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Filme “A Substância” vai te deixar com nojo e pode ser citado no Enem

Longa com Demi Moore escancara etarismo, pressão estética e machismo de Hollywood

Por Luccas Diaz
26 set 2024, 10h00
Cena do filme "A Substância", de 2024
Filme do gênero body-horror é prato cheio para repertório de discussões contemporâneas  (MUBI/Divulgação)

“A Substância” (2024) é um filme para os de estômago forte. Do gênero body-horror, o que não faltam são tripas, vísceras, mutilações e deformações grotescas. Se isso não te intimida, chegue mais: a obra é um excelente repertório para a redação do vestibular, incluindo a do Enem. Embalados em uma narrativa à la “O Retrato de Dorian Gray, o espectador pode esperar pontos de reflexão que tocam em discussões pertinentes para as provas, como etarismo, misoginia, padrões de beleza e procedimentos estéticos – sem, claro, abrir mão dos aspectos de um filme de terror. É daquelas histórias que ficam na cabeça e você definitivamente não esqueceria na hora de citar na redação.

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Em “A Substância”, Demi Moore, 61, interpreta Elisabeth Sparkle, uma premiada atriz que estrela um programa de televisão fitness, desses de se acompanhar dançando e se exercitando. A história começa com a artista – que, ainda que famosa e bem-sucedida, não consegue replicar o sucesso do passado –, completando 50 anos. No mesmo dia de seu aniversário, recebe a notícia de que será demitida.

O chefe da emissora em que trabalha lhe explica que a medida é puramente técnica: os espectadores esperam algo novo, o que aos 50 anos ela não seria capaz de entregar.

Devastada, a atriz passa a questionar a própria imagem perante o espelho. Não enxerga mais a mulher que foi no passado um tipo de angústia que parece atingir com ainda mais força as mulheres que trabalham na mídia. É aí que conhece um misterioso procedimento estético que circula no mercado ilegal. Trata-se de um medicamento capaz de criar uma nova versão sua: um corpo mais jovem, bonito e perfeito. É a Substância.

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O elixir, mistura de milagre com ficção científica, só tem uma regra: o usuário deve respeitar um rodízio de sete dias com o seu corpo antigo. Isto é, passa sete dias com o seu corpo original, e sete dias com o corpo criado, sem exceções. “Lembre-se: vocês são um só”, alerta a embalagem.

Cética, mas cega pela repulsa à própria imagem, ela injeta o medicamento em si. Em uma cena angustiante, Elisabeth “dá à luz” a sua nova versão: uma mulher na casa dos vinte anos, que rompe de suas costas. A partir desse momento, é no corpo novo que reside a consciência de Elisabeth, enquanto o original se mantém desacordado no chão. Um soro alimentício injetado na veia o conserva saudável e estável durante o período do rodízio.

A nova Elisabeth, que se apresenta como Sue no corpo criado, costura as costas do antigo e sai para a vida.

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Filme escancara etarismo

As atrizes Demi Moore e Margaret Qualley em cena de
Elisabeth e Sue: dois corpos para a mesma mulher (MUBI/Reprodução)
Atenção!

O texto abaixo contém spoilers do filme “A Substância” (2024)

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Passada a adaptação inicial, a atriz começa a aproveitar todos os benefícios que a levaram a injetar a substância. Durante os sete dias no corpo criado, experimenta tudo aquilo que, em tese, só a juventude pode oferecer. Por onde passa, é alvo de desejos, gentilezas e flertes. Mais relevante do que tudo isso, ela busca “de volta” o emprego que lhe haviam tirado: no corpo criado, é contratada pela mesma emissora que lhe demitiu.

À frente de um programa idêntico ao anterior, Sue não demora para se tornar um fenômeno. A beleza extraordinária, somada ao talento e carisma “natos”, lhe transformam rapidamente na garota do momento. É nos dias que retorna ao corpo original, porém, que a vida dos sonhos é interrompida.

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Elisabeth, a original, passa a viver o intervalo do rodízio de forma isolada, ansiosa, apenas aguardando o momento de trocar de corpo novamente. O corpo criado é mantido dentro de casa, escondido – como se fosse uma roupa que logo mais será vestida. Quanto mais passa a viver o rodízio da substância, mais vergonha e repulsa sente pelo corpo original.

