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Genética: Tipos sanguíneos (sistema ABO e o fator Rh)

Regras de compatibilidade

 

Genética: Tipos sanguíneos (sistema ABO e o fator Rh)

TUDO É VERMELHO, MAS PODE SER DIFERENTE – O sangue pode ser do tipo A, B, AB ou O, dependendo da existência, ou não, de certos antígenos nas hemácias

 

O sangue é a parte do organismo mais compartilhada entre os humanos. Por mais comuns que tenham se tornado os transplantes de alguns órgãos, como córneas, coração e rins, nada se compara ao número de transfusões sanguíneas realizadas no mundo hoje. Mas a história de sucesso das doações sanguíneas, que podem salvar vidas nas cirurgias ou em atendimentos de emergência, é bastante recente.

Houve um tempo em que o sangue era o componente mais misterioso do corpo humano. Durante milênios, filósofos e naturalistas desconheciam não apenas o sistema circulatório, mas também as substâncias que compõem esse fluido vermelho e as funções que ele desempenha. Foi o médico inglês William Harvey (1578- 1657) quem decifrou parte desse enigma.

As primeiras transfusões de que se tem notícia datam de pelo menos um século antes, em tentativas que, muitas vezes, acabavam em fatalidade. Os médicos de antigamente não faziam a menor ideia de que o sangue de um doa dor podia estar contaminado por algum agente patológico.

Muito menos imaginavam que, apesar de ser sempre vermelho, o sangue pode variar em sua composição química de uma pessoa a outra, e que essa variação podia levar a uma reação séria do sistema imunológico.

Desde o início do século XX, os biomédicos sabem que, antes de uma transfusão, é preciso fazer um exame que indique se o sangue do doador é compatível com o tipo de sangue do receptor. Esses exames avaliam dois fatores determinados geneticamente e que variam de indivíduo para indivíduo: o sistema ABO e o sistema Rh. Existem dezenas de sistemas de tipagem sanguínea, mas esses dois são os mais importantes.

O que é o sangue

O sangue é a via de comunicação do corpo, por onde trafegam o oxigênio, os nutrientes provenientes dos alimentos já digeridos e os subprodutos do metabolismo – a série de reações químicas ocorridas no interior de cada célula –, que devem ser eliminados do organismo. O oxigênio é carregado na forma de oxiemoglobina pelas hemácias, os glóbulos vermelhos. Essas células flutuam no plasma, um líquido formado principalmente de água, que carrega, além das hemácias, anticorpos, proteínas, açúcares, hormônios e dióxido de carbono, que será expelido pela respiração. São as hemácias e os anticorpos que definem a compatibilidade sanguínea entre duas pessoas.

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Os tipos A, B, AB e O

Existem quatro tipos de hemácias, ou glóbulos vermelhos: A, B, O ou AB. A diferença entre essas variedades consiste na existência, ou não, de determinados antígenos encapando a superfície das células, os aglutinogênios. Lembrando: antígenos são substâncias que induzem o sistema imunológico a defender o organismo. Os antígenos podem vir do meio ambiente, como agentes causadores de doenças – bactérias e vírus –, ou ser produzidos pelo próprio organismo.

No caso das hemácias, os antígenos da capa protetora são proteínas sintetizadas de acordo com a informação contida no DNA. Existem dois tipos de aglutinogênio – o antígeno A e o antígeno B. Como depende do DNA, a síntese deste ou daquele antígeno varia de pessoa a pessoa, e por isso o sangue também varia.

Os antígenos ativam anticorpos, chamados aglutininas, no plasma. Existem vários tipos de aglutinina. As correspondentes aos antígenos A e B são a anti-A e a anti-B. Essas aglutininas se ligam às hemácias do sangue de um tipo diferente, provocando sua coagulação e destruição. Quem tem o antígeno A nas hemácias tem também, no plasma, a aglutinina anti-B, e vice-versa. Por isso, uma pessoa com sangue tipo A não pode receber o tipo B. No sentido inverso: um receptor do tipo B não pode receber sangue de um doador tipo A.

