustível passou a acompanhar o mercado internacional, embutindo custos de logística e taxas. Com isso, a variação de preço passou a ser constante, pelo menos uma vez ao mês.

Um ano depois, após não conseguir acompanhar as mudanças internacionais, a Petrobras anunciou que faria reajustes mais constantemente, podendo ser inclusive diariamente. Esta atitude fez com que o litro da gasolina passasse de R$ 4 pela primeira vez. A volatilidade do preço aplicado nos derivados do petróleo afetou duramente os consumidores finais, que culminaram na greve de uma parcela dos que dependem diretamente desses produtos.

Os caminhoneiros paralisaram suas atividades em maio de 2018, resultado da insatisfação em relação ao valor que pagavam pelo combustível. O diesel, muito usado por eles, teve uma elevação de custos de 56% nos 10 meses que antecederam a greve, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). E essa variação tinha impacto direto nos preços do frete.

Greve dos caminhoneiros
Greve dos caminhoneiros na via Anchieta, próximo da entrada para o Rodoanel. São Bernardo do Campo, SP (Roberto Parizotti/Fotos Públicas/Divulgação)

Além destas políticas, os brasileiros sofreram este impacto por conta da alta do petróleo no exterior decorrente de crises e confrontos geopolíticos, desvalorização do real frente ao dólar e novas taxações nacionais.

Desvendando o Pré-sal

Pré-sal é o nome que os geólogos dão à camada de rochas porosas que fica abaixo de uma espessa camada de sal no subsolo marinho. Desde que foram descobertas em 2007, em uma faixa que se estende por 800 quilômetros entre o Espírito Santo e Santa Catarina, essas gigantescas reservas alteraram o panorama energético do Brasil. Em seu planejamento, o governo brasileiro trabalha com uma hipótese de previsão de 50 bilhões de barris. É um volume que triplicaria as reservas atuais, o que permitiria ao país ser autossuficiente em petróleo e tornar-se um exportador de peso. 

Desde a descoberta do pré-sal, a Petrobrás se endividou e passou a captar volumosos recursos para desenvolver e aprimorar tecnologias, materiais e equipamentos utilizados nos campos de exploração em águas profundas. Mas a queda acentuada no preço do petróleo pode comprometer a produção no pré-sal. 

Para que a extração na região seja rentável, o valor do barril de petróleo não pode ser muito baixo. Em seu planejamento estratégico, apresentado em junho de 2015, a Petrobras afirma que o preço mínimo para viabilizar economicamente a produção no pré-sal é de US$ 45.

Entre os especialistas, há divergências sobre a dimensão do impacto da atual cotação do petróleo na exploração do pré-sal. A Petrobras minimiza esses efeitos sob a justificativa de que os investimentos em tecnologia reduziram os custos de operação da empresa no pré-sal. A elevada produtividade também ajuda a rebater os efeitos negativos da baixa cotação do óleo.

Em 2019, a produção no pré-sal atingiu 1,73 milhão de barris por dia – bem acima da média de 1,42 milhão barris/dia de 2018. Com isso, o pré-sal respondeu por 58% do total de petróleo produzido no país. No mesmo ano, foram 25,9 bilhões de metros cúbicos de gás natural vindos do pré-sal, crescimento até maior que o do petróleo no período: 23,2% contra 21,5%. Isso também equivale a mais da metade da extração nacional.

O ano de 2020, no entanto, fez com que a Petrobras tivesse que rever seus planos em relação ao pré-sal. A chegada do valor do barril abaixo de zero não afetou diretamente a ação da estatal, afinal elas são baseadas no petróleo do tipo Brent e a queda foi com o WTI. 

Contudo, o preço em si provocou instabilidade no mercado internacional e fez com que a empresa tivesse que baixar os preços para não perder clientes. Até abril, já havia realizado mais de 10 reduções.

Petrobras precisou baixar preço do barril para não perder clientes no mercado internacional durante a pandemia do coronavírus
Petrobras precisou baixar preço do barril para não perder clientes no mercado internacional durante a pandemia do coronavírus (Geraldo Falcão/Agência Petrobras/Fotos Públicas/Divulgação)

Apesar de não afetar diretamente as ações de imediato, o valor de ambos os tipos de petróleo caiu durante a pandemia do coronavírus, o que provocou mudanças de planejamento para a exploração do pré-sal. Os projetos visando o trabalho rentável nessas reservas foram projetados com o valor do barril entre US$ 40 e 45. O trabalho até pode ser realizado com o preço na faixa de US$ 30 a 35; abaixo disso passa a ser inviável. Houve corte na produção.