Em poucas semanas, é como se toda a autoestima e valor que Elisabeth tivesse construído ao longo da vida, desaparecesse. É somente como Sue que ela se sente feliz, desejada e válida. Não só do ponto de vista dela, mas, aparentemente, do mundo também – ou, melhor, dos homens.

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Em certa cena, Elisabeth esbarra com um rapaz que havia transado com corpo de Sue, na semana anterior. Ao contrário das gentilezas e carícias destinadas ao corpo jovial, recebe do rapaz rispidez e impaciência. Em outra, vê um vizinho enraivecido e prestes a reclamar do barulho, mudar de expressão rapidamente ao ver que quem atendeu a porta é Sue, e não Elisabeth. O homem desiste da reclamação e se insinua sexualmente para a garota.

“Male gaze”: o olhar masculino

Cena do filme
Executivos da emissora representam a crueldade do olhar masculino perante o envelhecimento feminino (MUBI/Divulgação)

Críticos de cinema têm chamado “A Substância” de um “body-horror feminista”. Uma guinada no gênero, que, historicamente, utiliza do corpo feminino como objeto. Mas não se engane: o que não falta no longa é objetificação do corpo de Elisabeth e Sue – no primeiro, repulsivas, no segundo, desejosas. É como se o filme, ainda que dirigido e estrelado por mulheres, fosse desenvolvido pela ótica do “male gaze”.

O termo em inglês, que pode ser traduzido como “olhar masculino”, representa um conceito difundido na teoria feminista que diz respeito à forma como a cultura visual, especialmente filmes e outras mídias, retrata mulheres a partir da perspectiva masculina heterossexual. O corpo feminino é objetificado e colocado como um item moldado para agradar o olhar masculino.

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Quando envelhecido, no entanto, esse corpo deixa de ser desejável, atraente e, por consequência, se torna vil e repulsivo. Da bruxa da Branca de Neve até Pearl da trilogia X (“X”, “Pearl” e “MaXXXine”), o corpo da mulher quando velho é representando como assustador e nojento. Essa visão, que durante tanto tempo foi predominnate na indústria, molda a representação das mulheres nessas mídias, reforçando papéis de gênero e dinâmicas de poder em que mulheres são passivas e/ou erotizadas.

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Demi Moore, sempre aclamada por sua beleza, está na indústria do cinema há mais de 40 anos: não há dúvidas de que ela sabe exatamente do que o filme está falando.

Procedimentos estéticos invasivos e a ditadura da juventude

Cena do filme
(MUBI/Divulgação)

É também da Demi Moore a fama de realizar procedimentos estéticos em excesso. A atriz, que andava sumida nos últimos anos, passou por cirurgias e intervenções plásticas que foram apontadas pela imprensa como desastrosas. Não era raro encontrar a foto da atriz em matérias que listavam celebridades que “pesaram a mão” nos procedimentos.

Ninguém pode ler a mente de Demi Moore, claro, mas não é difícil imaginar o que incentivou a atriz a buscar essas intervenções. A mesma sociedade que incentiva a ditadura da juventude, é também a que condena quando um procedimento não sai como o esperado. É essa cultura que “A Substância” representa satiricamente.

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Da metade para o final do filme, o rodízio entre os dois corpos começa a falhar, e, evidentemente, o preço pela brincadeira vai se escalando absurdamente.

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Nos minutos finais, Elisabeth e Sue se morfam em uma figura monstruosa e deformada. Como um grito de raiva, Elisabeth parece finalmente perceber o valor que tinha antes de tudo acontecer: se tornando uma aberração grotesca, veste um vestido azul à la Cinderela e invade uma gravação ao vivo. Ela é atacada e desfigurada pelos homens presentes, que cortam sua cabeça – somente para crescer outra mais deformada ainda no lugar.

A catarse é literal: em uma explosão de sangue e tripas, Elisabeth/Sue vão se desfazendo. Na última cena, a atriz é reduzida a um pequeno poço líquido, até secar e desaparecer.

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