Existem outros dois tipos de sangue. Um deles é o tipo O, que não tem nenhum antígeno, mas possui as duas aglutininas, o anti-A e o anti-B. Por causa das aglutininas, quem tem sangue tipo O só pode receber sangue de quem não tem antígenos, ou seja, do mesmo tipo O. Por outro lado, o sangue tipo O pode ser usado em transfusões de pessoas com todos os demais tipos sanguíneos. Já que o sangue tipo O não tem antígenos, ele não pode ser aglutinado por nenhum sangue. Por isso, quem tem sangue tipo O é doador universal.

Outro tipo sanguíneo é o AB. Como tem os dois tipos de antígeno, não pode ser doado a ninguém que tenha aglutininas anti-A ou anti- -B. Só pode ser recebido por quem tem também sangue do tipo AB. Por outro lado, a pessoa com sangue tipo AB, que não tem aglutininas, pode receber sangue de qualquer outro tipo. É o receptor universal.

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Rh+ ou Rh

A compatibilidade sanguínea depende de outra tipagem: o fator Rh. Uma pessoa (tenha ela sangue tipo A, B, AB ou O) pode ser Rh positivo (Rh+) ou Rh negativo (Rh-). Isso depende da existência, ou não, de outro antígeno (chamado antígeno D ou fator Rh) na superfície das hemácias. Nenhum organismo, seja ele Rh+, seja Rh-, nasce com anticorpos contra o fator Rh no plasma. Mas indivíduos Rh- (ou seja, que não têm o antígeno D nas hemácias) são capazes de produzir esses anticorpos (denominados anti-Rh) se entrarem em contato com sangue Rh+, criando uma barreira imunológica e a incompatibilidade sanguínea. Como a produção dos anticorpos demora um pouco, não ocorrem problemas imediatos na transfusão, mas a longo prazo.Um desses problemas é a eritroblastose fetal, ou doença hemolítica do recém-nascido (DHRN). Eritroblastose é uma enfermidade que provoca o rompimento da membrana das hemácias e libera a hemoglobina no plasma. Com a destruição das hemácias, o indivíduo corre o risco de ficar anêmico, ou ter alterado o tamanho de alguns órgãos. Em crianças, a doença é desenvolvida ainda na gestação ou no período perinatal (de recém-nascido), mas apenas quando a mãe é Rh- e o bebê, Rh+. Nesse caso, o sangue materno desenvolve o anticorpo anti-Rh, que destruirá as hemácias do flho. Na primeira gravidez, o organismo da mãe desenvolve a imunidade, e o feto não é atingido pelos anticorpos. Mas, na segunda, se a criança tiver novamente Rh+, os anticorpos da mãe podem atacar as hemácias do feto. A doença pode ser combatida com uma transfusão de sangue Rh- no feto.

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O que define o tipo e o fator RH

Na espécie humana, a definição do tipo sanguíneo envolve três genes alelos. É uma herança do tipo polialelia ou de alelos múltiplos. Na população ocorrem três ou mais alelos, mas cada indivíduo apresenta uma combinação de apenas dois deles. Dos três alelos que podGenética: Tipos sanguíneos (sistema ABO e o fator Rh)em determinar o tipo sanguíneo, dois são codominantes: o alelo I A , que determina a produção do aglutinogênio A, e o I B , que determina a produção do aglutinogênio B. Há também um alelo recessivo, i, que não determina a produção de nenhum aglutinogênio

A herança do fator Rh é simples, só um caso de dominância completa, como a reprodução de ervilhas de Mendel (veja a Aula 1 deste capítulo). Se uma pessoa terá Rh positivo ou negativo, isso é determinado por um gene dominante, geralmente chamado de R ou D, que define a produção do antígeno fator Rh, e seu alelo recessivo, r ou d, que não faz nada. Os exames para conhecer o tipo sanguíneo de uma pessoa são feitos aplicando-se um soro que contém os anticorpos anti-A, anti-B e anti-Rh em três gotas separadas de sangue. Esses anticorpos detectam respectivamente os aglutinogênios A, B e fator Rh, produzindo uma reação de aglutinação das hemácias, ou seja, de coagulação.

Agora, podemos reapresentar a tabela completa de tipos sanguíneos, associando fenótipos (tipo de sangue) ao genótipo correspondente (conjunto de genes que podem gerar tais características).

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