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“A criação de Adão”: entenda a obra de Michelangelo

A famosa cena de Deus dando vida ao ser humano faz parte de uma das maiores obras concebidas e executadas por um único homem

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 18 mar 2023, 00h41 - Publicado em 17 mar 2023, 11h14
Adão
 (Michelangelo/Wikimedia Commons)
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Em 10 de maio de 1508 o pintor florentino Michelangelo Buonarroti (1475-1564) assinou, com o papa Júlio 2º, o contrato para a pintura do teto da Capela Sistina, no Palácio do Vaticano, em Roma. O artista aceitara o trabalho, que lhe consumiria quatro anos, depois de muita relutância, pois se considerava essencialmente um escultor, não um pintor.

O projeto monumental, do próprio Michelangelo, é uma das maiores obras artísticas concebidas e executadas por um único homem. Durante quatro anos, Michelangelo pintou um espaço equivalente a 900 metros quadrados, onde foram retratadas 343 figuras principais, fora os inúmeros personagens secundários de suas representações do Gênesis.

Em nove cenas, Michelangelo retrata episódios marcantes do Velho Testamento, como a criação do mundo e do homem, a descoberta do pecado, a expulsão do paraíso e o dilúvio universal. Na curva das paredes laterais, estão retratados sete profetas hebraicos e cinco sibilas (profetisas da mitologia grega) que previram a vinda de Cristo. Nos quatro cantos, o artista representou, ainda, outras passagens bíblicas, como a história de David e Golias.

“A Criação do Homem”, também conhecido como “A Criação de Adão” é, sem dúvida, o mais famoso dos afrescos. Nela está Adão preso à terra, enquanto a figura de Deus, em forma humana, se precipita pelos céus para tocá-lo nos dedos. Sob a proteção do braço esquerdo de Deus, ainda por a nascer, está Eva.

Há registros de que a inspiração de Michelangelo para o quadro seria o hino latino Veni Criator Spiritus, no qual Deus devolve a coragem aos fracos apenas com o toque de seus dedos. “A Criação do Homem não mostra a criação física de Adão, mas a transmissão da centelha divina, a alma, obtendo, assim, uma dramática justaposição de Homem e de Deus que jamais foi obtida por nenhum outro artista”, analisa o historiador da arte H. W. Janson.

A figura de Adão é uma bela representante de um dos nus masculinos clássicos de Michelangelo. A representação da anatomia masculina foi uma obsessão para o artista e era considerada o seu ideal de beleza, usada inclusive como molde para as figuras femininas. O modelo utilizado pelo pintor nessas representações é o Torso Belvedere, uma escultura do romano Apolônio que fazia parte da coleção pessoal do papa Júlio 2º. A admiração do artista pela obra era tanta que declarou: “É o trabalho de um homem que sabia mais que a natureza”.

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Antes de iniciar a pintura da superfície do teto, Michelangelo afixava seus esboços “desenhados em enormes folhas de papel em tamanho natural ” sobre a camada ainda fresca de gesso. Os contornos das figuras eram, então, feitos com estiletes de ferro, o que deixa no gesso as linhas precisas para serem pintadas. O artista pincelava tudo rapidamente após o contorno, ainda sobre o gesso úmido, para que as tintas aderissem mais ao suporte.

Michelangelo pintava sempre em pé sobre um andaime. O esforço foi tamanho que, segundo conta o historiador da arte renascentista Giorgio Vasari, ele se queixava constantemente de que o trabalho o estava deixando corcunda e deformado. Seus olhos também saíram prejudicados depois de anos expostos aos respingos de tinta.

O próprio Michelangelo escreveu um poema satírico sobre seu desgaste na Capela Sistina. Alguns versos dão conta do efeito físico da obra sobre seu corpo: “Minha barriga empinada à força para perto do meu queixo/ Consigo sentir o fundo do meu cérebro/ Os rins já penetram em minha pança/ Minhas nádegas já são ancas, como contrapeso”.

O teto foi finalizado em 31 de outubro de 1512, considerado imediatamente uma obra-prima suprema das artes pictóricas. Michelangelo tinha 37 anos e recebeu o título de maior artista de seu tempo.

A Criação de Adão / Michelangelo

Técnica – Afresco

Tamanho – 280 x 570 cm

Local – Capela Sistina, Cidade do Vaticano (Vaticano)

Esse texto faz parte do especial “100 Obras Essenciais da Pintura Mundial”, publicado em 2008 pela revista Bravo!

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