Além do Brasil: filmes em Língua Portuguesa de países lusófonos
Brasil é o maior produtor de filmes em português do mundo, mas outros países como Moçambique e Cabo Verde também se destacam na indústria
Uma das marcas mais significativas que um país colonizador deixa em sua colônia é o idioma. Por mais que crioulos, dialetos locais e outras derivações aconteçam, essa é a língua que geralmente prevalece – ao menos como oficial. É o caso do Brasil. Uma vez que fomos colonizados por Portugal, a Língua Portuguesa é o idioma oficial do país. Mas brasileiros e portugueses não são os únicos no mundo que partilham dela.
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste são todos países também colonizados por Portugal e falantes do idioma.
Ao somar a população de todos esses países, encontramos cerca de 280 milhões de falantes de português, número que torna a nossa língua a quinta mais falada do mundo. Grande parte disso se deve ao próprio Brasil, já que são 212 milhões de brasileiros se comunicando pelo idioma. Não à toa, o Brasil carrega alguns recordes entre os nove países: somos, por exemplo, o maior produtor de conteúdo audiovisual em português de todo o planeta.
O cinema lusófono, porém, não se resume aos filmes brasileiros.
Na lista abaixo, conheça 3 filmes de países que falam a Língua Portuguesa.
1. Ar Condicionado (Angola, 2020)
Angola é conhecido por ser o primeiro país africano lusófono a fazer um longa metragem: Sambizanga (1972), da diretora Sarah Maldoror. O filme é considerado um clássico e conta a história de um ativista angolano que é preso pela polícia secreta portuguesa durante o período da Guerra de Independência de Angola. Outros filmes como Cidade Vazia (2004), O Herói (2004) e Por Aqui Tudo Bem (2013) retratam o período e as suas cicatrizes na sociedade angolana.
Um fenômeno acompanhado pela indústria cinematográfica do país é a ascensão da Geração 80. É como são chamados os profissionais do audiovisual que nasceram durante ou logo depois dos anos da guerra e possuem uma visão própria sobre a Angola independente e globalizada. Um fruto recente dessa geração, elogiado pela crítica, é o filme Ar Condicionado (2020), do diretor Fradique, disponível no Mubi.
A história, que tem um quê de ficção científica e realismo mágico, faz uma crítica às estruturas das classes sociais do país, além de apresentar a relação do homem com a tecnologia e a cidade.
Sinopse: “Quando aparelhos de ar condicionado começam a cair misteriosamente dos apartamentos de Luanda, capital de Angola, Matacedo e Zezinha, um vigia e uma empregada doméstica, têm a missão de recuperar o aparelho do chefe. Primeiro longa metragem do cofundador da Geração 80, conceituada casa de produção angolana, Ar Condicionado mistura realismo mágico e crítica social nesta narrativa que nos fala de como vivemos em conjunto nas esperanças verticais, no coração de uma cidade que é passado-presente-futuro.”
Onde assistir: Mubi.
2. Ilhéu de Contenda (Cabo Verde, 1995)
Um dos diretores mais famosos do cinema cabo-verdiano é Pedro Costa, um português que retrata em boa parte de suas obras a relação entre Cabo-Verde e Portugal. O filme Casa de Lava (1994), assim como muitos do cinema cabo-verdiano, flerta com o gênero de documentário e filme etnográfico. Na obra, é apresentada uma enfermeira portuguesa que vai até Cabo-Verde para acompanhar um paciente em coma.
A relação com diretores e artistas portugueses é bem frequente no cinema cabo-verdiano. Mais recentemente, um filme fruto dessa parceria que chamou atenção é Djon África (2018), que conta a jornada de um jovem que decide investigar o passado de sua família em Cabo-Verde.
Mas para aqueles que procuram um filme cabo-verdiano de um diretor natural do país, a pedida é o clássico Ilhéu de Contenda (1995), do diretor Leão Lopes, que retrata um ponto de encontro entre a cultura portuguesa e africana. Disponível no YouTube.
Sinopse: “Sob a grandeza do vulcão, a sociedade tradicional transforma-se. A velha aristocracia, detentora da terra, assim como do comércio, base do poder, começa a desagregar-se. Aparece uma classe de mulatos cujo poder econômico assenta sobretudo no comércio. Lentamente nasce uma nova identidade, uma mistura do velho com o novo, da cultura africana com a portuguesa, de uma intensa sensualidade e de um profundo amor pela terra.”
Onde assistir: YouTube
3. Resgate (Moçambique, 2019)
Uma das primeiras medidas tomadas pelo presidente de Moçambique, Samora Machel, logo após a independência do país foi fundar o Instituto Nacional do Cinema (INC). O objetivo era produzir mais filmes nacionais, já que até então Moçambique só assistia obras de outros países. O primeiro longa-metragem de ficção moçambicano é o drama O Tempo dos Leopardos (1985), clássico feito em parceria com a Iugoslávia, e que retrata a relação entre um revolucionário e um militar colonialista.
De lá para cá, grandes filmes marcaram a cinematografia do país africano, como Virgem Margarida (2012), baseado na história verídica de um grupo de prostitutas que foi enviado a um coletivo de reeducação, e Terra Sonâmbula (2007), adaptação do livro de Mia Couto (cobrado aqui no Brasil no vestibular da Fuvest).
Um sucesso recente é o longa Resgate (2019), do diretor Mickey Fonseca. O filme foi o primeiro do país a estrear na plataforma de streaming Netflix, e conta a história de um jovem que é forçado a entrar no mundo do crime.
Sinopse: “Resgate centra-se na história de Bruno, que quer mudar de vida depois de ter passado quatro anos na prisão e conhecer finalmente a filha bebê que partilha com Mia. Tenta encontrar, primeiro sem sucesso, um trabalho como mecânico, a profissão em que se especializou. A tia, irmã da sua recém-falecida mãe, arranja-lhe um emprego numa garagem. Mas este novo plano de vida cai por terra quando, sem aviso, o banco ameaça despejá-lo da casa da mãe se não pagar o empréstimo, por ele desconhecido, que ela contraiu antes de morrer. E é aí que Bruno volta ao mundo do crime.”
Onde assistir: Netflix
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