Literatura Medieval e Renascentista: Como cai na prova
1. (UNIFESP 2010) Leia o texto de Gil Vicente.
DIABO – Essa dama, é ela vossa?
FRADE – Por minha a tenho eu
e sempre a tive de meu.
DIABO – Fizeste bem, que é fermosa!
e não vos punham lá grosa
nesse convento santo?
FRADE – E eles fazem outro tanto!
DIABO – Que cousa tão preciosa!
No trecho da peça de Gil Vicente, fica evidente uma:
a) visão bastante crítica dos hábitos da sociedade da época. Está clara a censura à hipocrisia do religioso, que se aparta daquilo que prega.
b) concepção de sociedade decadente, mas que ainda guarda alguns valores essenciais, como é o caso da relação entre o frade e o catolicismo.
c) postura de repúdio à imoralidade da mulher que se põe a tentar o frade, que a ridiculariza em função de sua fé católica inabalável.
d) visão moralista da sociedade. Para ele, os valores deveriam ser resgatados e a presença do frade é um indicativo de apego à fé cristã.
e) crítica ao frade religioso que optou em vida por ter uma mulher, contrariando a fé cristã, o que, como ele afirma, não acontecia com os outros frades do convento.
2. (ENEM 2014) O exercício da crônica
“Escrever crônica é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de uma máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um assunto qualquer, de preferência colhido no noticiário ma- tutino, ou da véspera, em que, com suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.”
Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui:
a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista.
b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista.
c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica.
d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica.
e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica.
3. (ENEM 2015) Embalagens usadas e resíduos devem ser descartados adequadamente
“Todos os meses são recolhidas das rodovias brasileiras centenas de milhares de toneladas de lixo. Só nos 22,9 mil quilômetros das rodovias paulistas são 41,5 mil toneladas. O hábito de descartar embalagens, garrafas, papéis e bitucas de cigarro pelas rodovias persiste e tem aumentado nos últimos anos. O problema é que o lixo acumulado na rodovia, além de prejudicar o meio ambiente, pode impedir o escoamento da água, contribuir para as enchentes, provocar incêndios, atrapalhar o trânsito e até causar acidentes. Além dos perigos que o lixo representa para os motoristas, o material descartado poderia ser devolvido para a cadeia produtiva. Ou seja, o papel que está sobrando nas rodovias poderia ter melhor destino. Isso também vale para os plásticos inservíveis, que poderiam se transformar em sacos de lixo, baldes, cabides e até acessórios para os carros.”
Os gêneros textuais correspondem a certos padrões de composição de texto, determinados pelo contexto em que são produzidos, pelo público a que eles se destinam, por sua finalidade. Pela leitura do texto apresentado, reconhece-se que sua função é:
a) apresentar dados estatísticos sobre a reciclagem no país.
b) alertar sobre os riscos da falta de sustentabilidade do mercado de recicláveis.
c) divulgar a quantidade de produtos reciclados retirados das rodovias brasileiras.
d) revelar os altos índices de acidentes nas rodovias brasileiras poluídas nos últimos anos.
e) conscientizar sobre a necessidade de preservação ambiental e de segurança nas rodovias.
4. (ENEM 2015) Azeite de oliva e óleo de linhaça: uma dupla imbatível.
“Rico em gorduras do bem, ela combate a obesidade, dá um chega pra lá no diabete e ainda livra o coração de entraves
Ninguém precisa esquentar a cabeça caso não seja possível usar os dois óleos juntinhos, no mesmo dia. Individualmente, o duo também bate um bolão. Segundo um estudo recente do grupo EurOlive, forma- do por instituições de cinco países europeus, os polifenóis do azeite de oliva ajudam a frear a oxidação do colesterol LDL, considerado peri- goso. Quando isso ocorre, reduz-se o risco de placas de gordura na parede dos vasos, a temida aterosclerose – doença por trás de encrencas como o infarto. “
Para divulgar conhecimento de natureza científica para um público não especializado, Manarini recorre à associação entre vocabulário formal e vocabulário informal. Altera-se o grau de formalidade do segmento no texto, sem alterar o sentido da informação, com a substituição de:
a) “dá um chega pra lá no diabete” por “manda embora o diabete”.
b) “esquentar a cabeça” por “quebrar a cabeça”.
c) “bate um bolão” por “é um show”.
d) “juntinhos” por “misturadinhos”.
e) “por trás das encrencas” por “causadora de problemas”.
5. (UNICAMP 2010) Propaganda do dicionário Aurélio:
Nessa propaganda do dicionário Aurélio, a expressão “bom pra burro” é polissêmica, e remete a uma representação de dicionário. Explique como o uso da expressão “bom pra burro” produz humor nessa propaganda.