Além disso, as perdas fizeram com que todo o mercado do petróleo repensasse os investimentos para o ano. A Petrobras anunciou em março um corte de 3,5 bilhões dos 12 previstos inicialmente. Os governos federal e estaduais (de estados produtores) também irão sentir os danos colaterais. 

O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) calculou em junho que a arrecadação com royalties e participações especiais irá diminuir mais de 20% em 2020, o que representa cerca de R$ 12 bilhões.

Entenda a autossuficiência em petróleo

Alcançar a autossuficiência desse recurso energético é fundamental para garantir a autonomia da economia do país, sem depender totalmente das oscilações do mercado mundial.O Brasil anunciou a autossuficiência em 2006, quando o volume de óleo extraído tornou-se equivalente à soma dos volumes de derivados que o país consome. De lá para cá, essa equivalência não se manteve, principalmente em razão da necessidade de importar grandes volumes de gasolina. 

O país nunca foi autossuficiente em derivados. Nos planos da Petrobras, a autossuficiência absoluta poderá ser alcançada a partir de 2020, quando a produção de petróleo deverá exceder bastante ao consumo e a empresa espera já operar as novas refinarias, capazes de garantir os volumes de derivados que consumimos.

Matriz de energia

O valor do preço do barril de petróleo tem impacto em toda a sociedade por se tratar da fonte energética mais consumida no mundo. A energia é essencial para o funcionamento da agricultura, da indústria e das cidades. Por isso é importante ter recursos energéticos (água, petróleo, carvão mineral, gás natural, urânio), senão a sociedade paralisa.

Todos os países calculam periodicamente quantos recursos possuem, quanto gastam e em quais usos. Esse conjunto é chamado de matriz de energia ou matriz energética. Veja como a matriz é composta e calculada: 

  • Recursos de energia primários são os obtidos na natureza: petróleo, xisto, carvão mineral, lenha, cana-de-açúcar, mamona e soja, urânio, água, sol, ventos.
  • Recursos de energia secundários são derivados dos primários: óleo cru e diesel, gasolina e querosene, biodiesel, bagaço de cana, etanol (álcool), carvão vegetal e eletricidade, entre outros.
  • Energia renovável é aquela produzida com recursos primários que se renovam ou podem ser renovados, poluentes ou não. Exemplos: a energia obtida da água, da luz do sol, dos ventos e dos produtos agrícolas. A madeira está entre os renováveis, pois pode ser replantada, apesar de ser fortemente poluente.
  • Energia não renovável é aquela produzida com recursos primários que, em princípio, acabarão, como o petróleo, o carvão mineral, o gás natural e o urânio. Para a sua produção, a natureza exige milhões de anos. Por ser mais barata e prática, é a mais usada hoje no mundo.
  • Setores de consumo são os transportes, as indústrias, a agricultura, o comércio e as residências.

Matriz energética mundial

Manter a oferta de energia em crescimento na matriz e mudá-la quando necessário é um desafio permanente de cada nação. Além de ser necessário dispor de cada recurso, é preciso disponibilizá-lo de acordo com sua forma preferencial de uso e fazê-lo chegar aos locais de consumo a um preço viável. 

O gás natural, por exemplo, é mais eficiente do que a eletricidade para gerar calor e aquecer a água do banho em países de inverno rigoroso, mas é preciso canalizá-lo até os imóveis. Países como o Japão e a França, por exemplo, não dispõem de grandes volumes de recursos hídricos e pouco ou nenhum petróleo.

Eles importam o petróleo e derivados e utilizam usinas térmicas ou termonucleares em larga escala para oferecer eletricidade. Já a China e a Índia são grandes consumidores de carvão mineral, a fonte de energia mais abundante e barata do planeta – e também a que mais polui.

Alguns países com poucos recursos hídricos e petróleo utilizam as usinas nucleares como forma de produzir energia
Alguns países com poucos recursos hídricos e petróleo utilizam as usinas nucleares como forma de produzir energia elétrica (Trougnouf/Divulgação)

Em razão desses fatores, uma das características históricas das matrizes energéticas é mudar lentamente. As últimas mudanças significativas na matriz mundial ocorreram após a primeira crise de preços do petróleo, em 1973: os países árabes membros da Opep reduziram a produção e o preço do barril subiu enormemente. 

