Idade Moderna: Renascimento
ANTROPOCENTRISMO – A tela Primavera, de Sandro Botticelli, é uma das principais obras do movimento renascentista, que colocou o ser humano no centro das ações
Explosão cultural
Muitas das mais famosas obras de arte da história foram produzidas na Itália, entre 1300 e 1600. Saiba por que e confira como essas criações nos ajudam a entender o espírito da época
O Renascimento foi o movimento intelectual e artístico que ocorreu entre o século XIV e o XVI na Europa. Representou a nova visão de mundo da sociedade que se formava após o desenvolvimento comercial e urbano iniciado no fim da Idade Média. Se na estática estrutura social dos feudos valia a força da coletividade e a submissão aos desígnios de Deus, no ambiente dinâmico das cidades modernas valorizavam-se o indivíduo e seu imenso potencial de auto aperfeiçoamento e criação.
Características
O elemento central do Renascimento foi o humanismo, corrente filosófica que se baseava no antropocentrismo, ou seja, considerava o ser humano o centro das questões. Para os humanistas, o homem é dotado de uma capacidade quase divina de criar, e, ao exercê-la, aproxima-se de Deus. Ao proporem a superação dos ideais medievais – segundo os quais Deus era o centro de tudo e a fé se sobrepunha à razão – e se inspirarem em pensadores da Antiguidade Clássica, os humanistas julgavam estar promovendo um renascimento daquela cultura – daí o nome pelo qual batizaram o período em que viveram.
Outras características fundamentais do Renascimento foram o naturalismo, a busca por uma representação da natureza fel à realidade; o racionalismo, valorização da razão; e o hedonismo, que defende o prazer individual como único bem possível. Com base nesses elementos, os renascentistas passaram a utilizar com mais frequência os estudos científicos em suas produções artísticas e culturais. Muitos pintores e escultores incorporaram estudos de matemática (perspectiva, ponto de fuga) e de anatomia em suas criações.
Na Itália
Intrinsecamente ligado ao desenvolvimento comercial e urbano, o Renascimento surgiu e atingiu o ápice na região da Europa onde essas transformações ocorreram antes e de maneira mais intensa: as cidades italianas. Foi lá que apareceram os primeiros burgueses endinheirados dispostos a patrocinar artistas e cientistas: os mecenas – como os Médici, de Florença. De fato, o Renascimento foi um movimento essencialmente elitista, pois só existia para a alta burguesia e para a nobreza.
A Renascença italiana costuma ser dividida em três fases: o Trecento (século XIV), o Quattrocento (século XV) e o Cinquecento (século XVI):
Trecento
Foi o período em que se começou a romper com os modelos artísticos da Idade Média. Na pintura, destacou-se Giotto di Bondoni, que representava imagens sacras já com forte traço naturalista. Na literatura os maiores nomes foram Dante Alighieri (A Divina Comédia), Francesco Petrarca (Africa) e Giovani Boccaccio (Decameron). Os três usavam, em vez do latim, identificado com a cultura eclesiástica medieval, o toscano, dialeto que originou o atual italiano.
Quattrocento
Caracterizou-se por intensa produção artística e extrema evolução intelectual. Foi quando, graças ao financiamento dos mecenas, os artistas começaram a deixar de ser encarados como simples artesãos para se tornarem profissionais independentes. Entre os artistas que mais se destacaram no período estão Leonardo da Vinci e Sandro Botticelli (veja abaixo).
Cinquecento
No século XVI, Roma substituiu Florença como principal centro de arte na Itália, e a Igreja Católica tornou-se o grande mecenas o período. Michelangelo e Rafael Sanzio, dois dos maiores artistas plásticos do Cinquecento, produziram importantes obras para a Sé. Na literatura, destacam-se autores como Ariosto, Torquato Tasso e Maquiavel. Este último, o mais importante pensador político do período, é o autor de O Príncipe, ensaio sobre a arte de bem governar, que defende a falta de escrúpulos, o uso da força e a diminuição da atuação política da Igreja
Foi também no século XVI que viveram os grandes cientistas do Renascimento: o polonês Nicolau Copérnico, o alemão Johannes Kepler e os italianos Giordano Bruno e Galileu Galilei, todos astrônomos defensores da teoria heliocêntrica, que rompeu com a Igreja ao afirmar que o Sol, e não a Terra, seria o centro do Universo. Esses pensadores foram os primeiros a utilizar o método científico – série rigorosa de testes que pretende garantir a veracidade das teorias.
Difusão
Seguindo pelas rotas comerciais, o Renascimento chegou a outras partes da Europa. Os Países Baixos destacaram-se na pintura, com Brueghel e os irmãos Hubert e Jan van Eyck. Na Inglaterra surgiu outro expoente do humanismo, Thomas Morus (Utopia), e um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, William Shakespeare (Hamlet, Macbeth, Romeu e Julieta).
Entre os franceses, os mais notáveis foram os escritores Rabelais (Gargantua e Pantagruel) e Montaigne (Ensaios). A Península Ibérica não incorporou completamente os valores renascentistas, mas também produziu célebres escritores no período, como o português Luís de Camões (Os Lusíadas) e o espanhol Miguel de Cervantes (Dom Quixote).
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CRIADORES E CRIATURAS
Saiba mais sobre alguns dos maiores artistas italianos do Renascimento e entenda como suas obras expressam os valores do movimento:
MICHELANGELO BUONARROTI
Projetou a cúpula da Basílica de São Pedro e decorou a Capela Sistina (ambas no Vaticano) com algumas das mais conhecidas pinturas renascentistas, como A Criação de Adão. Mas foi na escultura que Michelangelo atingiu o auge. Davi, uma de suas principais criações, diz muito sobre o que foi o Renascimento: além de exibir contornos precisos, a imponente escultura de 5 metros exprime a força e a confiança do ser humano.
SANDRO BOTTICELLI
Assim como Michelangelo, Botticelli foi um dos artistas financiados pelos Médici e também participou da decoração da Capela Sistina. Parte de uma série de criações que representavam mitos greco-romanos, O Nascimento de Vênus é uma de suas telas mais famosas. Representa um rompimento com a tradição medieval, pois, em vez de retratar personagens estáticos, enfatiza a liberdade de movimentos do corpo, em perfeita sintonia com o dinamismo renascentista.
LEONARDO DA VINCI
Pintor, arquiteto, botânico, cartógrafo, engenheiro, escultor, físico, geólogo, químico e inventor, entre outras ocupações, Da Vinci era o típico humanista, adquirindo e produzindo conhecimento em diversas áreas. Como a famosa Mona Lisa, o Homem Vitruviano, uma de suas mais conhecidas obras, é um belo exemplar do espírito do Renascimento: trata-se de um estudo anatômico que busca representar com perfeição matemática a beleza e a simetria do corpo humano.