Genética: Herança ligada ao sexo
As regras para o masculino ou o feminino
Na maioria das espécies animais – mas não em todas –, o sexo é determinado antes do nascimento, pela genética. No caso da espécie humana, esses genes estão em dois pares de cromossomos especiais – os cromossomos sexuais X e Y. Isso significa que, dos 46 cromossomos existentes em todas as células do corpo humano, 44 são autossomos¹ e apenas dois são sexuais, ou seja, só dois carregam informações genéticas relacionadas ao sexo.
Uma pessoa é do sexo feminino quando tem dois cromossomos X, e do sexo masculino quando tem um X e um Y. Lembrando: os gametas (células sexuais) têm apenas um cromossomo sexual. Então, as mulheres só produzem gametas, ou seja, óvulos, com um cromossomo X. Já os homens formam metade de seus gametas (espermatozoides) com um cromossomo Y e a outra metade com um X. Isso significa que o que determina o sexo de um bebê é o espermatozoide.
O tamanho define a forma
Recordando: durante a meiose, o processo de divisão celular que dá origem às células reprodutivas, os cromossomos X e Y se emparelham e trocam informações. Mas a região em que os cromossomos sexuais são homólogos é muito curta, pois o cromossomo Y é muito pequeno. Tem apenas cerca de 30 genes, sempre relacionados ao desenvolvimento das características sexuais masculinas. Todos os homens – e só os homens– herdam o cromossomo Y do pai. Portanto, só eles recebem essas características. Esse tipo de transmissão genética, que se dá apenas entre pai e filhos do sexo masculino, é chamado herança restrita ao sexo ou holândrica. É restrito ao sexo porque só eles recebem características como testículos. A herança holândrica permite, por exemplo, que se determine a paternidade de um garoto pela comparação do DNA do cromossomo Y dele com o do suposto pai.
Já o cromossomo X é muito maior e carrega outros genes, envolvidos com várias características não diretamente relacionadas ao sexo, que podem se manifestar tanto nos filhos do sexo masculino quanto nos do sexo feminino. A transmissão dos genes da região não homóloga do cromossomo X é chamada herança ligada ao sexo ou ligada ao cromossomo X. Um exemplo de característica transmitida por herança ligada ao cromossomo X é o daltonismo, a dificuldade em identificar cores.
Herança ligada ao sexo
Para percebermos a diferença entre as cores, usamos determinadas células da retina cujo funcionamento depende de uma proteína importante. Essa proteína é sintetizada sob o comando de um par de genes que existe apenas no cromossomo X. E fica numa região de X em que não há genes correspondentes no cromossomo Y. O daltonismo é desencadeado por um alelo recessivo anormal nesse par de genes.
Mas não são as mulheres as que mais apresentam o daltonismo como fenótipo. Ao contrário, os daltônicos, na maioria, são homens. Explica- -se: um menino recebe apenas um cromossomo X (o outro cromossomo é o Y, obrigatoriamente herdado do pai). Se justamente esse cromossomo X contiver o recessivo problemático, o garoto desenvolverá o distúrbio. Já uma garota, que recebe sempre dois cromossomos X (um do pai, outro da mãe), precisa ter dois genes recessivos anormais para se tornar daltônica. Veja no infográfico como se dá a transmissão do daltonismo.
A hemofilia, que provoca a dificuldade de coagulação do sangue, é outra doença transmitida por herança ligada ao cromossomo X. O gene defeituoso que causa a hemofilia, normalmente indicado como o recessivo h, é bem mais raro que o do daltonismo. Mas seu mecanismo de transmissão é o mesmo. E mais uma vez os homens constituem a maioria dos que apresentam essa doença.
Uma mulher só é daltônica se tiver um par de alelos defeituosos e recessivos dd. E isso só ocorre se ambos, sua mãe e seu pai, tiverem esse gene recessivo. Já aos homens basta ter um único gene recessivo d. Para eles, qualquer alelo presente no cromossomo X tem o peso de um dominante e se expressa no fenótipo daltonismo.
Como as abelhas fazem
Nem todas as espécies animais se reproduzem pela combinação de genes dos pais. As abelhas, por exemplo, podem se reproduzir de duas maneiras – e cada uma delas resulta em descendentes de sexos diferentes.
Nos zangões, todas as células, sejam elas somáticas, sejam elas reprodutivas, são haploides (n), ou seja, todas têm apenas um cromossomo de cada tipo, e não pares deles. Esses machos nascem de óvulos das abelhas fêmeas não fecundados. A reprodução se dá por partenogênese, um tipo de reprodução assexuada em que os óvulos se dividem por mitose, originando adultos haploides.
Os zangões também usam a mitose para gerar suas células reprodutivas (os espermatozoides, ou gametas masculinos). Essas células são cópias perfeitas dos óvulos maternos que os originaram. Assim, um zangão transmite aos seus descendentes todos os genes que recebeu de sua mãe.
Já as fêmeas têm células somáticas diploides (2n), mas óvulos haploides. Uma abelha fêmea é gerada de óvulos fecundados pelos zangões, ou seja, da combinação dos cromossomos do macho e da fêmea.
A diferença entre as abelhas operárias e a abelha-rainha não surge na hora da reprodução, mas mais tarde, no tipo de alimentação que as larvas recebem. Aquelas que têm uma dieta básica originam as abelhas operárias, responsáveis pela proteção e limpeza da colmeia, pela procura de alimentos e pela preparação dos favos. Para nascer uma abelha-rainha, a larva tem de receber uma dieta especial, mais rica – a geleia real. A abelha-rainha tem como única função garantir a perpetuação da colmeia, por meio da reprodução.
¹Autossomos são cromossomos nos quais se encontram genes que codificam características comuns a machos e fêmeas. Esses cromossomos são iguais em homens e mulheres.