Como alternativa, os países desenvolvidos aumentaram primeiro a construção de usinas nucleares. Por sua vez, essa opção passou a ser questionada depois que aconteceram acidentes graves, como o da usina de Chernobyl, na Ucrânia (1986), e de Fukushima, no Japão (2011). Ainda assim, a energia nuclear é bastante utilizada, principalmente por EUA, França, Rússia e Coreia do Sul. 

A queda na cotação do petróleo pode desestimular investimentos em energias limpas

Meio ambiente

A forma mais primária de produzir energia é a mais utilizada no mundo: queimar o energético. E a queima de madeira, carvão vegetal ou mineral e combustíveis de petróleo libera gases que agravam o efeito estufa e prejudicam o meio ambiente, o que hoje é uma preocupação global. Esses fatores deram origem a novos conceitos ligados à energia e à proteção ao meio ambiente.

  • Energia sustentável é aquela que utiliza os recursos naturais disponíveis de forma a preservá-los para uso futuro, ou seja, que consome os recursos em quantidade e velocidade nas quais a natureza consegue repô-los, e de forma a evitar ou minimizar os impactos sobre o meio ambiente. O conceito de energia sustentável é proposto como um padrão que se busca seguir, um desafio a ser alcançado. São exemplos a energia hídrica, a solar e a eólica. Porém, a queima de biomassa (bagaço da cana e resíduos de madeira), de gás natural, de biodigestores de esterco animal e o gás liberado no ar pelos aterros sanitários, por exemplo, são considerados mais sustentáveis do que outros, por serem de recursos que são repostos e porque emitem menos dióxido de carbono.
  •  Energia limpa é aquela que não polui o ambiente, ou que polui menos, como a hidrelétrica, a eólica (dos ventos), a solar, a das marés, e a geotérmica (gerada de fontes de calor natural vulcânico). O etanol e o gás natural veicular (GNV), por seu lado, são considerados mais limpos do que a gasolina ou o diesel, porque poluem menos.      

Após a Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (Eco 92), cresceu no mundo o investimento em energia eólica e solar. Países como China e Alemanha investem pesado nessas fontes de energia. 

Após o acidente nuclear de Fukushima, em 2011, a Alemanha decidiu fechar todas as suas usinas nucleares, em etapas, até 2020. Nessa transição, contudo, intensificou o uso de carvão mineral em termelétricas.

A queda nos preços do petróleo também tem um efeito negativo sobre a emissão de poluentes. A baixa cotação do barril pode desestimular investimentos em energias limpas, levando os países a manter o consumo elevado de combustíveis fósseis, atualmente mais baratos. Isso comprometeria diretamente o alcance das metas de redução de emissões dos gases que agravam o efeito estufa, acertados na COP-21.

Matriz brasileira

O Brasil possui a matriz de energia mais equilibrada do mundo entre as principais economias quanto aos recursos renováveis e não renováveis que consome. Em 2019, 45,3% da energia consumida veio de fontes renováveis, e 54,7% de não renováveis. Para ter uma ideia, a média mundial de uso de energias renováveis é de 14% e, entre as nações desenvolvidas, a média é de apenas 10%.

Nossos principais recursos primários são o hídrico, para produzir eletricidade, e a cana-de-açúcar, da qual produzimos dois recursos secundários: o etanol e o bagaço para queima. O equilíbrio da matriz deve ajudar o país a enfrentar os futuros desafios energéticos. 

Segundo o planejamento do governo federal, com base em um cenário médio de crescimento, até 2050 a necessidade de energia triplicará e haverá maior uso de energia não renovável.

Veja a seguir diferentes marcos da evolução da matriz energética brasileira:

  • 1953 – Fundação da Petrobrás.
  • 1970 – Até esta década, a energia dominante era gerada com a queima de madeira e seu carvão. Ela é altamente poluente, e a fumaça é tóxica ao ser humano.
  • 1973/1974 – A crise provocada pelo aumento dos preços do petróleo faz o governo adotar o Programa Pró-Álcool, que deflagra a construção de usinas de álcool e carros a etanol.
  • 1981 – Inaugurada a usina nuclear Angra 1, em Angra dos Reis (RJ).
  • 1982 – Inaugurada a primeira mega represa hidrelétrica, Itaipu (PR).
  • 1997 – Inaugurado o gasoduto Bolívia-Brasil.
  • 2003 – Começa o programa de carros com motor flex etanol-gasolina, que levará a cana-de-açúcar a suplantar a água como maior recurso renovável.
  • 2004 – O Brasil institui um programa para energias alternativas, como a eólica e a do biodiesel.
  • 2010 – Iniciada a extração de petróleo no pré-sal.

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