Literatura do Modernismo – Poesia: Como cai na prova
1. (UFAL 2014 ADAPTADA)
Onde nasci, morri
Onde morri, existo
E das peles que visto
muitas há que não vi.
Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.
Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,
eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui
mas não sou eu, nem isto.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sonetilho do Falso Fernando Pessoa. In Claro Enigma. ed. 10. Rio de Janeiro: Record, 2001.
O poema acima integra o livro Claro Enigma, de 1951, obra em que Carlos Drummond de Andrade opera uma mudança de direção em relação à sua trajetória poética anterior, mais ligada ao engajamento social, como se evidencia num livro como A Rosa do Povo. Diante disso, é correto afirmar que o autor:
a) Elabora uma rede intertextual com a obra de Fernando Pessoa, poeta representante da segunda geração romântica brasileira, ao fazer referência à “falsidade” da poesia, evidente no último verso.
b) Nega a estética do Modernismo, movimento a que se pode associar Drummond, ao fazer uso do soneto, uma forma poética fixa, muito comum em movimentos como o Barroco, Arcadismo e Romantismo.
c) Representa a dificuldade do homem moderno em se estabelecer enquanto uma unidade e o consequente estado de depressão que esse fato acarreta, evidenciado nos dois primeiros versos.
d) Dialoga, por meio de versos como “E das peles que visto/ muitas há que não vi”, com a heteronímia de Fernando Pessoa, fenômeno pelo qual o poeta português se multiplicava em outros poetas, cada um com personalidade diversa da dos outros.
e) Oferece uma visão poética das dificuldades de entendimento entre variantes da língua portuguesa, uma vez que Drummond é brasileiro e Fernando Pessoa, português.
2. (FUVEST 2015)
“Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se re- fere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte re- veladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.”
CANDIDO, Antonio. Dez livros para entender o Brasil. Teoria e debate. Ed. 45, 01/07/2000.
Constitui recurso estilístico do texto:
I. a combinação da variedade culta da língua escrita, que nele é predominante, com expressões mais comuns na língua oral;
II. a repetição de estruturas sintáticas, associada ao emprego de vocabulário corrente, com feição didática; III. o emprego dominante do jargão científico, associado à exploração intensiva da intertextualidade.
Está correto apenas o que se indica em:
a) I.
b) II.
c) I e II.
d) III.
e) I e III.
3. (UFES 2016) As frases a seguir compõem um fragmento de texto de Sírio Possenti e estão fora da ordem em que aparecem no texto original. Considerando as noções de coesão e coerência textual, organize-as de forma que o texto daí restante produza sentido.
– A trama é a seguinte: um repórter desempregado aceita emprego novo, responder à correspondência das leitoras de uma revista feminina.
Um tal Pedro Redgrave, no entanto, estabelece com ele uma correspondência mais sólida. Cartas e respostas se sucedem.
“Corações solitários” é um dos bons contos de Rubem Fonseca.”
Até que um dia o repórter descobre que Pedro Redgrave é de fato seu chefe. As razões pelas quais lhe escreve são ambíguas, e nisso reside o interesse principal do conto. Leiam. É ótimo.
Assina com nome feminino, para permitir a necessária confiança e dar credibilidade ao trabalho. Recebe cartas de todos os tipos – quer dizer, de pouquíssimos tipos, são as mesmas coisas de sempre – e dá respostas estereotipadas sobre como cuidar de filhos, de filhas, de ma- ridos, de amantes, da saúde etc.
4. (ITA 2013 ADAPTADA)
“Edison não conseguia se concentrar de jeito nenhum. Tinha sempre dois ou três empregos e passava o dia indo de um para outro. Adorava trocar mensagens, e se acostumou a escrever recados curtos e constantes, às vezes para mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Apesar de ser um cara mais inteligente do que a média, sofria quando precisava ler um livro inteiro. (…) Se identificou? Claro, quem não tem esses problemas? Passar horas no twitter ou no celular, correr de um lado para o outro e ter pouco tempo disponível para tantas coisas que você tem que fazer são dramas que todo mundo enfrenta. Mas esse não é um mal do nosso tempo. O rapaz da história aí em cima era ninguém menos que Thomas Edison, o inventor da lâmpada. A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um telégrafo. O relato (…) conta que quando Edison finalmente percebeu que seu problema era falta de concentração, parou tudo. Se fechou em seu escritório e se focou em um problema de cada vez. A partir daí, produziu e patenteou mais de 2 mil invenções. (…)”
Gisela Blanco. Superinteressante, julho/2012
O emprego da vírgula no trecho, “A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um telégrafo”, é semelhante em:
a) Para quem busca uma diversão na tarde de domingo, este filme é o mais recomendado.
b) Ainda que não sejam os de menor custo, os alimentos orgânicos são os mais indicados pelos nutricionistas.
c) O professor de desenho prefere os alunos criativos e o de lógica, os ousados na teoria.
d) Os testes de QI (Quociente de Inteligência), atualmente, são desacreditados por diversas correntes teóricas da Psicologia.
e) Pôr circuitos eletrônicos em envoltórios é uma prática comum, conhecida como encapsulamento.