Respostas
1. O Auto da Barca do Inferno realiza, no contexto do Humanismo português, uma crítica às instituições sociais e religiosas. No fragmento, nota-se uma sátira à hipocrisia religiosa por meio da caracterização do Frade, um personagem materialista e mulherengo, pouco praticante dos valores cristãos. As características da personagem podem ser identificadas por meio das falas dele – como a referência feita à companhia feminina ou a sugestão dos outros pecados cometidos pelos religiosos do convento.
Resposta: A
2. Predomina a função metalinguística, uma vez que o autor constrói uma crônica para tratar da composição desse gênero textual, enfatizando as dificuldades envolvidas no processo de escrita. Ao resolver questões sobre as funções da linguagem, é importante identificar o elemento da comunicação priorizado: no caso, a ênfase recai sobre o próprio código (a crônica), o que permite associar o texto ao recurso da metalinguagem.
Resposta: E
3. O texto trata da quantidade de lixo descartado nas rodovias e chama atenção para o perigo de acidentes e para os danos causados ao meio ambiente. Ao tratar dos objetivos de composição dos textos, é fundamental ressaltar os principais argumentos e informações apresentados pelo autor para reconhecer corretamente a finalidade com que foram produzidos. No caso do texto em questão, nota-se que todos os recursos informativos e argumentativos têm como função garantir a conscientização dos leitores a respeito do problema do lixo.
Resposta: E
4. A única alteração que emprega a linguagem formal, sem utilizar marcas coloquiais ou alterar o sentido original da expressão popular, é “causadora de problemas”. A alternativa exemplifica uma troca possível entre uma construção coloquial e outra formal.
Resposta: E
5. Típica questão sobre polissemia. O humor é provocado pela duplicidade de sentido da expressão “bom pra burro”, que pode ser associada tanto a um produto de boa qualidade quanto ao direcionamento para pessoas pouco informadas (reforçando a expressão popular “pai dos burros”).
Resumo
Literatura Medieval e Renascentista
Trovadorismo, Humanismo e Classicismo são os principais movimentos literários que se desenvolveram no Ocidente durante a Idade Média (476 a 1453) e o Renascimento (séculos XIV ao XVI).
TROVADORISMO: Período que se inicia no século XII e se estende até o XV e reúne os primeiros registros poéticos da língua portuguesa.
• Cantiga: Há duas temáticas básicas: a lírica e a satírica.
Cantigas líricas: Tratam do sofrimento resultante de amores impossíveis. Dividem-se nas cantigas de amor e de amigo.
Cantigas satíricas: Expressam críticas a personalidades e autoridades. Contemplam as de escárnio e as de maldizer.
• Prosa: O principal gênero em prosa do período é a novela de cavalaria (uma longa narrativa protagonizada por heróis que se caracterizam por virtudes nobres e guerreiras).
HUMANISMO: Período de transição entre a decadência dos valores feudais da Idade Média e o surgimento do Renascimento.
• Gil Vicente: É o maior representante do período, em língua portuguesa, autor de Auto da Barca do Inferno, publicado em 1517. Na obra, os personagens estabelecem diálogos com o Anjo e o Diabo, dentro de uma visão de mundo cristã.
CLASSICISMO: Período literário que se desenvolve na Renascença, nos séculos XV e XVI. Tem influência do pensamento humanista e da valorização do antropocentrismo (o homem como o centro do universo) e do racionalismo (valorização da razão). Tanto nas composições líricas como nas epopeias há um resgate das formas e temas que vigoraram na Antiguidade clássica.
GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO
• Funções da linguagem Em toda comunicação, há uma carga de intencionalidade, que se relaciona às funções poética (ex: poesia), emotiva (cartas e artigos), referencial (textos jornalísticos e científicos) e apelativa (conselho, anúncio publicitário).
• Sentidos denotativo: e conotativo O primeiro diz respeito ao significado literal, dicionarizado (Chegou uma nova fera no zoológico; fera = animal), enquanto o segundo se refere à linguagem figurada (Meu pai ficou uma fera comigo; fera = bravo).
• Substantivo: É a palavra com que se denominam as coisas: ônibus, alegria, Brasil. Em relação ao sentido, há substantivos que ganham outro significado quando se altera o número (singular ou plural; ex: água e águas) e o gênero (masculino ou feminino; ex: a capital e o capital).
• Polissemia: Uma mesma palavra pode apresentar múltiplos sentidos. Ex: pena (parte do corpo das aves; dó; e pena judicial).