Que tal ler histórias em quadrinhos para estudar atualidades? Pode parecer contraintuitivo, mas é o que defende a quadrinista e ilustradora Helô D’Angelo, vencedora do Troféu HQ Mix 2022 na categoria web tiras. Ela tem lá os seus motivos. “Quadrinhos são uma forma democrática de guardar informações. Quando estamos estudando um texto escrito, é normal que muitas coisas acabem passando batidas. Mas quando as informações estão lá desenhadas, fica muito mais fácil de aprender conteúdos densos”, diz Helô.
Ela sabe do que está falando. Helô, além de quadrinista é jornalista – seus trabalhos incluem tiras e charges políticas sobre direitos humanos, cotidiano e saúde mental. São assuntos sérios, que exigem olhar crítico e pesquisa. Ela é autora dos livros “Pequeno manual de defesa pessoal”, “Nos olhos de quem vê“, e de “Isolamento“, que foi finalista do HQ Mix e do CCXP Awards em 2021. Seu novo trabalho pode ser visto aqui.
“Uma coisa que muita gente não sabe é que os quadrinistas costumam ser muito cuidadosos com as informações que colocam em seus livros, porque dá muito trabalho fazer uma HQ. Quando estamos falando de obras sérias, pode-se ter certeza de que cada informação que está lá desenhada foi checada, porque o autor passa tanto tempo trabalhando nela que vai evitar erros ao máximo”, diz.
Para facilitar na hora dos estudos, o GUIA DO ESTUDANTE pediu indicações de HQs que ajudem a entender o mundo. Confira a lista da Helô:
1) “Angola Janga” – Marcelo D’Salete
“Angola Janga” é o nome dado a Palmares, o quilombo mais famoso da história do Brasil. Essa HQ, vencedora do prêmio Jabuti de melhor quadrinho de 2018, é um mergulho na cidade fundada no século XVII por pessoas escravizadas fugidas – e nas lutas que travaram contra o governo oficial para continuar existindo. “O Marcelo D’Salete é um pesquisador fantástico, porque ele vai na contramão da história oficial para desenhar essa narrativa de forma embasada, mas também preenchendo lacunas. É um livro ótimo para repensarmos a história do Brasil, e a forma como ela é contada para nós”, diz Helô.
2) “Persépolis” – Marjane Satrapi
Uma das HQs mais famosas do mundo, “Persépolis” conta a história da própria autora, Marjane Satrapi, em meio à revolução iraniana – o golpe de estado que transformou o Irã de um estado laico em uma monarquia teocrática. A autora traz o ponto de vista de uma menina criada em uma família moderna, politizada, que de repente precisa se adaptar a um ambiente conservador. “Apesar de tratar de um tema pesado, a autora tem uma narrativa irônica e bem-humorada que deixa a leitura agradável. É uma boa forma de conhecer a realidade de um mundo tão distante do nosso”, diz a quadrinista.
3) “O chinês americano” – Gene Luen Yang
Essa HQ foge do padrão autobiográfico tradicional, porque mistura três narrativas distintas: 1) a vida de um menino sino-americano (o chinês americano do título) lidando diariamente com o racismo não-óbvio que existe contra pessoas amarelas 2) uma sitcom que retrata um menino branco e seu primo chinês que é o estereótipo negativo dos orientais nos EUA: “anti-higiênico, não-civilizado, rude” e 3) uma saga de super-herói que reinventa uma tradicional lenda chinesa. Apesar da proposta ambiciosa (ou justamente por causa dela), essa HQ foi a primeira a ser indicada ao Nacional Book Award, um dos mais prestigiosos prêmios literários do mundo. É uma história cotidiana, sobre preconceito, racismo internalizado, e (não-)pertencimento. “Gene Luen Yang retrata tudo isso de uma forma dura, mas muito delicada. Você se coloca no lugar desse menino, e passa a enxergar o mundo pelos seus olhos”, diz Helô D’Angelo.
4) “O melhor que podíamos fazer” – Thi Bui
Outra obra autobiográfica, “O melhor que podíamos fazer” traz mais um assunto sério para os quadrinhos: a vida íntima dos refugiados de guerra. Thi Bui conta a história da própria família, que fugiu do extinto Vietnã do Sul quando ela era criança para tentar uma vida melhor nos Estados Unidos. Na obra, a autora mistura uma densa pesquisa histórica com os relatos de familiares e amigos. É uma obra que lida com traumas, mas que consegue ser sensível e delicada ao mesmo tempo.
5) “Notas sobre Gaza” – Joe Sacco
“Qualquer um dos livros do Joe Sacco poderia estar nessa lista, mas escolhi esse porque ele tem uma leitura fácil. ‘Notas sobre Gaza’ conta histórias e retrata pessoas que moram na Faixa de Gaza, um dos lugares mais conflituosos do mundo. Além de ser um trabalho incrível de apuração, é também um retrato preciso, porque o autor tem um desenho muito detalhado. É como se você estivesse lá”, diz Helô. De fato, além de quadrinista, Joe Sacco é jornalista, especializado em conflitos no Oriente Médio. Este quadrinho serve como uma bela introdução ao assunto, pela riqueza de detalhes e experiências.
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