Respostas
1. O poeta se multiplica, como podemos observar nos primeiros versos do texto ( “E das peles que visto…”) e ao longo do poema. E o diálogo com Dizem que finjo ou minto, de Fernando Pessoa é explícito: Dizem que finjo ou minto/ Tudo que escrevo. Não./ Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação./ Não uso o coração. Quanto às alternativas incorretas: a) Fernando Pessoa não é representante da segunda geração romântica; b) o Romantismo era marcado pela liberdade formal, não sendo comum o uso de sonetos; c) os primeiros versos não trazem traços de depressão, como afirmado na questão; e e) o poema não discute as diferentes variantes linguísticas e não explora o tema em nenhum momento.
Resposta: D
2. [I] Verdadeiro. Tanto o registro culto (por exemplo, “um compêndio de ginásio”) quanto o informal (“não passa de chuva no molhado”) estão presentes no trecho, apesar do predomínio do primeiro; [II] Verdadeiro. O paralelismo sintático (repetição de uma estrutura gramatical), de sentido didático, está presente em “Para quem (preposição + pronome relativo) pouco leu (verbo + advérbio) e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem (preposição + pronome relativo) sabe muito (verbo + advérbio), um livro importante não passa de chuva no molhado.” [III] Falso. Não há ocorrência de vocabulário científico ou presença intensiva de referências a textos exteriores ao escrito.
Resposta: C
3. A coesão é o mecanismo que articula os elementos linguísticos (palavras e frases) no texto. A coerência permite a organização das ideias no texto, de modo que ele faça sentido. Para resolver essa questão, você precisaria fazer diferentes tentativas de ordenar as informações. A ordem dos parágrafos seria a seguinte: terceiro, primeiro, quinto, segundo e quarto.
4. Na frase “A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um telégrafo”, a vírgula é utilizada para indicar a elipse (supressão) do verbo – no caso o verbo “era”. O mesmo acontece em “O professor de desenho prefere os alunos criativos e o de lógica, os ousados na teoria”, com a supressão do verbo “prefere”.
Resposta: C
Resumo
Literatura do Modernismo – Poesia
MODERNISMO EM PORTUGAL: Tem início em 1915, com o lançamento da revista Orpheu. O grande nome do movimento é o poeta Fernando Pessoa, criador de diversos heterônimos.
MODERNISMO NO BRASIL: A adoção da forma livre de construção dos versos e a reflexão crítica sobre a realidade brasileira marcam as obras dos modernistas da primeira geração, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
• Poetas singulares: Três nomes passaram pelo movimento em quase toda a sua extensão: Manuel Bandeira, cujos poemas abordam aspectos ligados à existência humana; Carlos Drummond de Andrade, que fez reflexões metalinguísticas da realidade estilhaçada do século XX; e Vinicius de Moraes, autor de sonetos sobre a temática amorosa. Além deles, vale destacar os seguintes poetas modernistas:
• Cecília Meireles: A autora de Romanceiro da Inconfidência destaca-se pelo fazer poético lírico e musical.
• João Cabral de Melo Neto: A racionalidade pode ser entrevista na meticulosidade dos detalhes com que constrói seus poemas.
GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO
• Coesão e coerência: Coesão é a articulação das palavras e frases que formam o texto, enquanto coerência é a articulação das ideias no texto, de modo a promover a continuidade do sentido.
• Linguagem coloquial: Usada no dia a dia, caracteriza-se pelo uso de gírias, expressões idiomáticas (sequências de palavras que não fazem sentido quando entendidas em seu significado literal) e marcas de oralidade (usos da língua comuns em conversas cotidianas, como a abreviação de verbos).
• Língua culta padrão: Usada em ocasiões formais e em textos escritos, caracteriza-se pela correção gramatical.
• Pontuação: A vírgula, além de ser empregada para demarcar pausas na leitura ou para separar elementos de uma sequência, pode alterar o sentido de um texto.
• Ambiguidade: É quando uma sentença permite mais de um sentido. Pode ser intencional, para criar um efeito de humor ou ironia. Ex.: O rapaz bateu no homem com a bengala (o homem que tinha a bengala ou a bengala como objeto para atacar o homem).
• Metalinguagem: É a função da linguagem que usa o código (a língua) como assunto ou explicação para o próprio código. Em Tecendo a Manhã, João Cabral compara a poesia a uma teia.