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Hidrosfera: Escassez hídrica no Brasil

Hidrosfera: Escassez hídrica no Brasil

TORNEIRAS SECAS Moradores de Itu, no interior de São Paulo, fazem fila para receber água durante a crise de desabastecimento que afetou a cidade em 2014

Acesso desigual

Seja por aspectos climáticos ou má gestão dos recursos hídricos, o Brasil também enfrenta o problema da seca. Veja a situação no Nordeste e no Sudeste, as duas regiões mais afetadas atualmente

Mesmo concentrando cerca de 12% das reservas mundiais de água doce e sendo privilegiado por uma profusão de rios, o Brasil não está imune à escassez hídrica. Um dos problemas é que o precioso líquido não é distribuído de maneira uniforme pelo território nacional. Os estados do Norte, com somente 8% da população, têm quase 70% das reservas hídricas. Em compensação, o Nordeste, que concentra 28% da população, possui apenas 3% da água disponível e é a região mais afetada pela seca no país.

No Nordeste, a escassez hídrica está diretamente relacionada com o clima semiárido do sertão. A presença de uma massa quente e seca que estaciona na região durante longos períodos é responsável pela falta de chuvas. Alguns fenômenos climáticos sazonais, como a ocorrência do El Niño, pode agravar ainda mais a situação.

A seca no Nordeste é um fenômeno previsível, que é constatado desde o período colonial. Portanto, as autoridades governamentais ao longo das últimas décadas já poderiam ter desenvolvido políticas públicas eficazes para minimizar os efeitos da baixa pluviosidade. Contudo, a construção de açudes, que permitem tornar perenes os rios intermitentes, e projetos de irrigação durante muitos anos beneficiou apenas grandes latifundiários em detrimento da população mais duramente castigada – atitude que ajudou a cunhar o termo “indústria da seca”, ao perpetuar os problemas decorrentes da estiagem.

A transposição do rio São Francisco

Hidrosfera: Escassez hídrica no Brasil

Atualmente, a principal obra do governo federal para combater os efeitos da seca é a controversa transposição do rio São Francisco. Iniciadas em 2007, as obras têm como objetivo desviar uma pequena parcela de seu volume por meio de dutos e canais que devem abastecer rios menores e açudes que secam durante a estiagem no semiárido nordestino. O governo acredita que a obra beneficiará 12 milhões de pessoas e estimulará a agricultura nas áreas atingidas. Os críticos da transposição, porém, acreditam que poços profundos e cisternas (que são reservatórios para a captação de água da chuva) são alternativas mais eficazes e baratas para combater a seca, além de argumentar que o projeto não alcançará muitas comunidades e beneficiará principalmente os grandes fazendeiros. Existe ainda o temor de que o projeto cause impactos ambientais no rio São Francisco.

Em março de 2017, o eixo leste da obra foi inaugurado, levando as águas do “Velho Chico” para cidades de Pernambuco e da Paraíba. O governo anunciou que a obra será concluída ainda em 2017 (veja o mapa ao lado).

Hidrosfera: Escassez hídrica no Brasil

 

 

O documentário Entre Rios, de Caio Ferraz, trata da urbanização de São Paulo, pelo viés dos cursos d’água, desde a primeira vila até os dias atuais: www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc.

A crise hídrica chega ao Sudeste

Nem mesmo o Sudeste, caracterizado pela grande presença de umidade, está imune à escassez de água. Uma grave crise hídrica atingiu todos os estados da região em 2014 e 2015 e foi especialmente aguda em São Paulo e sua região metropolitana. Responsável pelo abastecimento de 8,8 milhões de pessoas, o Sistema Cantareira quase entrou em colapso, e o governo estadual foi obrigado a utilizar o chamado volume morto – uma reserva técnica que fica abaixo das comportas das represas.

Ainda que a estiagem tenha contribuído para agravar a situação, a crise reflete a falta de planejamento e investimentos no sistema de abastecimento de água. Por isso, apesar de o pior da crise já ter sido superado, o setor ainda apresenta sérios problemas estruturais. Veja alguns dos principais entraves que o setor enfrenta na região:

  •    Há pelo menos duas décadas, especialistas em recursos hídricos alertam que as regiões metropolitanas devem criar medidas para atender ao aumento da demanda de água nessas regiões, fruto do crescimento populacional. Entretanto, as obras para aumentar a captação, o tratamento e a distribuição de água não foram realizadas ou foram feitas em ritmo muito abaixo do que seria necessário.
  •    A lentidão ou a conivência do poder público na questão da ocupação das áreas de mananciais reduziu a capacidade de reposição da água em grandes reservatórios, como o da Cantareira e do Alto Tietê. Essa ocupação, fruto do crescimento desordenado das cidades, ocorreu com a implantação de áreas residenciais e comerciais (agrícolas e industriais), provocando desmatamento, impermeabilização do solo e poluição das águas.

Mananciais

São todas as fontes de água, superficiais ou subterrâneas, que podem ser usadas para o abastecimento das populações. Isso inclui, por exemplo, rios, lagos, represas e lençóis freáticos.

  •    Há fortes críticas de diversos setores da sociedade sobre o modelo de gestão público- -privada dos recursos hídricos. Em São Paulo, a Sabesp é uma empresa de capital misto (51% sob controle do Estado e o restante pertence a investidores privados), com ações negociadas na bolsa de valores. Esse modelo concretiza, portanto, a concepção da água como mercadoria voltada para a obtenção de lucro, e não como um bem universal e direito de todos.
  •    A lentidão ou inexistência de programas de despoluição das águas dos rios e lagos em áreas urbanas restringe as fontes de água para o abastecimento público. A coleta e tratamento de esgotos, serviço cobrado pelas empresas que fazem a distribuição da água, atende a apenas 65% da população.

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