“No Salão da Rue des Moulins”: entenda a obra de Toulouse-Lautrec
Traços rápidos e retrato sem glamour caracterizam obra que busca representar o artificialismo de uma época impregnada de tédio
Com cara de tédio, certo ar resignado e felicidade limítrofe, as prostitutas aguardam seus clientes na tela “No Salão da Rue des Moulins” de 1894. O retrato é mais psicológico do que fiel à aparência desse mundo. Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) fez questão de despir a boemia de todo traço de glamour, preferindo uma radiografia publicitária à afetação.
Contemporâneo de Edgard Degas e suas bailarinas, o artista também viveu nos estertores do impressionismo. Toulouse-Lautrec afirmou-se como pioneiro dos affiches, os manifestos publicitários que ilustravam a boemia para atiçar a cupidez do observador.
Por causa de uma doença degenerativa, o artista nunca se recuperou da fratura das pernas que sofrera na adolescência: só a parte de cima de seu corpo se desenvolveu, enquanto os membros inferiores ficaram atrofiados. Foi a arte que o levou para mais perto do mundo da luxúria da qual ele parecia ser excluído.
Ao passar a maior parte do tempo em prostíbulos, acabou sendo incorporado à rotina das damas da noite. Chegou a morar em salões como esse que retratou, tornando-se confidente das modelos e retratista de suas relações íntimas. Sua preferida era Rosa la Rouge, a ruiva de quem teria contraído a sífilis que, com as complicações do alcoolismo, o mataria. Não causa surpresa, portanto, que sejam quase todas ruivas as meninas do salão da rue des Moulins.
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Sua arte é menos pintura do que reportagem: a imagem não é uma coisa imóvel, mas um tema rítmico que se transmite ao espectador. Talvez por isso, a obra gráfica de Toulouse-Lautrec encontre correspondente literário fácil nos romances de Guy de Maupassant (1850-1893) e sua Paris burguesa, corroída de falsidades e, ao mesmo tempo, deslumbrante: a metrópole dos cabarés, dos shows de variedades, dos bordéis.
Em Toulouse-Lautrec se conhece o primeiro exemplo de artista para quem uma obra não tinha valor em si, mas em seu conjunto, em toda a série ininterrupta de pinturas, gravuras, desenhos e cadernos de esboço. Na técnica, essa ideia se traduz no traço rápido que substitui a pincelada impressionista.
Mesmo quando usa tinta, como em “No Salão da Rue des Moulins”, consegue transformar as densas manchas de cor dos impressionistas em traços de colorido forte e individuado, como observou, ele também, nas gravuras japonesas que inundavam a Europa naquela época.
No Salão da Rue des Moulins, Henri de Toulouse-Lautrec
Técnica – Giz preto e óleo sobre tela
Tamanho – 115,5 x 132,5 cm
Local – Museu Touluse-Lautrec, Albi (França)
Esse texto faz parte do especial “100 Obras Essenciais da Pintura Mundial”, publicado em 2008 pela revista Bravo!
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